SURPRESAS BOLSONARISTAS
 
O presidente Bolsonaro, ao que parece, também gosta de surpreender. Todo mundo esperava que ele indicasse para preencher a vaga de Celso de Mello no STF um jurista conservador ao extremo, bem ao gosto da bancada evangélica. Mas  ao indicar o desembargador Kássio Nunes Marques para essa vaga, ele não só contrariou todas as expectativas, como também  conseguiu contrariar a ala ideológica do seu eleitorado, que esperava alguém com diferente perfil. O descontentamento da militância bolsonarista ficou patente nas postagens feitas na rede social, onde a palavra “decepção” é constante entre os assuntos mais comentados na rede. Parece que o principal motivo do incômodo na base bolsonarista é o fato de que o desembargador Kássio Marques agradou aos membros do Centrão aos demais magistrados do STF. Até bem pouco tempo, o próprio STF era considerado um grande inimigo do governo de Bolsonaro, a ponto de vários militantes do grupo pedirem o fechamento desse Tribunal.
O pior dessa surpresa, para os bolsonaristas, é o fato de que a indicação de Kássio Marques foi selada em um encontro na casa do ministro Gilmar Mendes com a presença de Dias Toffoli. E que a indicação foi bancada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que se colocou como o principal articulador para aprovar o nome escolhido pelo presidente. Isso é necessário porque, para ser nomeado, o desembargador precisará do voto da maioria simples dos senadores.
Na costura desse tecido os opositores de Bolsonaro vêem também a mão de Flávio Bolsonaro, que logo deverá ser julgado pelo STF no caso das raspadinhas e também pela repercussão que esse caso terá no Senado. Dessa forma, manter o maior número possível de aliados em uma e outra casa é fundamental. Bolsonaro cedeu ao pragmatismo, mas para os bolsonaristas ideológicos a coisa soou mal. O que terá acontecido ao homem que deplorava os acordos de gabinete, o toma lá dá cá, os conchavos na calada da noite e outras artimanhas da “velha política”, que ele dizia refutar?
O fato é que, para quem estava incomodado com o fundamentalismo direitista que os bolsonaristas estão praticando, e que o próprio presidente, até bem pouco tempo atrás incentivava, essa guinada do Bolsonaro para o centro mostra que ele, quando quer, também sabe buscar o equilíbrio. Nada de magistrado “terrivelmente evangélico” e ultra conservador para ocupar uma cadeira na Suprema Corte. Pelo menos por enquanto. Afinal o que baliza a eleição dos valores que sedimentam os julgamentos na Corte Suprema é a Constituição e não a Bíblia. E isso é bom, por mais virtuosos sejam os valores que o santo livro consagra.
A alcatéia bolsonarista precisa se acalmar. A política é uma balança que deve ser mantida em equilíbrio. Peso demais de um lado pode quebrá-la. E radicalismo é doença e não remédio.