Definitivamente, não sabemos votar

Neste sábado, dia 08 do mês de agosto, em que o Brasil está acuado pela pandemia do coronavírus, que obrigou a todos nós a nos isolar, Jair Messias Bolsonaro, o presidente eleito pelo povo, nos brindou novamente com sua sensibilidade ao não se manifestar sobre os 100 mil mortos pelo covid-19 – o coronavírus – uma marca verdadeiramente histórica em nosso país, mas não se esqueceu de postar fotos nas redes sociais comemorando o título do Palmeiras. E o presidente não devia esquecer que ele próprio contraiu o vírus, tendo tido a sorte de escapar.

É com tristeza que vemos como um governante não demonstra interesse pelo bem-estar da população e pela vida de 100 mil brasileiros que não são números, cada um é uma vida, uma pessoa que era amada pelos membros de sua família. Toda vida é importante, mas o presidente, desde o começo desta pandemia, só tem mostrado descaso, despreparo e total falta de habilidade e interesse em lidar com este problema com a seriedade que ele merece. Primeiro, referiu-se ao vírus como uma “gripezinha” , criticou o isolamento social. Aliás, mesmo agora, ele critica a quarentena e acusa a Rede Globo de espalhar o pânico. E muitos ainda acusam a Globo de conspirar contra ele. Será que essas pessoas acusavam a Globo de conspirar contra Lula, Dilma ou Michel Temer?

Os outros membros deste governo também têm deixado a desejar nas manifestações sobre a tragédia. Acusam a esquerda de conspirar contra o Governo, de comemorar as mortes pelo coronavírus e de tentar vilanizar o atual Governo. Vale salientar que o Ministério da Saúde, há doze semanas, não tem um titular. O mundo inteiro tem criticado as atitudes de Bolsonaro, até a própria imprensa europeia tem atacado seu silêncio. A Globo, inclusive, cobrou que Bolsonaro tomasse alguma atitude. A atitude da Globo não é de perseguição motivada por antipatia. É de indignação contra os atos de alguém que assumiu um cargo eleito pelo povo e age com desprezo quando o mesmo mais precisa dele.

Como o presidente pode chamar um vírus de “gripezinha” quando, desde maio, o país registra regularmente cerca de mil mortes por dia? O presidente desrespeitou as regras de isolamento social, teve desentendimentos com os Ministros da Saúde que quiseram seguir as regras de segurança e o contrariaram e, quando cobrado pela imprensa, saiu-se com declarações grosseiras, dizendo que era Messias mas não fazia milagres ou então que não era coveiro. Como podem dizer que ele tem boas intenções e não o deixam fazer direito seu trabalho? Ele dá muito bem a entender que, se dependesse dele, não teríamos adotado medidas de isolamento social. Talvez o número de óbitos houvesse mesmo ultrapassado a lamentável marca de 100 mil.

O que podemos dizer? Estamos nas mãos de um governante que não se interessa por nós e nos perguntamos se ele não pensa que, dentre os mortos, muitos votaram nele. Muitos que foram seduzidos por seu lema :”Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.” Vários dos que ainda defendem Bolsonaro alegam que ele é religioso, patriota, defende os valores morais e a família. Ainda conseguem dizer isso? Cada um dos 100 mil mortos tinha família. Como alguém pode dizer que Bolsonaro é pela família? Ele tem mostrado de todas as formas que age segundo seus interesses, conforme o que lhe é conveniente, não por princípios. E não adianta mais falar que o PT roubou e deixou o Brasil na miséria.

Se Lula ou algum outro membro do seu governo roubou, isso é uma coisa. A gestão de Bolsonaro é outra coisa. E já estamos cansados de saber que tentar minimizar nossos erros falando dos supostos erros dos que nos atacam é uma artimanha covarde de quem quer desviar a atenção do verdadeiro problema.

Nada do que o PT possa ter feito de errado diminui os erros da atual gestão, que mostra que nós não aprendemos com os erros do passado, porque não prestamos atenção à História. Deixamo-nos seduzir pelo discurso falastrão, superficial e grosseiro de um candidato que nada fez de relevante em tantos anos como parlamentar, nunca mostrou um discurso consistente e sempre se destacou apenas pelas atitudes intolerantes e preconceituosas.

Assim como Hitler fez os judeus de bode expiatório, da mesma forma Bolsonaro fez com o PT, fazendo parecer que o Brasil estava afundado na imoralidade e ele era um “paladino” da moral, dos bons costumes e valores tradicionais. Qualquer um que tentasse mostrar quem era Bolsonaro era atacado, chamado de vagabundo, esquerdista e muitas outras coisas piores, sendo até ameaçado por seus entusiastas, que na maioria das vezes eram protegidos pelo anonimato garantido pela Internet nas redes sociais.

Antes que alguém diga que brasileiro é analfabeto e não sabe votar nem tem educação política, lembremos que figuras como Bolsonaro podem surgir em qualquer país. Figuras que, mesmo sendo medíocres, podem seduzir com suas atitudes teatrais. Vejamos Trump, o atual Presidente dos Estados Unidos, que também mostrou total insensibilidade diante dos casos de covid-19 em solo americano. E isso em um país de Primeiro Mundo.

Estamos vendo agora como votar errado pode ser danoso para toda uma nação. Será que desta vez iremos aprender? Temos de aprender a votar em candidatos que apresentem boas propostas, mostrem respeito por todas as pessoas e compromisso diante das responsabilidades que assumem. E Bolsonaro nunca mostrou nada disso.

Também está na hora de pararmos de esperar que um dia surja uma figura messiânica que vá consertar o Brasil.