Os Caminhos da Renovação Política do Governo Bolsonaro

Por Leonardo Silva

Um líder se faz em suas escolhas, nelas tomamos por conhecimento tudo aquilo que lhe cabe nas mãos pelo bem de sua honraria maior, pelo bem de seu povo. O presidente Jair Bolsonaro é, inquestionavelmente, um líder, eleito democraticamente por uma maioria desiludida com o líder do passado não tão distante; enxerga-se assim que a massa movida em prol do alinhamento com políticas de renovação nos diversos setores da organização federal, foi inflada por uma razão emocional, foi uma revelia.

Bolsonaro engloba para si aquilo que é mais comum em um líder, ordena e faz a vistoria se tudo ocorreu como ordenado; defende uma causa própria de seu povo, por vezes agindo inconsequentemente em nome de sua causa; dentre outros fatores perceptíveis. Nisso, diz-se que Bolsonaro é um líder, mas, não se faz um líder solitário, a renovação se faz por capilaridade, e a renovação por mais que tímida deixa seu gosto na boca dos que têm sede pela derrota de seu governo.

Os últimos episódios envolvendo seu nome perturbam até seus fiéis seguidores, em ações legitimamente desprovidas de um preâmbulo de raciocínio lógico, ações movidas pela emoção, e nisso já podemos levar em consideração que na política não se age movido por razões emocionais. Mas mesmo assim, se agir, qual o resultado? Não pode ser outro senão o mesmo que se passa com o presidente Jair Bolsonaro e sua relação com seus ministros e até mesmo com o povo.

Nesta sexta-feira (24) foi deflagrado o que para muitos seria até então o tiro no pé mais doloroso efetuado pelo presidente. O, até as primeiras horas dessa manhã ministro, e agora ex-ministro Sergio Moro pediu demissão abertamente do cargo que ocupa e consigo levou uma enorme gama de apoiadores do governo, pois, como se sabe, forte foi a influência do apoio de Sergio Moro para a vitória nas urnas do então candidato Bolsonaro em 2018. Foi sem dúvida uma união traçada com bases em um apoio político, de um lado Bolsonaro tinha como aliado o maior herói nacional da década, de outro, Moro tinha em mãos um cargo de suma importância para o desenvolvimento de políticas de segurança pública mais rigorosas e efetivas. Mas, o que se viu no início desse ano (2020), foi um embate entre Bolsonaro e seus ministros, devido à crise do novo corona vírus o então ministro Luís H. Mandetta foi inflado pela força midiática e acabou por entrar em combate direto com as vontades de seu superior, e isso gerou um mal-estar notável e que resultou em sua demissão do cargo, substituído por Nelson Teich, que já despertou críticas dos militantes de plantão. Em outra camada do governo, dessa vez na pasta da economia, o ministro Paulo Guedes que é outro grande nome e que tem apoiadores nos mais diversos setores, foi substancialmente deixado de lado, onde apenas se limitou a ver o projeto de Rodrigo Maia, a adaptação do Plano Mansueto que se tornou a ajuda emergencial para os Estados, ser aprovado. Não obstante, agora a queda de braço elege um novo desafio: Bolsonaro x Moro.

Em tom de desagrado, críticas contundentes e até acusações, a despedida de Sergio Moro do cargo foi bastante importante para entendermos como se complica a crise no governo. Os motivos de sua demissão segundo o próprio Moro, seria a exoneração do diretor da PF Maurício Valeixo, o que lhe causou profundo desconforto por não entender as razões de Bolsonaro para tal medida e também por não lhe ter sido apresentadas as razões propriamente ditas para tal.

O momento de Sergio Moro foi pela manhã, o de Bolsonaro à tarde, está criado a mais nova rixa política do governo federal.

A fala do presidente Bolsonaro iniciou às cinco da tarde, com uma fala pessoal e que mostrava desconforto por ter feito o que em seu ver “teve de fazer”. Antes de ler o que havia preparado de antemão, discursou por vontade própria e explicitou suas considerações sobre a decisão de Moro, nesse momento destacou pontos cruciais para entendermos o caso e também que caracterizam sua defesa.

O mais importante dito por Bolsonaro foi uma acusação contundente, em suas palavras Bolsonaro acusou Moro de combinar a demissão do diretor da PF Valeixo tornado-a possível apenas em novembro, sendo que dessa forma apenas após a sua nomeação para o STF, isso indica um lado de Moro que as pessoas até então não conheciam. Bolsonaro defendeu-se indagando que na noite anterior havia conversado por ligação com o próprio Valeixo, e que o mesmo teria dito que estava se sentindo cansado e entendeu a sua exoneração do cargo, ou seja, uma exoneração simplesmente combinada e consensual.

Subentende-se que nosso poder político está cada vez mais desintegrado, justo em momentos onde se achava que numa renovação política estaríamos encaminhando para uma renovação deveras. Cada vez mais essa renovação toma tons mais obscuros e surpreendentes, deixando o povo brasileiro com a esperança em cheque. Pois, se evidencia agora um debate, Bolsonaro agora um líder supremo, porém isolado, contra toda uma elite política alinhada à velha política que nos encaminhou para o lugar onde estamos, e esses agora aliados aos mais novos inimigos de Bolsonaro, aqueles que um dia foram seus companheiros de batalha.

Bolsonaro arrisca perder contingente de seu exército da renovação, nisso, arrisca também perder a guerra.

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Leonardo F. Silva

24/04/2020