O DIA SEGUINTE A REVOLUÇÃO DE 1964

Francisco de Paula Melo Aguiar

A Revolução de 31 de março de 1964, uma vez terminadas as manifestações ideologicamente contrárias em todo o país, tiveram inicio as manifestações de apoio e de solidariedade pela implantação da nova ordem democrática e social. A nação livre do comunismo iminente. É essa a visão que se tem diante dos fatos que aqui vão ser contados, segundo os jornais, livros e discursos proferidos na Paraíba e em Santa Rita não foi diferente por parte de sua população a começar pelo prefeito municipal Heraldo da Costa Gadelha, a maior liderança popular e política no exercício do poder local.

A UPES - União Pessoense dos Estudantes Secundários, divulga nota pública prestando solidariedade aos estudantes pessoenses de grau secundário e bem assim as Forças Armadas, à Guarnição Federal da Paraíba e ao Governo do Estado, alegando e exaltando a relevante ação em prol das instituições democráticas e em defesa das liberdades do povo brasileiro, pois, o Brasil continuará sendo livre dos agitadores e comunistas do regime de Pequim e Moscou, e para defendê-lo se for preciso tem que passar por cima dos cadáveres dos estudantes pessoenses, segundo a fala do presidente daquela agremiação. (A UNIÃO, 05/04/1964).

A Paraíba e de modo particular Santa Rita, dentre outros municípios paraibanos, a exemplo da própria capital do Estado via a liderança do governador Pedro Moreno Gondim, foi às ruas e participou efetivamente da “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, com apoio de parte da então sociedade civil como prova de demonstração de apoio a nova ordem implantada pelo Golpe Militar de 31 de março de 1964. Isso é fato e contra fato não se tem argumento. É importante mencionar de que o evento de apoio posterior ao Golpe Militar de 1964 foi organizado pelo MAFEP – Movimento de Arregimentação Feminina do Estado da Paraíba, inclusive com o apoio do então prefeito de Santa Rita – Heraldo da Costa Gadelha/PSB, que determinou:

“[...] ponto facultativo para os trabalhadores desta Prefeitura, no expediente da tarde do dia 8 do corrente a fim de que possam participar das festividades cívico-religiosas “A Marcha da Família com Deus pela liberdade”, que se realizará na capital do estado.” (A UNIÃO, 08/04/1964, p.4 ].

De modo que a marcha ocorreu praticamente em todos os municípios paraibanos (CITTADINO, 1998).

A União (07/04/1964) menciona que a marcha percorrerá várias artérias de João Pessoa, tendo como ponto de partida o Parque Sólon de Lucena e que usarão da palavra o governador Pedro Moreno Gondim, dentre outros líderes democráticos, indo em seguida para o Adro da Catedral de Nossa Senhora das Neves, onde o Arcebispo Dom Mário de Vilas Boas, celebrará uma missa em ação de graças pela vitória da revolução democrática, tamanha era a satisfação de parte da sociedade e governo paraibano em festejar o Golpe Militar de 1964 naqueles dias iniciais do regime que iria durar mais de duas décadas.

A exemplo do prefeito de Santa Rita, o governador Pedro Moreno Gondim determinou que as repartições públicas estaduais funcionassem no turno da manhã do dia 8 de abril de 1964 para que as pessoas de todas as classes sociais e religiosidades pudessem participar da referida marcha, com a alegação de que:

[...] todos os que acreditam em Deus, todos os que amam a Pátria e todos os que veneram a sublimidade da família, devem vir á rua, para mostrar aos extremistas fanáticos a inexpugnabilidade da fortaleza democrática paraibana. (A UNIÃO, 08/04/1964, p.3).

E o jornal oficial do governo paraibano informa que: “[...] o povo pessoense dará, na tarde de hoje, a sua maior demonstração de fé democrática e tradição cristã, num repúdio formal ao comunismo ateu e sanguinário”, segundo A União (08/04/1964, p.3).

De modo que durante o andar da carruagem da historicidade do regime novo implantado é importante mencionar de que no dia seguinte a revolução e /ou ao pós-golpe militar de 1964, o Liceu Paraibano continuou a ser um dos focos principais da resistência estudantil e bem assim da consolidação da ditadura no Brasil. (SCOCUGLIA, 2020).

Em síntese, grande parte da sociedade aderiu de mala de cuia na participação da “Marcha da Família com Deus”, uma nítida, lúcida e clara tentativa que vem assim corroborar na busca em querer moldar os universos, os desenhos e/ou as memórias de então do pós-golpe de 1964 de forma positiva, porém, ressaltamos de que durante tal regime, pensar diferente e ou ter opinião própria e/ou contrária e/ou não consensual, significa dizer que “o outro é desprovido de qualquer valor porque é subversivo e, por isso, deve ser silenciado, reprimido, banido do espaço público”, segundo Germano (2008, pp.321-322].

E em Santa Rita não foi diferente!

...........................................

REFERÊNCIAS

A UNIÃO, edição de 05/04/1964.

_______, edição de 07/04/1964.

_______, edição de 08/04/1964.

CITTADINO, Monique. Populismo e Golpe de Estado (1945-1964). João Pessoa: Editora/UFPB/Ideia, 1998.

GERMANO, José Willington. O discurso político sobre a educação no Brasil autoritário. In.: Cadernos Cedes, Campinas/SP, vol. 28, n. 76, p. 313-332, set./dez. 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v28n76/a03v2876.pdf >. Acesso em: 05.jan.2020.

SCOCUGLIA, Afonso Celso. Liceu Paraibano: histórias e memórias da década de 1960. II Congresso Brasileiro de História da Educação (II CBHE), 2002. Disponível: <http://sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema7/7131.pdf >. Acesso e: 03.abr.2020.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 10/07/2020
Código do texto: T7001580
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.