Sem Voz, Sem Democracia
>> A minha questão é: se a democracia anda no sentido oposto ao distanciamento do povo de suas instituições, em que ponto nos encontramos para um rompimento institucional?
A quem interessa que não sejam claros os trâmites, causas, motivos e processos que envolvem as decisões de instâncias que vão dos partidos aos tribunais?
Esclarecer, muitas vezes é dar poder. Da mesma forma, podemos pensar por que as comunicações e processos que envolvem as diversas instituições e grupos de representação não interessam ou envolvem os interessados?
Por muito tempo, acreditei que fosse certa arrogância ou desconhecimento. A medida em que fui me tornando um pouco menos ingênuo, descobri que a coisa era proposital. O segredo é alma do negócio.
Se as decisões partidárias, judiciais e educacionais fossem acessíveis a um público mais amplo, outros interesses se fariam representar nestas decisões. Quando estas instâncias se recusam a abrir a "caixa-preta" elas deixam de fora outros interesses, inclusive aos diretamente atingidos por suas decisões.
O efeito disto é que burocratização e hermetismo das práticas leva ao distanciamento da população e mesmo a ter a antipatia da mesma. O resultado é que aqueles que continuam na liderança destes grupos e instituições continuam no poder, se alternando com outros e pequenos grupos.
Fazer o povo se inteirar e participar do processo não é algo complexo. Basta que se ouça a população, que suas questões e dúvidas não sejam relegadas a ignorância ou problemas particulares de quem discorda.
A mídia também colabora com tal processo de democratização, a interessa reproduzir o escândalo e o preconceito do que revelar os meandros e arbitrariedades nestes processos.
A longo prazo vemos que a população se encontra cada vez mais indiferente até mesmo a discussões que são de seu interesse. Ninguém se iluda que qualquer medida arbitrária contra a democracia teria uma reação significativa da população.
E por que isto ocorre? Simples, as instituições não legitimam mais junto a população, mas a um corpo burocrático que se encarrega de mediar a relação entre os grupos políticos - que pretensamente representariam o povo. Como bem vimos, nem ao menos ouvem o povo, quem dirá representa-los.
>> O papel das instituições e representações de categoria
Em termos teóricos, é papel das representações de categoria e partidos, entre outros grupos da sociedade civil, fazer a mediação entre os interesses da população ( tomada em seus diversos segmentos inclusive) e as instituições legais e judiciais.
Se esta mediação não ocorre, pela falta de diálogo que eles mesmos promovem, elas não só agem pelos próprios interesses como também não são reconhecidos pela população como seus representantes.
A política então se torna algo cada vez mais familiar aos grupos que se revezam no poder e que os administram a política e estranho aos interesses sociais mais amplos.
Este distanciamento mina a própria democracia e distancia o povo de seus propósitos e práticas. No passado, na Alemanha nazista tal coisa ocorreu: descrédito nos partidos, de direita e esquerda, corrupção generalizada e ascensão de personagens que representavam a desconstrução da política democrática - encarnavam o descrédito na democracia e nos políticos ao mesmo tempo que representavam sua solução no seu fim.