CHESSMAN - UM INOCENTE EXECUTADO NA CÂMARA DE GÁS
Eram 10 da manhã de 02/05/1960, quando as pedras de cianeto caíram no ácido sulfúrico. Começava a execução de Caryl Chessman na prisão de San Quentin, na Califórnia. De repente, o telefone tocou para suspender sua morte na câmara de gás, mas era tarde demais. Terminava assim uma história que sacudiu o mundo durante 12 anos, desde a sua prisão em 1948.
Chessman nasceu em 1921, em Michigan, e era filho único de um devotado casal de Batistas. Em 1922, a família mudou-se para Glendale, na Califórnia. Sua mãe sofreu um acidente de carro em 1929 e ficou paralítica numa cadeira de rodas. Quando criança, Chessman teve asma e também contraiu encefalite. Sua família foi duramente atingida durante a Grande Depressão. Ele começou a furtar comida e outros itens para ajudar a família. Nessa época trocou a pronúncia de seu prenome de Carol para Caryl. Em julho de 1937, ele foi preso furtando um carro e enviado para o reformatório. Após ser solto, em abril de 1938, ele foi preso novamente furtando outro carro. Em outubro de 1939, foi enviado para Los Angeles após furtar mais um carro.
Em Los Angeles, Chessman envolveu-se com uma gangue juvenil chamada Boy Bandit Gang e passou a ser líder dela. Preso por roubo, ele foi enviado para a prisão de San Quentin e depois transferido para outra prisão estadual. Fugiu em outubro de 1943, mas foi recapturado um mês depois. Condenado a cinco anos de prisão, ele permaneceu na prisão estadual de Folsom até ser solto em dezembro de 1947 e retornar para Glendale.
Em janeiro de 1948, houve uma grande reviravolta em sua vida. A cidade de Los Angeles ficou abalada por uma série de assaltos à mão-armada contra jovens casais em carros. Em 23 de janeiro, Chessman e David Kowles foram presos com um carro roubado, após perseguição policial. Após 72 horas de interrogatório, sem a presença de advogado e sob coação, Chessman confessou ser o Bandido da Luz Vermelha. Foi indiciado em 18 acusações de roubo (incluindo estupro e sequestro). Em maio, após três semanas de julgamento, ele foi condenado à pena de morte. Seu cúmplice no roubo do carro teve a condenação revertida em apelação porque tinha havido abuso da lei e falta de evidência incriminatória.
O Bandido da Luz Vermelha usava carro Ford de cor clara com duas portas, colocava luz vermelha no teto para simular ser policial e, assim, abordava jovens casais que não tinham tempo de reagir ou fugir de um homem descrito como tendo cabelos pretos curtos e lisos, dentes tortos e uma cicatriz acima do olho esquerdo.
O júri era formado por onze mulheres e um homem. A promotoria não tinha nenhuma acusação de homicídio para pedir pena de morte. Então, ao revisar as 18 acusações, a promotoria encontrou que uma menor de idade havia sido agarrada pelo braço e levada de carro para outro lugar. Ao criar a figura do sequestro relâmpago (com base na lei de sequestro de menor – bebê do aviador Charles Lindbergh), a promotoria conseguiu qualificar o pedido como pena de morte. Duas vítimas testemunharam e reconheceram o acusado no tribunal. Uma das vítimas de estupro ficou esquizofrênica e ficou permanentemente internada. O destino estava selado para o acusado.
Durante doze anos, Chessman empreendeu uma das maiores batalhas jurídicas da história dos Estados Unidos contra a pena de morte. Na prisão, ele estudou Direito e escreveu quatro livros: 2455 – Cela da Morte; A Lei Quer Que Eu Morra; A Face Cruel da Justiça; O Garoto era um Assassino (romance). Todos transformaram-se em best-sellers internacionais. Famosos escritores e intelectuais participaram de abaixo-assinado contra sua execução.
Chessman recusou-se a ter advogado, que poderia ter negociado uma pena (plea bargain) que não fosse a de morte, pois queria provar sua inocência. Chessman tinha cabelos pretos curtos e lisos, dentes frontais perfeitos e não tinha cicatriz acima do olho esquerdo. Ele foi preso ao roubar um carro Ford de cor escura e de quatro portas. O proprietário do carro afirmou não ser dono da luz vermelha encontrada dentro do veículo, após esse ser recuperado pela polícia.
Chessman sempre reconheceu a vida criminal de furto de carro, mas sempre negou ser o Bandido da Luz Vermelha. Sua defensora pública Rosalie Asher, indicada para apelação na Suprema Corte da Califórnia, despachava com o juiz Goodman que ouvia toda a argumentação da defesa. A foto de outro indivíduo (Charles Terranova – com longa ficha criminal no FBI por roubo e estupro) estava anexada à petição para provar o erro de identificação por parte das testemunhas, traumatizadas pelo estupro e induzidas pela polícia no reconhecimento pessoal apenas do acusado (e não por fotos ou entre vários suspeitos em sessão de reconhecimento). A chamada telefônica para a prisão de San Quentin tardou por erro de discagem. Era muito tarde quando foi completada a ligação. Um inocente havia sido executado.