Por que não dizem a verdade ao povo
Por que não dizem a verdade ao povo?
Publicado no jornal O Globo em 21/09/2020
O sistema capitalista, que possibilitou o extraordinário progresso da humanidade, é extremamente hábil e rápido em se ajustar às solicitações e contestações mais fortes dos povos. Assim vai modificando suas formas de atuação, sem nunca perder o controle do poder politico, consolidando o processo que é próprio da sua essência, que faz com que “os ricos sejam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres”, um processo que se aprofunda: o estopim de uma confrontação sangrenta, que já começa a dar sinais.
Os povos precisam acreditar que o extraordinário progresso da tecnologia substitui postos de trabalho por maquinas - não haverá empregos para todos no futuro; precisam acreditar que a espécie humana corre o risco de sobrevivência com o aquecimento da atmosfera que provocará catástrofe global com inundações, mudanças de temperatura, regimes de ventos e chuvas, que já estão acontecendo; precisam acreditar que somente por meio de um sistema educacional de qualidade é que poderemos reorganizar democraticamente as sociedades, na perspectiva da liberdade, da justiça, da solidariedade e da paz; precisam acreditar que o Estado, socialmente controlado, responsável pela promoção do bem comum, face aos atuais interdependentes problemas sociais, deverá ter uma participação muito mais intensa na vida das sociedades, livres e participativas.
Devemos debater amplamente estas questões e procurarmos alternativas de solução para o caos que se instala. Sendo a democracia o sistema politico ideal, tudo deverá começar pela eleição de lideranças politicas competentes e honestas, capazes de alertar os povos para o perigo que correm e providenciar as leis que permitam a conquista dos objetivos sociais requeridos por uma nova ordem social.
Não há como escapar deste desafio que se coloca com a questão: mudar o atual estilo de vida das sociedades, visando à democracia, à solidariedade e à inescapável austeridade de consumo, ou conviver com o progressivo desaparecimento da humanidade e a possibilidade da sobrevivência, apenas, dos mais ricos e dos mais capacitados intelectualmente.
Eurico de Andrade Neves Borba, 80, aposentado, ex-professor da PUC RIO, ex- Presidente do IBGE, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS..