Chega de Palhaçada
Dia 27 de março é o dia do circo, em homenagem ao palhaço Piolim, Abelardo Pinto, nascido em Ribeirão Preto no ano de 1897. Piolim era engajado com os movimentos artísticos e culturais e divulgava a arte como forma de expressão cultural. Os festejos deste ano foram cancelados em virtude da pandemia de covid-19.
Dizem que a missão do palhaço é fazer sorrir, mesmo quando seu coração chora. Os palhaços da alegria são exemplo claro de engajamento social e solidariedade às pessoas submetidas a tratamentos médicos e hospitalares.
De modo pejorativo, são chamados de palhaços, os indivíduos bobos, sem noção, que precisam chamar a atenção para aquilo que fazem, mesmo que seja um perfeito disparate. Depois que o país elegeu um palhaço como o parlamentar mais votado do congresso, imaginava-se que o bordão “pior que está não fica” seria uma profecia incontestável. Ocorre que lamentavelmente a situação piorou em vários sentidos e justamente quando o mundo enfrenta uma pandemia em saúde.
A videoconferência entre o presidente da república e os governadores de sudeste mostra a dificuldade de discernimento e desprendimento dos homens públicos que, costumeiramente, colocam interesses pessoais e vaidade acima das necessidades da nação. Para piorar, a tragicômica discussão se estendeu pelas redes sociais movimentando os milhões de fanáticos que insistem em negar ou amenizar um problema que reconhecidamente existe.
No mesmo dia, o pastor que chamou o novo coronavírus de “histeria coletiva” e compartilhou informações falsas sobre o assunto morreu com a doença nos EUA. Mas lá ocorreu algo interessante, depois de intitular o codiv-19 de “vírus chinês”, o presidente conseguiu acordo com os senadores para injetar mais de US$ 2 trilhões na economia, com medidas que incluem transferência de renda para famílias e aumento dos benefícios para desempregados, além de enviar carta solicitando ao povo que faça o distanciamento social.
Nesta semana os estadunidenses assumiram a liderança do trágico ranking de casos de coronavírus, segundo sites de monitoramento em tempo real, chegando ao número de 81.896 diagnósticos positivos de COVID-19, ultrapassando China (81.285) e Itália (80.539). Lá já foram registradas 1.176 mortes. O maior problema é que, diferente dos dois citados países onde os casos estavam concentrados, diversas regiões do país foram afetadas.
Diante da gravidade da situação e depois da troca de farpas, os presidentes da China e dos EUA, demonstraram a altivez que o cargo exige e mantiveram contatos telefônicos, compartilharam informações, colocaram profissionais de saúde para interagirem e o americano tuitou "Estamos trabalhando juntos. Muito respeito!".
No Brasil surgiu mais uma divisão, agora entre os que pensam priorizar a vida das pessoas e os que pretendem priorizar a economia. Argumentos não faltam para os dois lados. Os primeiros lembram que, no último século, superamos a Grande Depressão de 1929, a Crise das Dívidas dos Países Latinos em 1980, a Bolha Imobiliária do Japão em 1985, a Crise dos Mercados Emergentes de 1994 e a Crise Mundial do Subprime de 2008. O outro lado contra-ataca lembrando que tuberculose, varíola, gripe espanhola, febre amarela, malária, ebola, AIDS e H1N1 não acabaram com o mundo.
Mas existe um tipo de brasileiro que, alheio à briga, acredita que toda vida é importante. Ele para, pensa e busca construir alternativas para evitar mortes e reduzir os impactos econômicos. Esses merecem vez e voz. Fazer parte dessa turma, talvez não seja fácil e pode custar algum sacrifício, mas são eles que conseguirão fazer a grande mudança que esperamos.
Unindo ciência, tecnologia, fé e humanidade, além de adotar todas as medidas de prevenção, poderemos enfrentar esta página triste da história. Só não podemos é fazer plateia e para aqueles palhaços que apenas querem ver o circo pegar fogo.