Brasil e sua frágil soberania amazônica

Mesmo com rompantes ora ditos por Jair Bolsonaro (sem partido), ora Ricardo Salles (ex-NOVO) ou mesmo as mais atuais promessas de Mourão (PRTB). Tem efeito prático similar: a retórica de domínio sobre nossa própria floresta, importante salientar sempre: a maior reserva de floresta tropical desse planeta. Mas desde meados de agosto a percepção internacional é que foi tutelada pelo candidato democrata Joe Biden.

Antes a constante vigilância por meio de satélites, sobretudo americanos, servia para monitorar e estudar a variação climática e auxiliar as equipes de terra no combate aos incêndios de causas naturais e/ou criminosas. Presenciamos ainda no mês de Outubro, pós eleições de 2018, ataques sistemáticos as terras amazônicas. Para buscar atender os mais diferentes interesses econômicos, sociais e políticos. Quem mais perdeu com a tropeçante e negligente política ambiental do Governo, além do próprio e frágil ecossistema, são as comunidades indígenas que lutam há séculos contra grileiros, políticos e demais saqueadores dos cerca de 1 milhão de nativos amazônicos.

Em entrevista recente, há pouco mais de cinco meses, Joe Biden disse que, se o Brasil não for capaz de proteger a floresta amazônica, ele tomará medidas necessárias junto à comunidade internacional, caso seja eleito para o comando da Casa Branca. A declaração foi dada em uma entrevista à revista Americas Quarterly, dedicada a temas da América Latina. Perguntado sobre como os EUA poderiam agir em relação ao descaso com a floresta, o centrista foi além:

— Os incêndios que atingiram a Amazônia no verão passado foram devastadores e provocaram uma ação global para frear a destruição e ajudar no reflorestamento antes que seja tarde demais. O presidente Bolsonaro deve saber que, se o Brasil falhar em ser o guardião responsável da floresta amazônica, então meu governo reunirá o mundo para garantir que o meio ambiente fique protegido.

Ainda no mês de março durante um debate democrata em que foi perguntado sobre o que faria para colocar em prática seu plano de US$1,7 trilhões anti-aquecimento global, Biden mencionou especificamente a questão do desmatamento em território brasileiro em sua resposta: "Eu estaria agora organizando o hemisfério (ocidental) e o mundo para fornecer US$ 20 bilhões para a Amazônia, para o Brasil não queimar mais a Amazônia, para que pudessem manter as florestas".

A senadora da Califórnia e agora escolhida vice na chapa democrata, Kamala Harris, deu mais uma volta no parafuso que faz pressão sobre a gestão ambiental do Brasil: "Enquanto a Amazônia é incendiada, o trumpista presidente brasileiro, que deixa madeireiros e garimpeiros destruírem a terra, não toma nenhuma providência. Trump não deve firmar acordos comerciais com o Brasil até Bolsonaro reverter essa política catastrófica e lidar com os incêndios. Precisamos da liderança americana para salvar nosso planeta", concluiu.

Adiante, temos ainda a publicação de uma carta assinada por 24 deputados democratas da Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários destinadas ao representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, no começo de junho que traz em seu conteúdo a mesma preocupação de Biden e Harris: "Nós nos opomos fortemente a buscar qualquer tipo de acordo comercial com o governo Bolsonaro no Brasil. O aprimoramento do relacionamento econômico entre os Estados Unidos e o Brasil, neste momento, iria minar os esforços dos defensores dos direitos humanos, trabalhistas e ambientais brasileiros para promover o Estado de Direito e proteger e preservar comunidades marginalizadas".

É certo supor que com o advento do sucesso atual e uma futura vitória democrata, o Governo brasileiro precisará rever todo seu repertório de alinhamento automático e começar a ouvir as vozes dos ambientalistas, acadêmicos, servidores do INPE, IBAMA, Instituto Chico Mendes e ONGs. A pressão mundial de combate aos crimes ambientais rotineira e presente nas mesas diplomáticas não é nada comparado com o que está a caminho.

A liderança climática de Obama será seguida a risca por Biden, ele anunciou que o meio ambiente será uma das suas prioridades: se vencer, vai recolocar os americanos no Acordo do Clima de Paris, do qual foram retirados por Trump, em um movimento que o próprio Bolsonaro disse ter interesse em imitar. Determinista avisou: em sua gestão, nenhum acordo comercial será fechado "sem que haja um ambientalista na mesa de negociações".

Fontes:

Americas Quarterly. editoria: Brazil, assunto: elections. Disponível em:

<https://www.americasquarterly.org/article/updated-2020-candidates-answer-10-questions-on-latin-america/> Acessado em 28/08/2020

BBC Brasil em Washington, 2020, Vitória de Biden nos EUA ampliaria pressão por preservação da Amazônia. Disponível em <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-53288425> Acessado em 28/08/2020

UOL, Internacional, eleições americanas. Vice de Biden já cobrou que Bolsonaro respondesse por incêndios na Amazônia. Disponível em:

<https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/08/11/vice-de-biden-bolsonaro-amazonia.htm?> Acessado em 28/08/2020