A engenharia e o bem estar social

A engenharia e o bem estar social

Alexandre Santos*

Desde os primórdios da história, interessada em desfrutar conforto e em alongar e aumentar a qualidade da vida, a humanidade vem, com a aplicação combinada de arte e engenho, impondo progressivo domínio sobre a natureza, domando os elementos, abrandando climas, ajustando topografias, extraindo e beneficiando recursos, criando materiais, construindo abrigos seguros e convenientes, garantindo alimentação saudável e nutritiva, vencendo doenças, contendo pragas, encurtando distâncias, acelerando viagens e reinterpretando dinâmicas. A combinação de arte e engenho a partir do avanço científico e tecnológico para tornar melhor a vida chama-se engenharia.

No entanto, ao contrário de outras artes, como a medicina e o direito, a aplicação da engenharia nem sempre recebe o reconhecimento das pessoas. Elas parecem não atentar que, desde o instante em que acordam (quando despem pijamas confeccionados com fibras cultivadas pela engenharia agronômica e tecidas e costuradas em máquinas criadas pela engenharia mecânica e se asseiam com água tratada pela engenharia sanitária e sabonetes e cremes criados pela engenharia química) até aquele em que voltam a dormir (retornando às camas projetadas por arquitetos e construídas com madeiras selecionadas por engenheiros florestais e passam horas guarnecidas pela ventilação e refrigeração proporcionada por equipamentos criados e construídos pelos engenheiros eletricistas), se servem de seres (animados e inanimados) beneficiados, tratados, purificados, concebidos, projetados e construídos pela engenharia.

Há engenharia por todo o nosso entorno: nas maternidades, nas casas, nos hospitais, nas estradas, nos alimentos, nos transportes, enfim, em tudo. Não é a toa que cerca de 65% das riquezas produzidas no País passam, direta ou indiretamente, por processos relacionados à engenharia. Mesmo assim, a sociedade parece não ver a engenharia como elemento fundamental para a conquista e manutenção do bem estar.

Na realidade, no imaginário de muitas pessoas, ao invés de parte essencial à melhoria da qualidade de vida, a engenharia é um setor econômico associado a coisas nocivas, como exploração de mão de obra, agressão ao meio ambiente e, mesmo, corrupção. Esta visão é injusta com a engenharia e com os engenheiros, que não podem ser penalizados pela irresponsabilidade e desonestidade daqueles que a usam unicamente como forma de atingir objetivos egoístas, limitados e circunstanciais. Ao contrário do que muitos pensam, o objetivo da engenharia não é enriquecer profissionais e empresas do setor e, sim, resolver problemas e melhorar a qualidade de vida, sendo a geração de riquezas e conquista da fortuna uma consequência do papel social por ela cumprido.

É hora dos engenheiros quebrarem o silêncio que caracteriza a profissão para bradar a contribuição da engenharia ao lado bom da vida e aumentar o protagonismo da categoria no processo decisório em todas as esferas administrativas do País. Só assim vão ganhar a simpatia do imaginário da sociedade e ampliar a sua contribuição ao processo de conquista do bem estar.

(*) Alexandre Santos é presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco, ex presidente da União Brasileira de Escritores (UBE) e coordenador nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural