Mordaça

Quem controla a mídia controla a opinião pública. Não é preciso "inventar notícias falsas" (embora o nível esteja tão baixo ao ponto de eventualmente fazerem isto); basta selecionar o que será noticiado e o que não será noticiado, criar falso consenso ao não dar espaço para vozes contraditórias, tirar as coisas do contexto, inverter causa e efeito e obliterar o senso das proporções. Por exemplo: O número de homicídios no Brasil em apenas um ano aproxima-se ao total de americanos mortos em VINTE ANOS de Guerra do Vietnã. Ou seja, civis brasileiros em tempos de paz morrem mais num ano do que militares americanos em tempos de guerra. No entanto, não vemos nenhuma comoção nacional nem internacional por conta disso. Não há filmes, músicas, campanhas de conscientização, manifestações, shows beneficentes pela paz no Brasil nem nada do tipo. O lobby contra a Guerra do Vietnã (que culminou com a retirada das tropas e com a consequente invasão e dominação do sudeste asiático pelo movimento comunista internacional) foi tão grande que até uma banda de rock brasileira, que não tem nada a ver com a estória, fez musiquinha de manifesto. Enquanto isto, nossa própria "guerra" diária passa desapercebida sem nenhuma sensibilidade social, simplesmente porque não há propaganda o suficiente; não há jornais, revistas, emissoras de TV nem celebridades batendo nesta tecla noite e dia cobrando "conscientização pública", não há marcadores de mortes por latrocínio diariamente nos telejornais e não há convocação para luta contra o narcotráfico. Pelo contrário! A "guerra às drogas" é condenada, e quando o assunto é abordado, é para culpar a polícia através de falácias como a de que o maior número de mortes se dá em confrontos com policiais, quando na verdade o maior número de mortes se dá em confrontos entre facções criminosas por disputas de território. Notem, então, como uma guerra no sudeste asiático, do outro lado do mundo, pôde se tornar uma realidade palpável para todos nós ao ponto de mexer com nossa sensibilidade; isto se deu através de um imenso trabalho de propaganda. Já a guerra que realmente vivemos, diariamente, debaixo do nosso nariz, acontece de forma silenciosa, praticamente imperceptível (exceto para as vítimas); abafada que é por uma espiral de silêncio midiática. (RM)

Gary Burton
Enviado por Gary Burton em 24/01/2021
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