CONSIDERAÇÕES DE UMA OBSERVADORA DA POLÍTICA
As eleições de 2020, certamente, marcaram a história das campanhas eleitorais no Brasil. Tanto para quem participou, efetivamente, como candidato, quanto para aqueles que atuaram nas estratégias de campanhas. Num cenário obscuro e incerto, o processo eleitoral seguiu com interrogações quanto ao comportamento da campanha, num momento frágil, gerado pela pandemia do Coronavírus, com restrições quanto às presenças dos candidatos nas ruas e o tão aguardado corpo a corpo, que garante a proximidade com os eleitores.
O Marketing Eleitoral também teve de se reinventar e apresentar propostas condizentes com a nova realidade. Bom para o candidato com recall já conquistado e mais desafiador para aqueles que se lançaram pela primeira vez. O eleitor se manteve atentos às propostas e às investidas de quem tentou se valer do apadrinhamento político que se mostrou ineficiente neste ano. A imagem desgastada de políticos de carreira, a crescente perda da influência da igreja no voto, as tentativas de manipulação de uma minoria da imprensa e as fake news trouxeram à tona uma reflexão: o eleitor escolhe quem melhor comunica a solução, não o problema.
A figura do salvador da pátria tem sido substituída por quem transmite confiança e segurança. Impacta não mais o político que ganha votos pela inebriante oratória, mas aquele que dialoga, de forma clara e simples, e apresenta propostas realizáveis, de acordo com a realidade local. Com a pandemia politizada, o negacionismo exacerbado do vírus e os nervos aflorados quanto à necessidade de vacina, conquistou votos quem manteve o discurso ponderado da orientação e do controle da pandemia.
De perto, percebe-se, com mais clareza, a expectativa do eleitor quanto ao futuro pós- pandemia. O trabalhador quer a segurança no emprego; os pais se preocupam com o aprendizado dos filhos na escola; a dona de casa vê a renda cair com a redução do benefício social; o empresário tenta resgatar seu negócio após meses de fechamento ou de redução do horário de funcionamento; os profissionais da saúde estão exaustos com a responsabilidade de salvar vidas; os jovens incertos quanto ao cenário futuro; as minorias vendo suas conquistas atacadas e, no meio disso tudo, ainda precisam decidir qual a melhor proposta para o futuro da cidade. Muitos optaram por não escolher e, em 112 cidades brasileiras, a abstenção ficou acima dos 30%.
Finda a campanha, um novo palanque se forma para 2022 e alianças políticas já se desenham para um futuro ainda incerto. A economia, que depende mais de articulação federal que municipal, move-se num tabuleiro onde cada peça se movimenta à sua maneira, como num jogo de xadrez. Enquanto isso, gestores, eleitos ou reeleitos, já se organizam para um cenário desafiador: como avançar nas políticas sociais, de saúde e de desenvolvimento econômico dos municípios sem furar o teto de gastos? Como será o financiamento de políticas públicas a partir de 2021, quando milhares de famílias vão precisar ainda mais do estado brasileiro e dos municípios? A pandemia estará controlada? Quais as sequelas do negacionismo a longo prazo? São perguntas que já devem ser pautas de muitos gestores, mesmo antes de assumirem em janeiro.
Se a política não é para amadores, a gestão pública também não é. Para fazer as contas fecharem, se faz necessário um olhar técnico e profissional sobre todas as áreas. Porém, a empatia continua sendo forte aliada nesse momento pós-eleição. Afinal, para buscar soluções, ainda vale o antigo e sábio conselho: saber ouvir para acolher diferentes opiniões, antes de qualquer tomada de decisão. Um líder não sabe tudo e não decide sozinho em contextos democráticos.