Similaridades

A peça íntima voltou a ser o assunto nos noticiários por todo o País. Contada em verso e prosa, em forma de troça ou avaliada por critérios estritamente técnicos, eis que a cueca mostrou, mais uma vez, a versatilidade e a desenvoltura dos tempos de outrora. Se bem que o desfecho não tenha sido o esperado pelo usuário/protagonista atual, não por coincidência, um senador da República. Em que pese o direito do referido parlamentar ao contraditório e à ampla defesa garantidos pela Constituição Federal, a singular peça do indumentário masculino parece não ser o local mais adequado para acomodar numerário em valores significativos, ainda mais no momento em que o até então ilustre detentor de cargo eletivo era alvo de inesperada visita de policiais federais, em cumprimento a mandado de busca e apreensão. Até parece reprise de filme já conhecido pelo contribuinte brasileiro tamanha a similaridade dos acontecimentos lá e cá, porém uma rápida consulta ao calendário mostra que os fatos são mesmo recentes.

Há muito o eleitor dessa pacata e trabalhadora nação se depara com notícias esdrúxulas como essa. Como já existe precedente desse naipe poder-se-ia, com toda propriedade, generalizar as coisas, imputando à imensa maioria dos políticos a culpa no cartório. Não que a carapuça sirva a praticamente todos, por ação ou omissão, principalmente naqueles momentos em que se esperava uma postura à altura da relevância do cargo que temporariamente ocupam. Ocorre que conhecemos exatamente o que pensam e como agem suas Excelências, quando resolvem legislar em causa própria, ou na defesa de seus interesses ou ainda em favorecimentos a seus assemelhados. Basta lembrar a vergonhosa sessão da Câmara dos Deputados que cassou a ex-presidente Dilma Rousseff, quando os nobres pares colocaram para fora suas entranhas, expondo o verdadeiro sentimento que acomete os representantes do povo. Isso acontece absolutamente em todas as esferas do poder, de vereador a presidente da República. É só forçar um pouco mais a memória e lá estará o malfadado Fiat Elba, a ponta do iceberg que apeou do poder o estelionatário-mor à época, odiado pelos inconsoláveis investidores da caderneta de poupança, cujos valores surrupiados impiedosamente jamais retornaram integralmente a seus titulares.

Nessa época de campanha eleitoral transmitida pelos meios de comunicação, é possível analisar os questionáveis predicados dos postulantes aos cargos do executivo e do legislativo municipal. Alguns mal conseguem balbuciar algumas poucas palavras, outros nem isso. Seria cômico não fosse trágico para a democracia, as inexequíveis e mirabolantes promessas apresentadas pela maioria dos candidatos. Nota-se que poucos demonstram possuir a mínima noção das atribuições do cargo que pleiteiam, no momento em que se propõem a representar os interesses da coletividade. É uma verdadeira sessão comédia, em que os escrúpulos são deixados de lado quando a intenção é angariar o voto dos indecisos. Conclui-se, portanto, que apesar do tempo, qualquer similaridade com fatos passados não terá sido mesmo mera coincidência. Infelizmente.