É hora de reagir

É hora de reagir

Alexandre santos *

O Brasil é um país muito jovem e, em muitos aspectos, ainda está por ser construído.

Criado a partir da invasão de um território quase virgem e da expulsão dos antigos moradores pelo colonizador aventureiro, o Brasil se fez a partir da aplicação e desenvolvimento de conhecimentos trazidos da Metrópole (especial e principalmente, conforme a época, de Portugal, da Inglaterra, da França e dos Estados Unidos). Este pano-de-fundo dá sustentação ao modelo de submissão cultural, conhecido por muitos como 'complexo de vira-latas' ou 'complexo de capacho', que contamina e modula o modo de pensar e de agir de muitos, especialmente da falsa burguesia dos novos tempos, que, aparentemente, só se sente segura quando amparada, permitida e policiada pelo pensamento estrangeiro. Aliás, em descompasso com a evolução sociológica - que, com o passar do tempo, a partir da miscigenação das populações invasoras, nativas e importadas, criou uma genuína raça brasileira -, a aristocracia formada no Brasil, além de resistir e, mesmo, combater a ascensão econômica e social das demais classes, [a aristocracia] se recusa a abrir mão da liderança estrangeira e a abandonar o comportamento subserviente e xenófilo que as marca.

Pouco a pouco, no entanto, contornando o imobilismo inerente às elites, em processo mais (ou menos) intenso em função da correlação das forças sociais e econômicas prevalecentes na ocasião, o Brasil passou a confiar mais nas suas próprias potencialidades, exercendo aquilo que se convencionou chamar de Soberania. Naturalmente, por atiçar os medos implícitos na submissão cultural que lhes deixa confortáveis e talvez sem perceber os choques de interesses envolvidos, esta nova burguesia costuma se alinhar às vontades estrangeiras, desdenhando a soberania nacional e contribuindo, intencionalmente ou não, para sufocar e atrapalhar o crescimento econômico e, com um toque de malvadeza, anular avanços sociais.

Infelizmente, nos dias correntes, a partir do golpe de 2016, com o retorno ao poder da aristocracia mais afinada com o exterior, os esforços para a afirmação da soberania nacional refluíram e o sentimento xenófilo e de submissão [ao interesse estrangeiro] parecem ter assumido sua maior expressão, sacrificando, ainda mais, o crescimento econômico e o desenvolvimento social, deixando dúvidas sobre quem, de fato, governa o Brasil e evidenciando ataques contra a humanidade através de sádicos que não se incomodam e, mesmo, se locupletam com a iniquidade social que toma conta do País.

Como mostram os processos de desnacionalização já consolidados da Embraer, da Base Aeroespacial de Alcântara, de alguns dos principais aeroportos, de refinarias e [os processos] em curso para desnacionalizar jazidas do petróleo pré-sal, do aparato tecnológico e operacional da Eletrobrás e de outros ativos importantes do patrimônio público, o abandono do interesse nacional parece assumir a condição de projeto de governo da Administração Bolsonaro, ferindo os brios cívicos de patriotas, obrigando-os a reagir.

Assim, de modo a conter irresponsabilidades xenófilas e evitar o aprofundamento das causas que paralisam a economia do País e fazem sofrer a população, especialmente as camadas mais pobres, muitos seguimentos consequentes da sociedade brasileira clamam por um regime de convivência que priorize o interesse nacional e retome o crescimento econômico com base no fortalecimento do mercado interno através do aumento do poder de compra dos brasileiros. Esta luta é essencial para o bem estar da Nação, pois a prevalência do interesse nacional e a dinamização do mercado interno abrem caminho para a reversão de perversidades desnecessárias e para a restauração de direitos recentemente suprimidos. Por último, vale dizer que, neste caso, a plena construção do Brasil - um processo tolhido pela insuficiência da ação econômica, da rede de infra-estrutura e dos aparatos produtivos disponíveis - ganha impulso, pois, por si só, a retomada do crescimento econômico reanima a engenharia e, aí, cabe o alerta, como luta subjacente e adicional, emerge o esforço de valorização das empresas e dos profissionais brasileiros, que, como muitos sabem, foram as primeiras vítimas do recente esforço orquestrado para solapar a economia nacional com vistas a criar a crise que nos trouxe à situação atual.

Seja como for, ninguém duvida de que, se não houver pronta reação, a grave crise vivida atualmente pelo Brasil deixará grandes sequelas, algumas irreversíveis e capazes de comprometer o futuro da Nação.

Não mais como esperar. Esta é a hora da reação.

(*) Alexandre santos é ex presidente da União Brasileira de Escritores (UBE), presidente do Clube de Engenharia de Pernambuco e coordenador nacional da Câmara Brasileira de Desenvolvimento Cultural