CHEIRO DE 1964?
 
Estudiosos da psicologia da linguagem têm comprovado que as expressões verbais que uma pessoa costuma usar em sua comunicação refletem, em grande parte, a sua personalidade. Isso é tão óbvio que, às vezes, é surpreendente a facilidade com que nos enganamos com elas, quando bastaria ouvir um pouco da sua comunicação verbal para saber como ela pensa. De fato, nós somos o que falamos.
Bolsonaro foi muito claro em suas promessas de campanha. Não enganou ninguém. Nem está enganando agora. A gente é que não presta atenção. Basta ouvir suas expressões mais usadas para saber o que se passa na cabeça dele. Expressões do tipo “eu mando”, “ a caneta é minha”, “eu sou o chefe”, “eu não admito” etc., denotam o seu caráter autoritário e centralizador, próprio de um autocrata que está acostumado a mandar e ver todo mundo dizer "sim senhor". 
Nada a estranhar. Todo mundo sabia que ele era um capitão do exército que foi reformado compulsoriamente, por mostrar rebeldia e inconformidade com o fato de as Forças Armadas estarm apoiando o regime democrático e conformadas ào seu papel constitucional. Ele faz parte de uma ala do exército que sonha com a volta do regime militar e nunca fez questão de esconder suas inclinações autoritárias. Durante seis mandatos elegeu-se deputado, sustentado por um eleitorado ultra direitista e todas suas atitudes no Congresso foram no sentido de louvar a memória do regime militar e sonhar com a sua volta..
Deve-se reconhecer que ele ganhou a eleição legitimamente e governa também com legitimidade. Por isso falar em impeachement, neste momento, seria golpe. Mas nada nos impede de pensar que todo esse embate que ele está patrocinando, contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, não seja uma estratégia dele e de seus apoiadores, justamente para conduzir o país a um impasse, no qual o povo brasileiro seja obrigado a escolher entre uma ditadura de direita e uma democracia, que no entender dele só serve para patrocinar a corrupção e sustentar vagabundos esquerdistas. Até o problema do Covid 19 parece estar sendo aproveitado por ele, no sentido de levar o país a um estado de calamidade pública no qual se justifique a implantação de um estado de exceção para fins de controlar o caos que poderá ser instalado se essa pandemia não for controlada e a economia entrar em colapso. 
Não sou adepto de teorias da conspiração, mas para quem já viu um presidente cometer suicídio, um que renunciou, outro que foi derrubado por um levante militar, outro que morreu sem assumir, dois que foram tirados do cargo por impeachement e um que foi parar na cadeia, nada mais me assusta nem espanta. Há tempos atrás esse grupo de simpatizantes do regime militar estava procurando um general. Achou um capitão. Não é muito, mas para o momento atual, serve.
Há um cheiro de 1964 no ar. Nada que preocupe. Afinal, como disse o Eclesiastes, não há nada de novo em baixo do sol.