PARE! NÃO VENDA SEU VOTO!
O antigo relógio da sala anuncia o nascer do dia. Pela fresta da janela, os primeiros raios de sol invadem a cozinha. De pé, dona Maria ensaia colocar lenha no fogão para acender a chama, embora sem ter nenhum alimento a levar ao calor. A fome, companheira conhecida naquelas bandas, novamente mostra sua face desafiando a mulher em mais uma luta. Hoje, no entanto, a vantagem mudou de lado. Notícia trazida pelo compadre João, dando conta sobre a visita do doutor Pedro, candidato a prefeito do município. Na ocasião, o povo todo já se prepara. Um punhado de arroz por ali, umas quinhentas telhas acolá, um rolo de arame farpado para cercar a roça. Coisa pouca, mas de grande valia; tudo isso em troca de uma "força" no dia da eleição.
Infelizmente, a situação fictícia acima ocorre com frequência nos rincões do Brasil. A prática da compra de votos se estabelece quando um candidato qualquer deixa a disposição do eleitor dinheiro, mercadorias ou mesmo promessa de emprego pela escolha do seu nome na hora da votação. Além de ser ilegal, a atuação desmoraliza os princípios éticos e diz muito sobre nós e a postura ostentada como cidadão. De cultura arraigada, o expediente se faz presente nos municípios interioranos e se utiliza da penúria da população para manter funcionando a estrutura de desigualdade social.
Ao tratamos nosso voto como escambo, estamos, diretamente, validando a chegada ao poder de alguém despreparado e, notadamente, sem moral. Tal sujeito irá tomar decisões as quais poderão impactar a vida de todos; e por não ter capacidade e nem ética para tanto, a probabilidade de erro na conclusão será altíssima. Ao entendermos isso, fica fácil chegarmos à percepção de como é um mau negócio ser refém de outrem e cambiar a preferência.
Tipificado no artigo 41, da Lei 9.504/1997, a captação do sufrágio por meios ilícitos pode levar o infrator a perda de mandato, multa e inelegibilidade por oito anos. Com agravo, através do artigo 299, do Código Eleitoral, Lei 4.737/1965, prevê ainda reclusão de quatro anos. Contudo, poucos foram os atingidos pela legislação, tendo o eleitor, quase sempre, escapando impune pelo ato, uma vez sendo esse corresponsável pela atividade. Nesse enfoque, diz o famoso autor: o corruptor só existe porque há corruptos.
"Política se ganha na véspera." Ouvia e ouço essa frase dos mais experientes. Até hoje não consigo rebatê-la. Trazendo o recorte para Brotas, parece ter mais lógica ainda. Se as estradas falassem, denunciariam tamanha movimentação no sábado à noite, um dia antes da eleição. Os mais atentos viam — e seguirão vendo — caminhões abarrotados de artigos transitando de um ponto a outro, perfazendo toda a geografia municipal. Blocos, cesta básica, cimento, enfim, o repertório é diverso e atende as mais variadas necessidades.
Entretanto, a sensação de alegria passa rápido. Os alimentos serão consumidos em alguns dias; o cimento e os blocos insuficientes para terminar a obra. Restam somente novas carências e um compromisso amargo no dia do pleito. E se reclamarmos das atitudes degeneradas dos homens do poder, estaremos apontando um dedo para nós mesmos. Afinal, a incoerência e a desfaçatez são características típicas de quem perambula no submundo da corrupção.
A História serve, entre outras tantas coisas, para lembrar-nos de travessias em tempos difíceis e como devemos valorizar as conquistas alcançadas. Em um passado nem tão distante, o voto era regalia somente para alguns e usado como instrumento de exclusão frente a participação popular. Hoje o cenário é bem diferente; e não podemos sequer pensar em regressão. Logo, encaremos com responsabilidade e sabedoria o exercício desse direito, pois ele foi conquistado a duras penas e é a representação máxima da cidadania em uma República democrática.
Assim, rechaçamos, então, a ideia de vender nosso voto a fim de fortalecemos os ritos democráticos e a manutenção da equidade no processo eleitoral. A cidadania é promovida por meio de ações conscientes e que deem conta de responder os anseios de uma sociedade com pensamento crítico pujante. Do contrário, quando há deslocamento nesse sentido, perde o eleitor e a democracia. O primeiro por votar em alguém corrupto; a segunda por se ver maculada em seu âmago, permitindo o poder da escolha ser diluído. Ao passo, no geral, todos saem derrotado com essa negociata repulsiva.
O antigo relógio da sala anuncia o nascer do dia. Pela fresta da janela, os primeiros raios de sol invadem a cozinha. De pé, dona Maria ensaia colocar lenha no fogão para acender a chama, embora sem ter nenhum alimento a levar ao calor. A fome, companheira conhecida naquelas bandas, novamente mostra sua face desafiando a mulher em mais uma luta. Hoje, no entanto, a vantagem mudou de lado. Notícia trazida pelo compadre João, dando conta sobre a visita do doutor Pedro, candidato a prefeito do município. Na ocasião, o povo todo já se prepara. Um punhado de arroz por ali, umas quinhentas telhas acolá, um rolo de arame farpado para cercar a roça. Coisa pouca, mas de grande valia; tudo isso em troca de uma "força" no dia da eleição.
Infelizmente, a situação fictícia acima ocorre com frequência nos rincões do Brasil. A prática da compra de votos se estabelece quando um candidato qualquer deixa a disposição do eleitor dinheiro, mercadorias ou mesmo promessa de emprego pela escolha do seu nome na hora da votação. Além de ser ilegal, a atuação desmoraliza os princípios éticos e diz muito sobre nós e a postura ostentada como cidadão. De cultura arraigada, o expediente se faz presente nos municípios interioranos e se utiliza da penúria da população para manter funcionando a estrutura de desigualdade social.
Ao tratamos nosso voto como escambo, estamos, diretamente, validando a chegada ao poder de alguém despreparado e, notadamente, sem moral. Tal sujeito irá tomar decisões as quais poderão impactar a vida de todos; e por não ter capacidade e nem ética para tanto, a probabilidade de erro na conclusão será altíssima. Ao entendermos isso, fica fácil chegarmos à percepção de como é um mau negócio ser refém de outrem e cambiar a preferência.
Tipificado no artigo 41, da Lei 9.504/1997, a captação do sufrágio por meios ilícitos pode levar o infrator a perda de mandato, multa e inelegibilidade por oito anos. Com agravo, através do artigo 299, do Código Eleitoral, Lei 4.737/1965, prevê ainda reclusão de quatro anos. Contudo, poucos foram os atingidos pela legislação, tendo o eleitor, quase sempre, escapando impune pelo ato, uma vez sendo esse corresponsável pela atividade. Nesse enfoque, diz o famoso autor: o corruptor só existe porque há corruptos.
"Política se ganha na véspera." Ouvia e ouço essa frase dos mais experientes. Até hoje não consigo rebatê-la. Trazendo o recorte para Brotas, parece ter mais lógica ainda. Se as estradas falassem, denunciariam tamanha movimentação no sábado à noite, um dia antes da eleição. Os mais atentos viam — e seguirão vendo — caminhões abarrotados de artigos transitando de um ponto a outro, perfazendo toda a geografia municipal. Blocos, cesta básica, cimento, enfim, o repertório é diverso e atende as mais variadas necessidades.
Entretanto, a sensação de alegria passa rápido. Os alimentos serão consumidos em alguns dias; o cimento e os blocos insuficientes para terminar a obra. Restam somente novas carências e um compromisso amargo no dia do pleito. E se reclamarmos das atitudes degeneradas dos homens do poder, estaremos apontando um dedo para nós mesmos. Afinal, a incoerência e a desfaçatez são características típicas de quem perambula no submundo da corrupção.
A História serve, entre outras tantas coisas, para lembrar-nos de travessias em tempos difíceis e como devemos valorizar as conquistas alcançadas. Em um passado nem tão distante, o voto era regalia somente para alguns e usado como instrumento de exclusão frente a participação popular. Hoje o cenário é bem diferente; e não podemos sequer pensar em regressão. Logo, encaremos com responsabilidade e sabedoria o exercício desse direito, pois ele foi conquistado a duras penas e é a representação máxima da cidadania em uma República democrática.
Assim, rechaçamos, então, a ideia de vender nosso voto a fim de fortalecemos os ritos democráticos e a manutenção da equidade no processo eleitoral. A cidadania é promovida por meio de ações conscientes e que deem conta de responder os anseios de uma sociedade com pensamento crítico pujante. Do contrário, quando há deslocamento nesse sentido, perde o eleitor e a democracia. O primeiro por votar em alguém corrupto; a segunda por se ver maculada em seu âmago, permitindo o poder da escolha ser diluído. Ao passo, no geral, todos saem derrotado com essa negociata repulsiva.