GILMAR MENDES X BOLSONARO
 
Não tenho nenhuma simpatia pelo Ministro Gilmar Mendes. Sempre o vi comprometido com a ideologia patrícia (a ideologia dos senadores romanos que mataram Julio César) que dizia ser mais tolerável uma república corrupta do que uma ditadura honesta, por mais virtuoso que um ditador pudesse ser. Gilmar Mendes tem se mostrado muito condescendente com os políticos corruptos e com os criminosos de colarinho branco. Tanto que até o seu colega de toga, Luiz Roberto Barroso já o acusou de leniência no julgamento desse tipo de criminoso. Daí, tudo que ele fala, pelo menos para os meus ouvidos, deve ser tratado com restrições.
Mas no caso da sua última diatribe contra a presença maciça de militares no governo Bolsonaro, principalmente no Ministério da Saúde, não posso deixar de pensar que ela merece alguma reflexão. Nesse caso me parece que está havendo algum tipo de desvirtuamento da função constitucional das Forças Armadas. Não que os militares engajados em funções civis do governo não tenham competência para realizá-los. Talvez até tenham, mas não é para isso que foram treinados e nem é essa a missão que a Constituição lhes reserva na estrutura organizacional do país.
Tudo bem que Bolsonaro esteja buscando nas casernas grande parte dos seus auxiliares. Ele tem esse direito. Foi eleito legalmente e todo mundo sabia que ele era oriundo das Forças Armadas e ferrenho defensor da ditadura militar. Até aí tudo normal. Cada presidente busca nos meios de onde veio os seus auxiliares. Fernando Henrique buscou os seus nas universidades e Lula e Dilma pescaram os seus nos movimentos sindicais. O mal aí, como apontou o irascível Ministro do Supremo, é que, numa situação em que o próprio presidente, por suas falas e atitudes, agravou ainda mais a crítica situação sanitária que o país está vivendo, a tragédia do Covit 19 pode acabar sendo atribuída aos militares.
O Brasil está, claramente, perdendo a guerra contra o vírus. A derrota será fatalmente atribuída á falta de coordenação do governo federal, cujo presidente já trocou, em plena pandemia, três ministros. E ao atribuir a um general da ativa - que chamou para ajudá-lo um batalhão de militares – o comando dessa guerra, ele atrelou as Forças Armadas ao triste quadro que estamos vendo.
A vaidade pessoal do presidente, que não admite que ninguém apareça mais que ele, e a sua ideologia ultra direitista radical não o deixou, até agora, escolher um técnico que pudesse conduzir o Ministério da Saúde com a eficácia necessária para vencermos essa guerra. E se até um indivíduo da catadura do Ministro Gilmar Mendes está criticando o governo nesse mister, é porque já passou da hora de o presidente começar a tratar a coisa com mais seriedade e responsabilidade. Em nenhuma guerra, até hoje, o país perdeu tantas vidas como nessa “gripezinha” do presidente.