A NECESSIDADE DA UTOPIA

A NECESSIDADE DA UTOPIA

Editorial de hoje, edição digital, do Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO,domingo, 26 de Abril de 2.020.

Vale a pena refletir. Porisso, brindei meus leitores com este maravilhoso texto.

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O Estado de S. Paulo26 Apr 2020

Autopia bolsonariana não é a da democracia plena, mas a promessa de um mundo em que tudo se resolve pela vontade do líder.

Há pouco mais de um século, em janeiro de 1919, o Estado publicou, neste espaço, um editorial em que defendia mais uma candidatura presidencial de Rui Barbosa, uma forma de protestar contra os arranjos oligárquicos e militaristas que degradavam a então jovem democracia republicana.

Embora fosse político experiente, Rui Barbosa era, na ocasião, o que hoje se convencionou chamar de outsider, por ter sido o primeiro a fazer campanha eleitoral dirigindo-se aos eleitores, algo raro numa República que, embora nominalmente democrática, definia os presidentes nos salões do poder e depois os instalava no governo por meio do voto de cabresto e de fraudes nas listas de votação. Rui Barbosa perdeu a eleição para Epitácio Pessoa, que passou toda a campanha em Paris.

O editorial, ao cobrar que o voto deveria ser a expressão da vontade popular, e não o instrumento de um poder antidemocrático do qual as elites se serviam, salientava que “segrega-se da regularidade das soluções tradicionais o país em que os governos incorrigíveis teimam no erro e no crime, e em que povos, cansados de deitar nas urnas votos inúteis, desistem do direito de votar”.

E mais: “Na nossa desgraçada República os governos, quase sem exceção, e o povo, quase em unanimidade, de há muito se haviam fixado neste sistema anormal de se viver – os governos contando com a covardia eterna do povo, e este simplesmente resignado”.

Passados cem anos, o País parece ainda prisioneiro de arranjo semelhante – mas o outsider, quanta diferença! Em vez de um Rui Barbosa, que no palanque fez os brasileiros verem a importância do exercício da cidadania e das políticas sociais, temos um Jair Bolsonaro, que representa os inconformados com a democracia.

Entre a campanha de 1919 e a campanha de 2019, a degringolada é evidente. Com raros intervalos nesse período, em que tivemos lideranças lúcidas e conscientes de seu papel no comando político do Brasil, a trajetória, de Rui Barbosa a Jair Bolsonaro, é a de um País em que a República parece ser quase um mal-entendido.

A utopia, essência da política e tão bem traduzida nas palavras de um Rui Barbosa, transforma-se em farsa quando enunciada por um Jair Bolsonaro.

A utopia bolsonariana não é a da democracia plena, a da realização do potencial do País e a do aperfeiçoamento nacional, fruto de amplo debate democrático; é, ao contrário, a promessa de um mundo em que tudo se resolve pela vontade do líder, que se confunde com a do “povo”.

A pergunta, aludindo ao editorial de um século atrás, que fez referência aos governos que contam “com a covardia eterna do povo”, é: onde estão os democratas do Brasil? O que justifica a apatia dos amantes da liberdade ante tão flagrante assalto à República? Para encurtar: como fomos capazes de trocar Rui Barbosa por Jair Bolsonaro?

É preciso reavivar a utopia democrática. A política não pode se resumir à necedade bolsonarista ou à malícia lulopetista, ou ainda aos titubeios tucanos, ou à caradura do centrão. Em todos e em cada um desses casos, salvo honrosas exceções, prevalece o interesse paroquial e imediato, cuja fatura será paga, como sempre, pelas gerações seguintes. Mas nem sempre foi assim. Há exemplos na história – Rui Barbosa é apenas um deles – de líderes que procuraram instilar na população o sentimento de coletividade, do pertencimento verdadeiramente patriótico, e que olhavam não apenas para a resolução dos problemas do presente, mas para a semeadura do futuro.

Não é possível imaginar que tão poderosa mensagem – a da utopia de um amanhã melhor, construído não por um demagogo, mas pela vontade concertada de todos os cidadãos – não seja capaz de emocionar os brasileiros e fazê-los recobrar a esperança na democracia. Para que essa mensagem prevaleça, no entanto, é preciso que a elite nacional se apresente e valorize a cultura em vez da orgulhosa ignorância; a ciência em vez do obscurantismo militante; a articulação de consensos em vez da truculência política.

A democracia é um regime exigente porque demanda que cada um dos cidadãos assuma sua responsabilidade na construção da Nação. É o que pregava Rui Barbosa – que, mesmo derrotado, jamais deixou de acreditar em sua utopia.

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COMENTÁRIO DE A. BIGCUORE. Brilhante, magnífico, inefável, Editorial de hoje, do Jornal O ESTADO DE SÃO PAULO. Este período, resumo bem o perfil do sr.presidente da república, do Brasil.

“A utopia bolsonariana não é a da democracia plena, a da realização do potencial do País e a do aperfeiçoamento nacional, fruto de amplo debate democrático; é, ao contrário, a promessa de um mundo em que tudo se resolve pela vontade do líder, que se confunde com a do “povo”.”

O “inquilino” atual do Planalto, é, em sua essência, uma personalidade autoritária. Num momento tão difícil como esse, ele está pensando em sua SOBREVIVÊNCIA POLÍTICA e de sua família.

O que importa é o seu próprio umbigo. Não está nem aí para a pandemia, “fingindo” que ela não existe!!! Profundamente lamentável!!!

E não para por aí, segundo a mídia, os próximos a serem DEGOLADOS são: PAULO GUEDES DA ECONOMIA E TEREZA CRISTINA DA AGRICULTURA!!!

Corremos o risco de entrarmos numa RECESSÃO PROFUNDA, simplesmente devido aos caprichos de um “autoritário de república de bananas”???.

Comenta-se nos meios econômicos, que a provável queda do P.I.B. será de 5 a 6%!!! Pasmem!!!

Entre o grande RUI BARBOSA e Bolsonaro existe um “gap” de anos luz de diferença!!! Aliás, o Mestre Rui, deve estar INDIGNADO, lá no Paraíso.

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"A DEMOCRACIA É A MAIS BELA UTOPIA ADMISSÍVEL". Falei.

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