Triste 2021
Triste 2021
Publicado no Blog Diario do Poder, Brasília, 07/01/2021
Num artigo, para o grande público, só é possível apontar os principais ingredientes da grave crise global que nos aflige, na esperança de despertar o interesse para, então, surgir o democrático amplo debate esclarecedor nas universidades, nos partidos políticos, nos sindicatos e associações de classe. Nunca a Academia e os políticos estiveram tão afastados dos reais e urgentes problemas e interesses da população.
Verifica-se que o Brasil pode, em 2021, esfacelar-se em confrontações violentas de ódio, inviabilizando a nação, as Instituições e o processo democrático. Os problemas, que a todos afetam, acumulam-se com o passar dos anos, sem solução. Por exemplo:
- as contas públicas desequilibradas como estão, (a dívida do país pode superar, em 2021, 100% do PIB), apontam para o não pagamento de salários do funcionalismo federal, civil e militar, de contratos e a ausência dos investimentos necessários na infraestrutura;
- o desemprego aberto de 14 milhões de pessoas, sem contar os desalentados e os empregos precários sem carteira assinada, outros 14 milhões, não terá solução nos próximos anos ou por falta de investimentos, ou pela utilização crescente de tecnologias que substituem a mão de obra;
- a pandemia do Covid 19 continuará a afetar o funcionamento da sociedade por alguns anos, dificultando a atividade econômica, exigindo esforço modernizador dos serviços de saúde pública e intensa e complicada operação de vacinação, com acompanhamento da população pós inoculação;
- os estragos que já foram feitos no meio ambiente, principalmente com o aquecimento da atmosfera, obrigará, de imediato, a sociedade se adequar a novos padrões de organização, comportamento e consumo, em padrões muito mais austeros;
- o crime organizado e o banditismo comum estão tornando insuportável a já difícil vida dos cidadãos, uma nodoa a ser eliminada com medidas repressivas apropriadas;
- as inúmeras reformas que se fazem necessárias, completando as reformas trabalhista e previdenciária, aí estão para serem votadas: a administrativa, a tributária, a política. É evidente que, a cada dia que passa, se torna mais evidente a necessidade de uma Constituinte Exclusiva, tratando destes temas e também de um novo pacto nacional privilegiando os Municípios, aonde, afinal, é o lugar onde o povo realmente vive e trabalha;
- o princípio do direito adquirido precisa ser rediscutido pois, como está sendo interpretado, inviabiliza ações que precisam ter resultados imediatos, principalmente no que diz respeito a salários e aposentadorias. A maioria das ações sobre aposentadorias e pensões precisam ter efeito imediato e não daqui há trinta ou quarenta anos, se realmente se quer que contribuam para o equilíbrio das contas nacionais.
É importante que a sociedade esteja ciente de que é impossível não pensar em um imediato aumento dos impostos, (apesar deles estarem muito altos), federais, estaduais e municipais, de tal forma que as contas dos entes federativos tenham um imediato alívio: a União, os Estados e os Municípios.
Estamos vivendo momentos dramáticos na história da nossa Republica. Soluções radicais precisam ser tomadas para que se evite o pior. Não é possível pensar em soluções paliativas e demoradas. A situação é de tal gravidade o Brasil não aguenta mais esperar. O povo precisa saber o que realmente está acontecendo e não continuar sendo iludido, alvo da demagogia irresponsável e desonesta dos políticos.
Certamente o Estado brasileiro precisa fazer sua parte reduzindo gastos com pessoal e custeio, mas só estas necessárias providencias não vão resolver a questão fiscal.
O povo precisa entender que vivemos momentos difíceis, que nos conduzirão à beira de um conflito entre classes sociais e regiões do país. Apenas os idiotas desonestos e os irresponsáveis não percebem a tragédia social que já estamos vivendo.
A solução da crise global exigirá sacrifícios e solidariedade. Precisamos voltar a confiar no Estado e nos seus dirigentes – sem tal confiança muito pouco poderá ser feito. O mercado e a livre iniciativa, sozinhos, não resolverão nossos graves problemas. Caso não haja esta confiança e apoio, é preciso nas próximas eleições substituir os atuais dirigentes por pessoas competentes, honestas e patriotas. A união confiante e entusiasta, de todos, em torno dos grandes ideais da liberdade, da justiça, da paz e da solidariedade, deverão tornar-se indispensáveis atitudes permanentes.
Não há outra alternativa a não ser o caos. Será que ainda temos tempo para agir?
Eurico de Andrade Neves Borba, 80, ex-professor da PUC RIO e ex- Presidente do IBGE, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS. eanbrs@uol.com.br