Revisionismo
Revisionismo
Por Félix Maier
A revisão histórica é benéfica, desde que os críticos se atenham a critérios científicos tão ou até mais rigorosos do que aqueles que nortearam a história original.
“Em nossa infância... a história era um monte de informações. Você aprendia de uma maneira organizada, em série - muitas vezes ao longo de uma linha cronológica do tempo. O objetivo desse exercício era fornecer às crianças um mapa mental - estendido para trás ao longo do tempo - do mundo em que habitavam. Aqueles que insistiam em que essa abordagem era acrítica não estavam errados. Mas revelou-se um grave erro substituir a história carregada de dados pela intuição de que o passado foi um conjunto de mentiras e preconceitos que precisam ser corrigidos: preconceitos em favor de povos e homens brancos, mentiras sobre o capitalismo ou o colonialismo, ou o que quer que seja” (JUDT, 2014: 284).
“História e memória são filhas diferentes, mas do mesmo pai - portanto, se odeiam e ao mesmo tempo têm em comum apenas o suficiente para ser inseparáveis. Além disso, são obrigadas a disputar uma herança que não podem abandonar, nem dividir. A memória é mais jovem e mais atraente, muito mais disposta a ser seduzida - e portanto faz muito mais amigos. A história é a irmã mais velha: um pouco emaciada, simples e séria, disposta a se retirar em vez de se envolver em conversa fiada. Desta forma, ela é uma solitária política - um livro deixado na prateleira” (idem, pg. 295).
Como exemplos de revisionismo, temos: revisionismo soviético (em que antigos heróis, caídos em desgraça, eram riscados de enciclopédias, ou que tinham suas imagens “apagadas” em fotos oficiais); revisionismo do Holocausto (em que escritores colocam em dúvida o número de vítimas do Holocausto judeu promovido pelos nazistas - a exemplo de S. E. Castan em seu livro Holocausto Judeu ou Alemão?, pelo qual foi condenado pelo STF); revisionismo da esquerda brasileira: a história recente do Brasil é descrita sob a ótica da dialética comunista, em que prevalece a aplicação do materialismo histórico marxista, hegemônico no atual ensino brasileiro, em que não há nenhum estudo sério sobre o assunto, apenas panfletagem e pura molecagem, a exemplo da obra Outros 500, escrita por “intelectuais orgânicos” do PT e “libélulas” satélites.
O objetivo é um só: solapar os fundamentos morais do país, ao mesmo tempo em que prega as excelências da Revolução Cubana e o valor das FARC.
Assim, não causa estranheza que o Dia da Pátria seja substituído pelo “dia dos excluídos”, que Lamarca seja apresentado como herói e o Duque de Caxias seja revisto como genocida dos paraguaios. A verdade histórica, porém, é cristalina: Lamarca foi um desertor do Exército, ladrão de armamentos e terrorista assassino.
A Guerra do Paraguai só tem uma história: o Brasil, com 15.000 homens armados às pressas, teve que se defender da agressão de Solano López, à frente de um exército de 64.000 homens, que aprisionou um navio brasileiro (em que viajava o Presidente da Província de Mato Grosso), invadiu Mato Grosso, ocupando parte desse território por três anos, violou o território da Argentina e chegou a conquistar Uruguaiana.
É comum entre esquerdistas realizar o revisionismo da História, de modo que ela fique igual à sua cara, a cara da mentira. O "historiador" José Chiavenato, com seu livro Genocídio americano: a guerra do Paraguai, tenta classificar Caxias e o Conde D'Eu como combatentes monstruosos. “Historiadores militares de gabarito assinalaram, nessa obra de Chiavenato, mais de 30 erros históricos comprovados e outras tantas distorções da verdade comprovando o relativismo e o absolutismo com que o autor manipulou a história” (PEDROSA: 2008, 69).
O Brasil, no início de Guerra do Paraguai, era um "império desarmado". “A proposta liberal de Adam Smith em A Riqueza das Nações, em moda durante a segunda metade do século XIX, induzira no Brasil um certo descuido com o exército profissional, embora o famoso pensador sempre propugnasse por uma força militar organizada para fundamentar e garantir o progresso e a segurança da nação” (PEDROSA, 2004: 209 - capítulo “Império Desarmado”). O revisionismo atual, de professores marxistas nas escolas brasileiras, afirma que o Brasil e a Argentina estiveram a serviço do imperialismo inglês, invadindo o Paraguai e esmagando o país mais “progressista” da América do Sul: “Interessava à Inglaterra a formação de um amplo mercado consumidor, principalmente de produtos manufaturados’, pontifica o livro História e Vida, de Nelson Piletti e Claudino Piletti” (NARLOCH, 2009: 104).
O livro Nova História Crítica, para a 7ª. série, de Mário Schmidt, afirma que os ingleses foram contra a escravidão, não por questões humanitárias, mas por interesses econômicos. Na verdade, “o movimento abolicionista inglês teve uma origem muito mais ideológica que econômica. Organizado em 1787 por 22 religiosos ingleses, foi um dos primeiros movimentos populares bem-sucedidos da história moderna, um molde para as lutas sociais do século 19” (idem, pg. 104) Segundo Schmidt, “a princesa Isabel é uma mulher feia como a peste e estúpida como uma leguminosa” (idem, pg. 104). Para o "linguista de pau" (langue de bois), bonito talvez seja Zumbi dos Palmares, que tinha uma penca de escravos.
A Princesa Isabel foi substituída, em sua importância histórica, por Zumbi dos Palmares. Outro importante inimigo da Princesa foram as lojas maçônicas, como a “Vigilância e Fé”, de São Borja, RS: “A Maçonaria que se levante, opondo-se firmemente, no caso fatal da morte do imperador, embora violentos, a coroação da princesa. O povo que se governe e a Maçonaria que intervenha para a fundação de um governo livre e moralizado” (Cit. por GOMES, 2013: 232).
Porém, o maior inimigo de Isabel foram os barões do café, que perderam a mão-de-obra escrava e se tornaram defensores da república. Isabel era acusada de carola e foi acusada de se subordinar ao Papa Leão XIII depois de receber a honraria Rosa de Ouro, em reconhecimento à assinatura da Lei Áurea. Diziam os republicanos – que queriam a separação da Igreja Católica do Estado - que o futuro monarca, de fato, seria o Conde d’Eu, marido de Isabel, “um príncipe estrangeiro” (cfr. pg. 235).
E havia um problema insolúvel para um país de machos: Isabel era uma mulher numa época em que a mulher não podia votar, não podia estudar e a principal função era gerar e educar os filhos.
A mulher passaria a ter direito ao voto somente em 1932, durante o Governo Getúlio Vargas - mas com restrições, como ser casada e ter a autorização do marido.
O historiador Francisco Fernando Monteoliva Doratioto, em seu livro O Conflito com o Paraguai - A guerra do Brasil, contesta tais revisionistas e afirma que “a formação dos Estados nacionais da região foi a causa do sangrento conflito” (Jornal de Brasília, 12/07/1999).
Os cambás (pretos, em guarani) foram decisivos para a vitória brasileira: “Muitas vezes as deserções eram tantas que batalhões inteiros dissolviam-se quando em marcha para o front. Na verdade, como temos notícia em cartas de Osório a Caxias, muitos brancos rio-grandenses também desertavam. Porém, negros da Corte ou de todo o vasto Império lutavam bravamente e eram raríssimos os casos de deserção. O bom, forte e sacrificado sangue africano foi decisivo e insubstituível nas conquistas da guerra e, portanto, para o seu desfecho, com a vitória triunfal do Império” (PERNIDJI, 2010: 55-56).
Vale lembrar que Caxias levou uma novidade ao campo de batalha: o balão aerostático, para reconhecimento do número de canhões do inimigo. Para tanto, trouxe o polonês-americano Chodasiewicz, perito no assunto. “Dizem que os paraguaios, quando viram o balão subir, caíram de joelhos e rezaram à Virgem e a Tupã, dizendo que o marquês tinha parte com o demônio e que, com os negros, levaria todos os homens para trabalhar nos saladeiros no Rio Grande, enquanto as mulheres, como escravas, iriam para a luxúria dos soldados, todos dentro do balão” (idem, pg. 94-95).
Outro tipo de revisionismo - na verdade, propaganda da desinformação e da difamação - liga o Papa Pio XII aos nazistas. Por exemplo, o livro de John Cornwell, “O Papa de Hitler”: “A capa do livro de John Cornwell mostra o arcebispo Pacelli saindo de um edifício do governo alemão, escoltado por dois soldados. Essa visita oficial do então Núncio Apostólico na Alemanha, teve lugar em 1929, quatro anos antes que Hitler chegasse ao poder (em 30/01/1933). Como Pacelli saiu da Alemanha em 1929 e nunca mais voltou, é enganoso e tendencioso o uso dessa fotografia” (Texto do jesuíta Peter Gumpel, historiador convidado pelo Vaticano para coordenar o processo de beatificação do Papa Pio XII, in “Pio XII, Hitler e os judeus”, publicado em PODER - Revista Brasileira de Questões Estratégicas, Ano I, nº 05, pg. 58, Brasília, Maio/Junho 2000).
Enfoques revisionistas marxistas têm o mesmo valor histórico de “O Quinto dos Infernos”, minissérie da TV Globo que trata com desrespeito a História de D. João VI e D. Pedro I, com baixaria de toda ordem. Ou a novela chapa-branca do SBT, Amor e Revolução.
O mesmo maniqueísmo foi visto nos Planos do governo Dilma Rousseff, em que uma famigerada Comissão Nacional da Verdade - o Pravda tupiniquim - tentou reescrever a recente história do Brasil dentro da ótica dos antigos terroristas de esquerda.
Um exemplo simples do revisionismo fascistoide brasileiro foi a proscrição da música "Eu te amo, meu Brasil, eu te amo!", de Dom e Ravel, porque foi feita durante o governo miliar.
Vacine-se contra o HIV esquerdista da desinformação, acessando os sites e blogs Mídia Sem Máscara, Olavo de Carvalho, Escola Sem Partido, A Verdade Sufocada, Heitor de Paola, Diego Casagrande, Percival Puggina, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Piracema - Nadando contra a corrente, Wikipédia do Terrorismo no Brasil.
O livro “1889”, de Laurentino Gomes, pode ser baixado em https://gataborralheira34.files.wordpress.com/2015/05/1889-laurentino-gomes.pdf?fbclid=IwAR33ZAc1-O_SuXcGR8hJ95W-O7ijoFC9aEdbtQi4gzepX55oWMlKbj1ay5M.
Notas:
GOMES, Laurentino. 1889 - Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil. Globo, São Paulo, 2013.
JUDT, Tony, com Timothy Snyder. Pensando o Século XX. Objetiva, Rio de Janeiro, 2014 (Tradução de Otacílio Nunes).
NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da História do Brasil. Leya, São Paulo, 2009.
PEDROSA, J. F. Maya. A Catástrofe de Erros - Razões e Emoções na Guerra contra o Paraguai. Bibliex, Rio, 2004.
PEDROSA, J. F. Maya. O Revisionismo Histórico Brasileiro - Uma proposta para discussão. Bibliex, Rio, 2008.
PERNIDJI, Joseph Eskenazi; PERNIDJI, Mauricio Eskenazi. Homens e Mulheres na Guerra do Paraguai. Bibliex, Rio, 2010.