A coletiva das bananas e dos palhaços e bobos da corte

Instado a ainda tratar das peripécias do Senhor Presidente durante a pandemia de Covid-19, decidi enfrentar este desafio, embora bastante relutante, já que a incredulidade das atitudes do maior líder da nação tem nos causado mais que espanto, profundas apreensão, apatia, tristeza, mas a coragem sempre teima a se recobrar.

Sigo então à coletiva habitual recepcionada nas pistas aeroportuárias, detido à realizada no dia seguinte ao pronunciamento fatídico do 24.03.2020.

Desta vez, faltaram-lhe as bananas para serem distribuídas aos profissionais de imprensa. Já o palhaço-presidente-fake, inacreditavelmente conduzido recentemente num veículo oficial da República, parece ter sido dispensado, pois o Titular decidiu representá-lo. Para demonstrar que a equipe não estava inteiramente desfalcada, lá estavam os bobos da corte na plateia. Eles nunca se ausentam, o que nos intriga se não há a mesma distribuição de alimentos - pão com mortadela - antes recriminada, ou opção um pouco mais sofisticada.

Inicia-se então a coletiva, e logo o Presidente Messias se remete ao líder norteamericano para carimbar as recomendações postas à nação em seu pronunciamento em rede nacional, o que nos leva a crer que o Brasil tem dois presidentes: o Trump e o Olavo de Carvalho.

Numa prévia de 2022, lançam-se fagulhas em direção aos governadores do Rio (Witzel) e de São Paulo (Doria), também pré-candidatos ao Palácio do Planalto, ameaçando-os a negativa de eventuais pedidos de GLO, a Garantia da Lei e da Ordem, sendo este um instrumento constitucional que propicia o uso excepcional das forças armadas em situações de graves convulsões não controladas pelas forças policiais estaduais. Pelo visto, preveem-se momentos conturbados de atritos sociais gerados pela ausência do mínimo existencial que inevitavelmente ocasionará a parada geral, como medida fundamental para conter uma descontrolada expansão da pandemia do Novo Coronavírus, mas esquecendo ele que caberá principalmente à União a adoção de ações emergenciais para por o alimento na mesa dos lares brasileiros.

Como não podia faltar, o Presidente recorreu ao simplismo tão aclamado entre os seus fiéis seguidores e fez analogia entre uma pandemia que assola o mundo inteiro e a chuva, como se dissesse que quem está na chuva é pra se molhar, ou que uns pingos não matam, apenas causam uma gripezinha ou um resfriadinho.

Algo que não passou em branco foi o fato de que o Presidente decerto não recebera um novo tweet com informações frescas da terra do Tio Sam, e afirmou que seguiria as mesmas estratégias do Presidente- Conselheiro, e que portanto garantiria imediatamente a volta à normalidade, após o que, para sua surpresa, foi informado por um dos jornalistas que Trump mudara de rumo para somente após a Páscoa, em 12 de abril, deixando-o atônito, com expressão de que o amigo esquecera de atualizar os mandamentos.

Em tempo, novo posicionamento já fora adotado pelos EUA, que lidera entre as nações com maior número de infectados, transferindo, por ora, a possível volta à normalidade para o final do mês de abril.

Ainda ouvindo os sussurros do amigo-conselheiro-guru Presidente Trump, propõe o uso da cloroquina, um medicamento utilizado para outras enfermidades, levando uma população aflita para a corrida às farmácias, acarretando até mesmo na falta de Cloroquina para os que dele dependem para uso contínuo. Vale lembrar que tal fármaco carece de comprovação científica indicando-o como útil ao tratamento de Covid-19. Ou, ainda pior, especialistas alertam para sérios riscos à saúde pelo uso inadequado e sem orientação médica.

Em mais uma de suas falas enigmáticas, dedicadas apenas à compreensão de seus fiéis seguidores, diz que ficou sabendo que um governador vai liberar as contas de consumo de seu estado e expõe o espanto “olha a que ponto que nós chegamos”, como se uma medida que contemplará usuários de consumo reduzido e em grande parte de baixa renda fosse uma ação absurdamente errônea.

Numa das poucas possíveis participações jornalísticas, é perguntado se é fática a possibilidade de isolar somente a população de risco, para o que sugere que as famílias que cuidem dos seus velhinhos, sarcasticamente usando como parâmetro um oficial que o ladeia, integrante de sua segurança oficial, que evidentemente não serve como exemplo à dura realidade vivenciada por inúmeros idosos, sobretudo nos casos tão comuns do nosso Brasil, em que membros de famílias carentes têm que dividir um único cômodo para convívio e repouso.

Após a insistência dos jornalistas, afirma que cada um isola o que pode, num verdadeiro salve-se quem puder, e que ele vem cumprindo isso com a sua mãe, não lembrando ele que a classe trabalhadora brasileira não tivera a mesma sorte de usufruir de uma vida de elevado bem-estar propiciada por inúmeras e vultosas benesses que lhe são garantidas durante quase três décadas de profissão-parlamentar.

Para por fim à coletiva, o presidente ouve recomendação de um dos seguidores-conselheiros doutro lado do cercadinho, garantindo para ele que ligará para o contato transmitindo, com a sensação de que acabaram de lhe passar mais uma brilhante ideia.

E assim terminou mais um show de horrores proporcionado por um chefe de estado e sua trupe.

Rogerio Almeida é Bacharel em Direito e Tecnólogo em Processos Gerenciais

Rogerio Almeida
Enviado por Rogerio Almeida em 04/04/2020
Reeditado em 06/04/2020
Código do texto: T6906284
Classificação de conteúdo: seguro