Populismo
Mais do que importante, o entendimento de que populismo não é nenhuma ideologia, ou corrente econômica, ou política, ou social. Não é nenhum modelo estrutural desses pilares mencionados da gestão pública. Populismo é um modo é um estilo de governo.
Não existe possibilidade dessa prática sem um líder carismático, um mito.
O primeiro termo por associação a populismo é demagogia, que inicialmente tinha o significado da arte ou poder para conduzir o povo, mas que depois, por causa do baixo nível de política praticado, passou a ter o significado de talento para manipulação, manobra das massas. Exemplo de demagogia seria o indivíduo engrandecer a si próprio para atrair o reconhecimento ou admiração .
Ilustração: um chefe de Estado e de governo dirige-se ao povo e se engrandece sobre determinada peste que assola seu país: “devido minha formação, os treinamentos recebidos e minha condição atlética, essa peste não tem condição nem de chegar perto de mim”.
De volta ao populismo, vamos tentar identificá-lo com algumas características:
existência de líder carismático, mito;
relação direta do líder com a massa;
eleição pelo líder de algum conceito, concreto, ou abstrato e criação de vínculo entre o líder e a massa (nação; pátria, povo; pobres; excluídos) e, muitas vezes, também imagem que o simbolize, mas com o mesmo objetivo de vínculo com a massa (pai dos pobres, presidente bossa nova, homem da vassoura, caçador de marajás, lenhador presidente, metalúrgico presidente, capitão do povo);
divisão social em torno de si, ou do conceito criado (getulistas e anti-getulistas, os nacionalistas e os entreguistas, os patriotas e os antipatriotas... );
implanta sentimento de ódio e desconfiança entre os grupos extremos, que se dividem socialmente ;
o líder, com seu carisma, ou o mito consegue com o grupo polar a seu favor, por meio de vínculo passional que lhe perdoe, ou aceite, ou, até, negue posturas inconstitucionais, atos de corrupção, comportamento indecorosos com o cargo e outras mazelas;
o líder deixa-se confundir Estado com governo e cargo com sua pessoa física;
o poder exercido pelo líder é em nome do conceito de identificação criado (se ajo em nome da pátria, da tradição e da família, ou do povo, ou da injustiça social..., então os atos são mais do que válidos e acima de qualquer suspeita;
qualquer ação que favoreça ao conceito simbólico criado é jogado massivamente na mídia (ou pela mídia oficial com as verbas de propaganda, ou com grupo responsável por propagandear nas mídias horizontais) de forma a ligar o feito à liderança carismática, ou mito; e
modo de relação com o povo, sempre acompanhado de anseios de poder máximo com depreciação das instituições e desequilíbrio entre os poderes republicanos.
Deve-se deixar claro que esse modo, esse estilo de governo não implica sempre em resultados desastrosos da gestão da coisa pública. Ou seja, o estilo, o modo de governo populista não implica necessariamente num mau governo. Mas dificilmente, pode ser desempenhado sem confundir-se com demagogia no seu sentido pejorativo.
Também, importante frisar, que esse modo de governo implica necessariamente em grandes prejuízos para o desenvolvimento político e humano do povo.
Quanto ao desenvolvimento político diz respeito ao fato deste estilo estar relacionado ao desenvolvimento de critério passional de escolha pelo eleitor, bem como a amostragem histórica das lideranças populistas demonstra forte inclinação ao autoritarismo, mesmo que algumas vezes travestido de habilidade na negociação e persuasão.
Com relação ao desenvolvimento humano, essa relação do populista com seu povo, por estar totalmente alicerçada na irracionalidade da paixão, desenvolve um processo de submissão indireta ao líder, transferida por meio do vínculo da massa com o conceito intimamente identificado com o líder.
Sem exageros, essa relação nesse estilo de governo, segundo os estudiosos e analistas das sociedades mais reconhecidos, é doentia. Ou seja, essa relação depende de sociedade potencialmente doente.
Para fortalecer esse diagnóstico vamos fazer correspondências entre as relações de paixão de casal. Essa relação muito conhecida nos divãs de psicanalistas e psicólogos é denominada sado masoquista. Na relação o papel do sádico é desempenhado pelo líder e o do masoquista por cada eleitor, potencialmente doente.
A irracionalidade dessa relação passional, denominada pelo destacado psicanalista da sociedade contemporânea, Erich Fromm, de “União Simbiótica”, pode ter sua causa representada por: “o indivíduo tenta sujeitar-se a pessoa ou poder, que considera irresistivelmente superior. O masoquista foge do insuportável sentimento de isolamento e separação tornando-se parte e porção de outra pessoa, que a dirige, guia, protege; que, em suma, é sua vida e seu oxigênio”.
O eleitor, doente em potencial, renuncia a sua integridade, torna-se o instrumento de alguém ou de algo fora dele próprio, passa a fazer parte de tão bem caracterizada, “massa de manobra”.
Portanto, todo indivíduo, desse coletivo de eleitores historicamente forjado nesse estilo, nesse modo de governo, ou seja, com a boca torta pelo vício do cachimbo do populismo, da demagogia, se não quiser renunciar sua integridade e não tornar-se somente mais um desintegrado na massa de manobra, deve prevenir-se com vigilância dos seus sentidos e com a lente da sua racionalidade, com o fito de separar a covardia contida nas falsas notícias, granadas dessa guerra populista, da lealdade no compromisso de bem informar contida nas informações verdadeiras, que se confirmam por fatos e indicadores.
Apesar de que o populismo, estilo escolhido por um governo, pode até conseguir boa gestão da coisa pública, rejeitemo-lo, pois é certo o subdesenvolvimento político e humano.
Nada melhor para reforçar a responsabilidade pela rejeição do populismo, do que pensamento do professor Henrique José de Souza que, de forma contundente, expõe a diferença entre amor e paixão: “Amai-vos uns aos outros, mas não vos apaixoneis por ninguém nem por coisa alguma...Paixão é vício, é crime, é horror! Amor é necessidade, é Lei, é Vida”!
A minúscula e rasteira política praticada, de maioria de governos viciada em populismo, resultou nessa república apodrecida, desgastada e numa resignada e subserviente massa de manobra com a boca torta, pelo vício do cachimbo do populismo.