O GIGANTE IDIOTA
Iniciei minha carreira como professor em 1970, em plena ditadura militar. Época em que matérias que criticavam o governo eram censuradas e substituídas por estrofes do Lusíadas, versos de Olavo Bilac, Castro Alves e outros poetas. Nos colégios onde eu lecionava havia professores, alguns pertencentes á Policia Militar ou ao exército, que eram patrocinados pelo regime militar para se formar numa faculdade de filosofia, e depois se empregar como docentes para espionar os colegas.
Faz exatamente cinquenta anos o começo dessa história. Na época xingávamos Deus e todo mundo ─ Deus ás claras e o governo á boca pequena ─ pela situação em que vivia a educação no Brasil. O governo militar havia substituído os antigos currículos que separavam os estudos clássicos dos científicos por outro que oferecia uma opção para quem quisesse seguir carreiras técnicas. Esse currículo contemplava, entre outras coisas, uma clara opção para a propaganda ideológica, com a inclusão obrigatória das chamadas matérias de Educação Moral e Cívica, cujo único objetivo era fazer a sustentação filosófica do regime. Quem dava essas aulas eram os professores formados pelo regime, é claro. Uma boa parte deles com cursos na famosa Escola Superior de Guerra.
Cinquenta anos depois, o que mudou no país? Recuperamos a liberdade, retomamos as ruas, elegemos governantes de nossa livre escolha. E dai? O país continua com um dos mais baixos índices de educação no mundo. A pátria dos generais que diziam “Ame-o ou deixe-o” passou a ser a pátria dos políticos que esvaziam os cofres públicos, dilapidam o patrimônio nacional e ainda riem na nossa cara, por que sabem que sairão impunes. Os militares botavam os professores na cadeia quando falavam mal deles. Hoje, a polícia dos nossos democráticos governadores bate nos professores na rua mesmo quando eles tentam se manifestar. Claro que é melhor apanhar na rua e poder voltar para casa com a cara ensanguentada do que apanhar na cadeia ou se "enforcar voluntariamente” como Wladimir Herzog, mas serão essas as únicas opções que nos restam?
Naquele tempo se dizia que nós éramos um bando de idiotas que ajudávamos a formar um povo idiotizado. O que foi que mudou neste meio século? Entre Golbery do Couto e Silva, Paulo Freire e Olavo Carvalho, que diferença há? Ou entre o ufanismo do Amaral Neto, O Big Brother da Globo e os discursos dos evangélicos da Record? Continuamos a formar outros idiotas acreditando que estamos educando alguém. Como Jesus dizia, quando um cego guia outro os dois caem no abismo...
Brasil “Ame-o ou deixe-o”. Brasil “Pátria Educadora”, “A pátria acima de tudo e Deus acima de todos”. Cinquenta anos de mentiras ideológicas. E nós continuamos a cair nelas escolhendo um lado ou outro, como se estivéssemos assistindo à uma partida de futebol. Será que algum dia este país deixará de ser um gigante idiota, deitado eternamente em berço esplêndido? Só Deus sabe.
Iniciei minha carreira como professor em 1970, em plena ditadura militar. Época em que matérias que criticavam o governo eram censuradas e substituídas por estrofes do Lusíadas, versos de Olavo Bilac, Castro Alves e outros poetas. Nos colégios onde eu lecionava havia professores, alguns pertencentes á Policia Militar ou ao exército, que eram patrocinados pelo regime militar para se formar numa faculdade de filosofia, e depois se empregar como docentes para espionar os colegas.
Faz exatamente cinquenta anos o começo dessa história. Na época xingávamos Deus e todo mundo ─ Deus ás claras e o governo á boca pequena ─ pela situação em que vivia a educação no Brasil. O governo militar havia substituído os antigos currículos que separavam os estudos clássicos dos científicos por outro que oferecia uma opção para quem quisesse seguir carreiras técnicas. Esse currículo contemplava, entre outras coisas, uma clara opção para a propaganda ideológica, com a inclusão obrigatória das chamadas matérias de Educação Moral e Cívica, cujo único objetivo era fazer a sustentação filosófica do regime. Quem dava essas aulas eram os professores formados pelo regime, é claro. Uma boa parte deles com cursos na famosa Escola Superior de Guerra.
Cinquenta anos depois, o que mudou no país? Recuperamos a liberdade, retomamos as ruas, elegemos governantes de nossa livre escolha. E dai? O país continua com um dos mais baixos índices de educação no mundo. A pátria dos generais que diziam “Ame-o ou deixe-o” passou a ser a pátria dos políticos que esvaziam os cofres públicos, dilapidam o patrimônio nacional e ainda riem na nossa cara, por que sabem que sairão impunes. Os militares botavam os professores na cadeia quando falavam mal deles. Hoje, a polícia dos nossos democráticos governadores bate nos professores na rua mesmo quando eles tentam se manifestar. Claro que é melhor apanhar na rua e poder voltar para casa com a cara ensanguentada do que apanhar na cadeia ou se "enforcar voluntariamente” como Wladimir Herzog, mas serão essas as únicas opções que nos restam?
Naquele tempo se dizia que nós éramos um bando de idiotas que ajudávamos a formar um povo idiotizado. O que foi que mudou neste meio século? Entre Golbery do Couto e Silva, Paulo Freire e Olavo Carvalho, que diferença há? Ou entre o ufanismo do Amaral Neto, O Big Brother da Globo e os discursos dos evangélicos da Record? Continuamos a formar outros idiotas acreditando que estamos educando alguém. Como Jesus dizia, quando um cego guia outro os dois caem no abismo...
Brasil “Ame-o ou deixe-o”. Brasil “Pátria Educadora”, “A pátria acima de tudo e Deus acima de todos”. Cinquenta anos de mentiras ideológicas. E nós continuamos a cair nelas escolhendo um lado ou outro, como se estivéssemos assistindo à uma partida de futebol. Será que algum dia este país deixará de ser um gigante idiota, deitado eternamente em berço esplêndido? Só Deus sabe.