Religião, política e sociedade: da consciência a inconsciência.
Por.: David Bandian
O sentimento religioso manifesto nas mais variadas formas, correntes teologias e congregações denominacionais é um elemento do social legítimo, honesto e válido pois é um comportamento antropológico verificável em quase todas as sociedades nos mais diferentes espaços geográficos e tempos históricos.
No geral, percebemos e compreendemos a religião como a consciência do Estado e da sociedade na qual está inserida. Onde, por uma lado, ela orienta os homens a conduzirem suas vidas em coletividade a partir de regras morais bem definidas e de outro, ela atua de forma direta ou indireta influenciando as tomadas de decisão no âmbito do Estado para o coletivo nas esferas públicas de poder, na antiguidade no conselho de anciãos, nos dias atuais, nos parlamentos nacionais.
Com o advento do liberalismo, do iluminismo, das monarquias constitucionais e das repúblicas, os homens entenderam que era hora de separar: Estado e Igreja. Tendo em vista a proliferação de um número significativo das manifestações religiosas e da variedade de interpretações inclusive da mesma fé, no caso ocidental, do cristianismo surgidas a partir da reforma protestante e da difusão de outras correntes religiosas pelo mundo.
Assim, a religião começa a perder espaço para a ciência, nos países desenvolvidos mundo afora, mas mantém seu crescimento e poder de influência social especialmente nos países subdesenvolvidos em regiões da: África, América Latina e regiões da Ásia, onde a desigualdade se acentua com o avanço do neoliberalismo no pós – guerra e lança na miséria, exclusão e marginalidade milhares de pessoas ao redor do mundo que acabam por ver na religião uma forma de se articularem em pequenos grupos sociais de ajuda mútua material e alívio espiritual para o sofrimento.
Infelizmente, com a teologia da prosperidade, o crescimento religioso no mundo subdesenvolvido não visa ser a consciência do estado e da sociedade, pois agora a igreja mais uma vez, se une ao estado burguês capitalista para disciplinar as massas, não para a lutar por direitos e cidadania, mas para atuar no mundo capitalista de acordo com as regras do neoliberalismo.
Nesta teologia, elites religiosas visualizaram a oportunidade e sistematizaram e popularizaram uma pregação de cunho cristã-capitalista, onde a miséria e a exploração que aflige todo o social e mantem a desigualdade, (onde uma minoria concentra toda a maior parte da riqueza produzida coletivamente enquanto a grande massa produtora é expropriada do básico para sua sobrevivência), não são resultantes de projetos inescrupulosos de poder das elites dirigentes (grupos políticos e elites econômicas) na América Latina, mas resultante da falta de fé e de disciplina moral que acabam por inviabilizar a vitória do indivíduo a tais dificuldades sociais.
Essa mentalidade, aliena a capacidade crítica desses cidadãos expropriados e explorados. Desarticula e enfraquece a luta sindical destes mesmos trabalhadores, desestimula e desacredita a organização partidária trabalhista para a disputa eleitora nas mais diferentes instâncias do Estado. Desorganiza e divide a participação popular na luta por seus direitos universais e elementares garantidos na Constituição da maioria dos países de regime democrático, das monarquias constitucionais aos governos republicanos mundo afora.
Portanto, de consciência do Estado e da sociedade a religião passou a atuar como consciência das elites capitalistas dirigentes para o disciplinamento moral-religioso das massas que assimilando essa nova moral religiosa abandonem sua consciência coletiva, trabalhista, de classe e passem a atuar mecânica e inconscientemente no mundo da produção na perspectiva da fé de que um dia todas as mazelas sociais e econômicas que assolam a sua vida será resolvida por algum força divina.
Ou seja, o cidadão é levado a transferir a solução de seus problemas básicos de sobrevivência econômica e social, da ação política no coletiva para uma crença no invisível com respostas individuais. Tal propositura nos parece bastante irresponsável e inescrupulosa. Pois a prática de fé não deve ser usada para manipular e alienar mas para o crescimento espiritual e humanitário dos homens no coletivo.