A FOGUEIRA DAS VAIDADES

No século XIV uma pandemia devastou a Europa, matando mais de 75 milhões de pessoas. Foi a peste negra, doença  transmitida por pulgas e ratos, agravada pela ausência de saneamento básico nas cidades medievais e pelos péssimos hábitos de higiene das pessoas daquela época.  Numa cidadezinha do norte da França apareceu um alquimista que começou a tratar as pessoas com métodos diferentes dos usuais, que usavam principalmente sangrias e cataplasmas feitos á base de vinagre e ervas com propriedades curativas. Ao invés desses tratamentos, o médico-alquimista aplicava nos doentes uma rigorosa higiene corporal, além de promover o saneamento básico na aldeia, eliminando os ratos e as pulgas. Em menos de seis meses, a aldeia ficou livre da peste. Mas o bispo da localidade, pesquisando a causa do sucesso do alquimista, descobriu que ele mandava as pessoas tomar banhos diários com um produto chamado sabão, que ele confeccionava em seu laboratório. Também mandava incinerar os corpos das pessoas que morriam com a peste ao invés de enterrá-las. O bispo, em vista disso, denunciou-o á Santa Inquisição, acusando-o de heresia. Segundo ele, ficar nu para tomar banho era pecado, e queimar um corpo era pior ainda, pois segundo a crença da época, defuntos não enterrados em terra sagrada (os cemitérios controlados pela Igreja), não ressuscitariam no dia do julgamento. O alquimista foi julgado por uma comissão episcopal e acabou sendo queimado numa fogueira.  E a peste negra levou mais de vinte anos para ser debelada.
Nossos políticos estão agindo exatamente como esse bispo medieval: pouco importa o que aconteça com o povo e com o país.  Tudo que interessa é a conquista do poder político. Desde que o vírus do Covit 19 aportou por aqui, ao invés de unir forças para debelá-lo o mais rápido possivel, eles estão brigando. Começou com os ciúmes do presidente trocando dois ministros da saúde que ousaram aparecer mais que ele. E agora com essa briga idiota entre alguns governadores e o governo federal para ver quem sai na frente da vacinação e com a escolha da vacina, como se importasse mais a sua procedência do que a sua eficiência. A saúde de milhões de brasileiros é secundária. É só o interesse mesquinho dessa gente que importa. Lembram imperadores romanos assistindo uma luta de gladiadores na arena: os que vão morrer vos saúdam.
O governador Dória e o presidente Bolsonaro, os dois protagonistas principais dessa loucura precisam tomar juízo. Se estão pensando em ganhar a eleição de 2022 com esse tipo de comportamento, estão muito enganados. Podemos ser ingênuos e despreparados, mas não somos cegos. Nessa fogueira de vaidades podemos ver claramente quem bota fogo e quem está queimando. Só que não estamos mais na Idade Média nem no circo de Roma.

instagran @escritorjoãoanatalino.