Assim como está não há muito que fazer
Assim como está não há muito que fazer...
Publicado no jornal Zero Hora de 26/08/2020
Estamos vivendo momentos decisivos e difíceis, definidores do futuro da humanidade. Para voltar a se ter esperança numa convivência justa e democrática é necessário mudar a forma de pensar e de proceder das populações. Isto não é ingenuidade, mas exigência imposta pela logica e pela experiência histórica. Deixemos de discutir índices e taxas e passemos a nos preocupar com a essência do processo histórico: como organizar e fazer funcionar a sociedade democrática.
É preciso acreditar que as perguntas principais, a serem respondidas, inicialmente, são de outra natureza e não estão presentes nos atuais debates: Qual o papel do Estado responsável pela promoção do bem comum? Como intervirá na sociedade preservando a liberdade? Qual é o pacto nacional que estabelece direitos e deveres de cada ente participante - União, Estados, Municípios - na repartição da carga tributária e na forma de procedimentos eleitorais visando efetiva legitimidade dos representantes do povo? Quais os pressupostos políticos e morais para orientar uma justa distribuição da riqueza? Ou vamos deixar que o fosso entre os ricos e pobres se aprofunde, como sendo algo normal e não o estopim de uma guerra civil? O meio ambiente, que cada vez mais se impõe como a variável determinante da sobrevivência da humanidade, permanecerá exposto às ações dos que o utilizam sem a perspectiva do seu uso responsável? A modernização tecnológica, que substitui pessoas por instrumentos e processos informatizados, continuará a avançar sobre os postos de trabalho, colocando milhões na condição degradante de desempregados, sem que se debatam alternativas para este irreversível processo?
Respondidas estas perguntas e suas conclusões aceitas pela maioria da população, informada e consultada em constantes plebiscitos, as soluções para as questões concretas seriam mais fácil e inteligentemente atendidas, ou pelo Estado ou pela iniciativa privada. A partir da aceitação majoritária das conclusões as lideranças trabalhariam sobre sólido alicerce conceitual, condicionante da elaboração das propostas para a superação dos problemas, os mais variados, e não a partir de palpites voláteis, opiniões simplistas ou do interesse de grupos.
Eurico de Andrade Neves Borba, 80, aposentado, ex-professor da PUC RIO, ex- Presidente do IBGE, mora em Ana Rech, Caxias do Sul, RS..