A RENOVAÇÃO OU UM NOVO CORONEL
 
Certa vez resolvi trocar minha velha caminhonete Toyota, que estava comigo há dez anos, por um sedã bonitinho, confortável e com aquele cheirinho de coisa nova que todo zero quilômetro tem. Mas não consegui rodar cinco mil quilômetros com ele porque o danado deu mais oficina em seis meses que a minha Toyota em dez anos.
Lembrei-me dessa experiência ao ver os resultados da eleição para a prefeitura em Mogi das Cruzes. Ganhou o candidato que prometeu renovação na gestão pública em nossa cidade. Seu discurso seduziu os jovens e como a grande maioria dos eleitores de mais idade ficou com medo de sair por causa do Covit 19, a antiga oligarquia que dominava a cena política por aqui perdeu de goleada. A pandemia acabou ajudando a oposição.
Mogi têm cerca de 320.000 eleitores. O prefeito foi eleito com 114.656 votos, o que equivale a pouco mais de um terço dos eleitores. Significa que dois terços dos eleitores não votaram nele. Isso cria um constrangimento para o próximo prefeito, que terá que trabalhar muito bem para conquistar a simpatia dessa considerável parcela de eleitores que não optaram pela sua candidatura.
Indica também que ás vezes a experiência atrapalha. O atual prefeito foi derrotado pelo que fez ou pelo que deixou de fazer, na opinião dos eleitores. O índice de abstenções foi maior que o público que votou nele. Isso mostra que o povo mogiano quer renovação, mas também não está muito certo sobre que tipo de mudanças deseja. Temos um novo prefeito e uma Câmara Municipal bastante renovada. Pode ser garantia de mudanças e pode não ser. Jorge Amado descreve situação semelhante em Ilhéus nas primeiras décadas do século passado em seu famoso romance Gabriela, Cravo e Canela. O jovem Mundinho Falcão, com um discurso reformista, desbanca o velho Coronel Ramiro Bastos, cuja família mandava na região há várias gerações. Apenas para se tornar o novo Coronel. Nada mudou em Ilhéus com essa troca. Aliás, até hoje, a prosaica cidade dos coronéis do cacau e do famoso Bataclan ainda parece a mesma dos tempos de Gabriela e do turco Nacif.  Torcemos para que não aconteça o mesmo por aqui.
Vale lembrar que o novo só é novo enquanto não for usado. E o que garante a vida útil de qualquer coisa é o bem que ela faz para o usuário. Bom é o que é útil e a verdade se chama bom resultado. Mogi das Cruzes escolheu bem o seu próximo prefeito. Qualquer escolha que ela tivesse feito seria boa, pois o que importa, nesse caso, não é o antes, mas o depois. Daqui a quatro anos a cidade terá a chance de julgar a sua opção. Até lá, o novo prefeito merece o crédito que lhe foi dado.
Aliás, isso aconteceu também em várias outras cidades brasileiras. E a nível federal cm a eleição de Bolsonaro. O tempo dirá se teremos de fato renovação, ou apenas a troca da guarda.

instagran @escritorjoão anatalino