O QUE É CRISTOFOBIA?
Guilherme de Tiro (1130-1186) ficou famoso pelas crônicas que escreveu sobre as cruzadas. Muito do que se sabe sobre essa aventura guerreira que deu início às hostilidades entre cristãos e muçulmanos, que duram até hoje, se deve às obras desse arcebispo. Mesmo sendo uma das maiores autoridades da Igreja na época, ele não poupava o Vaticano de críticas pela política praticada pelos cristãos na Terra Santa. O foco principal das suas críticas era o comportamento dos chamados “soldados de Cristo”, como eram chamados os Cavaleiros Templários e os membros da Ordem de São João do Hospital. Guilherme os chamava de “carniceiros de Cristo”, pelas atrocidades que praticavam contra as populações não cristãs que habitavam nas terras conquistadas pelos cruzados.
Embora católico fervoroso, Guilherme criticava a intolerância dos cruzados contra judeus e muçulmanos, intolerância essa que fez com que o reino de Jerusalém, nos seus quase cem anos de duração nunca tivesse um só ano de paz. Quando se mistura política com religião, o resultado é sempre desastroso, dizia o arcebispo. Por isso ele antecipou, com mais de vinte anos de antecedência, o desastre final do reino cristão de Jerusalém.
Essas elucubrações me vieram à mente após ouvir o discurso do presidente Bolsonaro na ONU, quando ele se refere á chamada cristofobia, infeliz neologismo que ele criou para definir uma suposta hostilidade que ele parece enxergar em alguns setores da sociedade brasileira em relação aos valores cristãos.
No caso, trata-se de uma contradição em termos. Pois ao mesmo tempo em que fala em liberdade religiosa, Bolsonaro parece pensar que só os evangélicos da sua linha de pensamento são verdadeiros cristãos. E que para ser conservador, defensor dos valores cristãos é preciso ser discípulo de Edir Macedo ou outro arauto qualquer do chamado evangelho de resultados, pregado por esses novos vendilhões do templo, que transformaram a mensagem de Jesus numa das mais rendosas indústrias do país.
O Brasil é um estado laico, e ao eleger uma determinada crença como orientadora oficial da sua política de estado, Bolsonaro começa a trilhar um perigoso caminho. Afinal de contas, o que é essa chamada “cristofobia” e até onde vai o significado desse sinistro neologismo em sua cabeça? Quem são os cristófobos? Os defensores da legalização do aborto? Os que defendem o casamento entre homossexuais? Quem acha que os templos religiosos devem pagar tributos? Quem não é cristão é cristóbofo? E como ficam os judeus, os muçulmanos, os budistas, os espiritualistas, os praticantes de cultos afros, etc?
A intolerância religiosa é a pior de todas as idiossincrasias. E como disse o arcebispo Guilherme, quando ela contamina a política o resultado é sempre desastroso. Bolsonaro tem o direito de professar a religião que ele quiser como cidadão, mas quando fala como presidente de uma nação, precisa tomar um pouco mais de cuidado.
Guilherme de Tiro (1130-1186) ficou famoso pelas crônicas que escreveu sobre as cruzadas. Muito do que se sabe sobre essa aventura guerreira que deu início às hostilidades entre cristãos e muçulmanos, que duram até hoje, se deve às obras desse arcebispo. Mesmo sendo uma das maiores autoridades da Igreja na época, ele não poupava o Vaticano de críticas pela política praticada pelos cristãos na Terra Santa. O foco principal das suas críticas era o comportamento dos chamados “soldados de Cristo”, como eram chamados os Cavaleiros Templários e os membros da Ordem de São João do Hospital. Guilherme os chamava de “carniceiros de Cristo”, pelas atrocidades que praticavam contra as populações não cristãs que habitavam nas terras conquistadas pelos cruzados.
Embora católico fervoroso, Guilherme criticava a intolerância dos cruzados contra judeus e muçulmanos, intolerância essa que fez com que o reino de Jerusalém, nos seus quase cem anos de duração nunca tivesse um só ano de paz. Quando se mistura política com religião, o resultado é sempre desastroso, dizia o arcebispo. Por isso ele antecipou, com mais de vinte anos de antecedência, o desastre final do reino cristão de Jerusalém.
Essas elucubrações me vieram à mente após ouvir o discurso do presidente Bolsonaro na ONU, quando ele se refere á chamada cristofobia, infeliz neologismo que ele criou para definir uma suposta hostilidade que ele parece enxergar em alguns setores da sociedade brasileira em relação aos valores cristãos.
No caso, trata-se de uma contradição em termos. Pois ao mesmo tempo em que fala em liberdade religiosa, Bolsonaro parece pensar que só os evangélicos da sua linha de pensamento são verdadeiros cristãos. E que para ser conservador, defensor dos valores cristãos é preciso ser discípulo de Edir Macedo ou outro arauto qualquer do chamado evangelho de resultados, pregado por esses novos vendilhões do templo, que transformaram a mensagem de Jesus numa das mais rendosas indústrias do país.
O Brasil é um estado laico, e ao eleger uma determinada crença como orientadora oficial da sua política de estado, Bolsonaro começa a trilhar um perigoso caminho. Afinal de contas, o que é essa chamada “cristofobia” e até onde vai o significado desse sinistro neologismo em sua cabeça? Quem são os cristófobos? Os defensores da legalização do aborto? Os que defendem o casamento entre homossexuais? Quem acha que os templos religiosos devem pagar tributos? Quem não é cristão é cristóbofo? E como ficam os judeus, os muçulmanos, os budistas, os espiritualistas, os praticantes de cultos afros, etc?
A intolerância religiosa é a pior de todas as idiossincrasias. E como disse o arcebispo Guilherme, quando ela contamina a política o resultado é sempre desastroso. Bolsonaro tem o direito de professar a religião que ele quiser como cidadão, mas quando fala como presidente de uma nação, precisa tomar um pouco mais de cuidado.