A Política-Propaganda de Bolsonaro
Muitos tem elencado em discussões virtuais e mesmo familiares os aspectos que os permitam acusar Bolsonaro e mesmo seus seguidores de fascistas. Não quero entrar neste campo, mas quero deixar uma análise que acho muito intrigante a respeito deste assunto.
O nazismo alemão foi muito caracterizado pelo uso intensivo da propaganda como meio político. Alguns pensadores defendiam que não só a política era um meio propagandístico, mas que era a propaganda a própria política. Inaugurando uma nova forma de poder em que propaganda e política se confundiam e se promiscuíam.
O nazismo também elegeu os judeus e outras minorias como causa da derrocada do Império Alemão e de uma alegada contaminação da raça alemã - ameaçando biológica e culturalmente sua integridade moral e intelectual. Toda a propaganda nazista se articulava em torno da superioridade da raça alemã e da constante ameaça das tais raças inferiores ao seu domínio.
A luta em todas as frentes para que a superioridade da raça ariana se encontrasse em todos os aspectos da sociedade e a ameaça de tudo que não fosse a ela relacionado, como uma ameaça á vocação de uma raça ao domínio sobre o mundo. Nada deveria se opor a tal projeto sem se opor por consequência aos desígnios daquele povo.
Não se pode esquecer que sem a máquina profissional de propaganda, encabeçada por Goebells, seria difícil unir o povo alemão em torno de mentiras, contadas mil vezes ou quantas vezes forem necessárias. Sem estas mentiras os campos de extermínios e genocídios seriam inconcebíveis.
A máquina de propaganda servia tanto a defesa de uma ideologia quanto para o ataque a moral e dignidade dos opositores. Ela era a extensão da luta messiânica encarnada por Hitler quase indissociáveis.
O governo Bolsonaro não pode ser comparado de forma alguma ao nazismo ou fascismo, por que se trata de movimentos políticos de outros contextos históricos.
Mas vejamos algumas práticas, que somente os incautos não conseguem perceber, e tire por sua conta e risco suas conclusões sobre o que é este governo:
Não há praticamente qualquer ação política que não tenha como alvo a reafirmação ideológica de sua cruzada contra o que denomina como esquerda ou o que esta tenha defendido como bandeira.
Todas as ações deste governo, a maioria sem fundamento científico ou conjuntural, não tem por objetivo resultados práticos. Não se trata de promover crescimento econômico, desenvolvimento social ou segurança. Mesmo por que se distancia claramente dos métodos que levariam a tais resultados.
A questão é a propaganda. Quando este governo resolve aumentar pontuação mínima para a suspensão da CNH não é a taxa de acidentes nas estradas que ele esta mirando. Quando resolve facilitar a posse e o porte de armas não é a segurança pública que ele esta mirando.
Quando resolve promover cloroquina e subestimar a gravidade da Covid-19 não é a saúde pública que ele tem por objetivo.
Por uma razão muito clara: se ele tivesse estes objetivos como alvo se embasaria em conhecimentos, tecnologias e gente qualificada sobre estes temas. Faria de tudo para que a ciência e técnicos fossem mobilizados em torno destes objetivos.
Da mesma forma, alguém se encontra enfermo, porém lúcido, não buscará qualquer médico para tratar sua saúde. Se puder pagar, escolherá o melhor.
Bolsonaro não é o enfermo, ele é a enfermidade que agrava o já adoecido Brasil. Como um parasita, ele não se importa em adoecer o hospedeiro às custas de lhe ruir a saúde e o precipitar a morte.
Sendo mais claro, depois deste breve desabafo, Bolsonaro confunde a política com propaganda. Ele não faz nada alvejando resultados concretos, como melhorara educação, a saúde, os negócios, relações internacionais ou algo assim.
Tudo é propaganda: a negação do Covid-19, armamentismo, a péssima relação com a imprensa, a política internacional lacaia aos EUA, a relativização dos danos aos meio ambiente. Que tem como objetivo negar as bandeiras assumidas pela esquerda, como se tudo que esta tocasse fosse dela instrumento de seus projetos políticos.
Não pensou duas vezes em jogar o país no segundo lugar mundial em números de contaminados simplesmente por entender que qualquer preocupação de cunho coletivo e solidário é balela. Por entender que qualquer preocupação que não seja com lucro, mas com pessoas, é bobagem de comunista.
Se opõe mesmo à ciência e a especialistas quando estes representam bandeiras e preocupações que se confundem com a de militantes de esquerda, tais como meio ambiente, pautas identitárias, redução da pobreza, da violência contra as minorias negras, etc.
Todo seu movimento é um marketing em que ele afirma constantemente uma ideologia que coloca a esquerda como um bode expiatório para males que remontam nossa colonização e encarna a salvação contra um inimigo que ele mesmo superestima e coloca na conta todos os males assolam o país.
Então temos aqui a narrativa que sustenta a política-propaganda de Bolsonaro: a esquerda como o explicação essencial do que considera atraso, imoralidade e corrupção no Brasil e ele como um representante puro e incólume do anti-esquerdismo.
Alguém escolhido para esta missão e para extirpar a esquerda de todos os espaços que ela ocupa e de qualquer bandeira que possa representa-la.
Seu governo de política-propaganda não almeja resultados concretos, almeja se realizar como uma ideologia salvadora e em batalha contra um inimigo que estaria em toda parte, oculto ou prestes a atacar. Todo seu movimento se explica em razão de sua ideologia.
Quando age de forma concreta é em função de uma guerra ideológica que ele opera. Enquanto defende curar o Brasil de problemas ideológicos, o verdadeiro Brasil padece de problemas concretos que não encontram em suas guerras o engajamento correto, no máximo o seu uso como propaganda como um meio e não um fim.
Por isto é um governo parasitário, com fins próprios, que se utiliza do poder lhe conferido pela nação para travar uma guerra que nada tem a ver com o país e com os problemas que ele enfrenta. Drena os recursos e energias do Brasil para fins que não lhe interessam ou lhe façam progredir.
A estrutura implantada no Planalto que comandava uma rede de fake news e de bots pelo Brasil, Gabinete do Ódio, não deixa dúvida de que este governo vai muito além das peripécias de um demagogo - figura conhecida desde os antigos gregos.
Não se trata de um governo que se dedica inteiramente aos poderosos, como de Michel Temer. Não se opõe a eles, mas parece ter um projeto próprio e muitas vezes danosos aos dos poderosos ( basta lembrarmos de um grupo de empresários procurar o vice presidente Mourão quanto a questão ambiental para se queixar de Ricardo Sales).
No final das contas, temos aqui uma espécie muito pouco comum de política, mas com o mesmo objetivo das outras: a conquista e permanência no poder.
Os historiadores no futuro saberão explicar como nestes dias infames estivemos tão próximos do abismo.