O encantador sorriso da perversão
Segundo a OMS a fase em que o covid-19 mais se dissemina por contágio humano é a pré-sintomática. Nesta fase, é possível detectar o vírus através de teste. Nela, a chance de contágios é quase zero e a chance de cura do paciente é muito maior. Chama-se fase de "rastreio de contagio". (Apenas 8737 testes por milhão foram feitos até 04jun20 no Brasil).
Fonte https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/06/06/brasil-inclui-testes-rapidos-ineficazes-em-estatisticas-de-covid-19.htm ).
No entanto, os políticos estão decidindo que se trate do paciente somente após os sintomas causados pelo covid-19 terem se manifestado. Com esse procedimento, alardeiam aos quatro ventos que obedecem os protocolos como se esses discursos (portanto, dispositivos de gestão de poder), fossem divindades únicas reveladas pela eucaristia da ciência em forma de religião. Por que isso acontece? Por que tomam a decisão de transformar em teste a própria sintomatização do paciente? Por que pedem a nossa fé para nela dormimos embalados no berço da fina e indiscreta membrana da negação ? Por que constroem a espetacularização da vida com medidas irrisórias interpretadas num teatro burlesco em que sempre simulam ser os principais heróis e atores? Por que ao invés de produzir a medicina preventiva e de mitigação correta na fase pré-sintomática, fase de maior chance de cura e menor sofrimento para o paciente (o que é absolutamente possivel), optam pela medicina clínica ou pós-sintomática, de mais sofrimento, menores chances para o paciente e causadora de maior ocupação de leitos?
Existe uma ciência séria, mas, existe também a promíscua relação ciência-política que finda por parir um certo dogmatismo pragmático que encena protocolos de cientificidade e que triam crenças e costumes, orientam discursos e decisões.
Aqui, não estamos mais no campo da ética, mas, no campo da transubstanciação da verdade em ideologia populista e da manipulação genocida. A política da morte atua assim. Ela se imiscui pelas sendas das narrativas e busca se legitimar no coração dos dispositivos de poder por meio da legislação em curso. Os agentes são o bando que tomaram o poder de assalto, juridicamente; por ordem legal, conforme ao que o filósofo Paulo Arantes, num artigo primordial denomina com fina ironia de "colaboradores zelosos" infiltrados na máquina administrativa do estado para garantir a operação cirúrgica eficaz do Sale Boulot: o maior trabalho sujo da história. *
Outra pergunta. Por que se está flexibilizando o isolamento social justo no ponto de maior pico de contágios e que promete crescer ainda mais? Por que a declaração do atual secretário estadual da saúde do governo Joao Doria quanto a afirmar que São Paulo não corre mais o risco de colapsar por falta de leitos sendo que mal estabilizamos platôs de menos do exigido de 15 dias para redução de contágios próximo de um?
As perguntas insistem: por quê?
* "Quem tolera o intolerável – por assim dizer tricotando enquanto se assiste ao desfile da charrette dos condenados ao aterro sanitário social, como nos tempos em que se vivia sem maiores états d’âme à sombra da guilhotina –, sob a alegação meio sonsa de que
a nova e intratável aflição econômica é menos uma flagrante violência social do que mero efeito colateral de uma dominação sem sujeito, não apenas consente mas colabora, mas agora na acepção infamante com que se designava os cúmplices do inominável, pouco importa se por rasteiro oportunismo ou por vileza política."
Arantes, P. E. (2011). Sale boulot: uma janela sobre o mais colossal trabalho sujo da história: uma visão no laboratório francês do sofrimento social. Tempo Social, 23( ju 2011), 31-60. Recuperado de http://www.scielo.br/pdf/ts/v23n1/v23n1a03.pdf
SP, 09jun20