O BRASILEIRO MERECE BOLSONARO OU BOLSONARO MERECE O BRASILEIRO?

Esta carta tem por objetivo provocar a discussão saudável de uma ideologia e não propor uma verdade absoluta.

O brasileiro sempre foi simpatizado fora do país por sua hospitalidade, amabilidade, pensamento criativo, poesia e bondade. Sabe-se lá quando isso se perdeu sei lá aonde... na toca do coelho da Alice ou na urna eleitoral?

O que aconteceu com um povo carismático e unido?

Um dia esse povo acordou. E começou a pedir contas de tudo que havia de errado no Governo. Até aí tudo bem. Porém, surgiu, além disso, o levantar da bandeira do ódio, preconceito, xenofobia, perseguição contra a imprensa; e todos, absolutamente todos que discordam da ideologia dominante no momento (pois o poder é efêmero no estado democrático) são taxados sumariamente de comunistas. Em que instante uma fração dos brasileiros ficou tão rústica, simplista e boçal desse jeito? Quem não está conosco está contra nós e ponto final? É isso mesmo? Não se pode mais criticar nem fazer oposição? Não é composta exatamente desses alicerces a arquitetura democrática?

O brasileiro (ou a terça parte do povo, é o que parece) flerta com acinte com o autoritarismo e o ódio.

Aqui cabe a pergunta mais importante de todas: Bolsonaro é o vetor de tanto ódio ou apenas representa a ascensão de todo esse ódio ao poder, que estaria até então hibernando velado, incutido no coração de muitos e, nos últimos anos, criou coragem, se revelou e veio conquistar seu espaço por vias democráticas para, a seguir, ameaçar a própria democracia?

Que dizer, contudo, dos evangélicos? Esse daí é o varão ungido pelos pastores Edir e companhia limitada? É possível ser cristão de fato e apoiar a cultura do ódio?

A cultura do ódio se faz presente hoje em todo lugar, nem mesmo cidades pequenas escapam.

É o motoqueiro que passa correndo, quase colidindo nos carros, e ainda por cima ofende seus motoristas como se a culpa fosse desses por existirem na sua frente andando na velocidade certa da via, restringindo o motoqueiro no seu direito de correr a toda e ameaçar a vida inclusive dos pedestres.

É o condutor de veículo que, chega a dar um salto por cima da faixa de pedestre elevada a toda velocidade numa manobra perigosa, ao invés de reduzir a marcha e dar oportunidade para o cidadão atravessar.

A propósito, eu moro em um bairro periférico e sem asfalto. Tem muita poeira na estrada. Quando saio passear com meu cachorro e vem um carro em direção contrária, percebo que em vez de reduzir a velocidade, o motorista acelera para levantar uma nuvem de poeira sobre quem está passando a pé na rua. Isso quando não joga o carro em cima da gente que está passando (o motorista bebe e dirige, além disso, nessas cercanias longes) para zombar do pedestre, só pode ser isso.

É o ódio contra a empregada doméstica (que nunca vai à Disney, por sinal), preconceito da classe média contra o pobre (como se a classe média não padecesse também seu quinhão por conta da crise política que o país vive).

Ódio insuflado na população contra o Congresso, porque este não aprovou os projetos do Governo (que o presidente nem ao menos enviou para o Congresso aprovar cumpre dizer).

É o ódio contra o Supremo Tribunal Federal, porque esse protege a cartilha democrática e objetiva, não somente a punição, mas a reeducação e recondução do criminoso, em vez de fadá-lo à condenação sem volta como preconiza o presidente da República.

É o ódio contra o funcionário público. Já presenciei o cidadão ofender e descontar sua raiva no funcionário público, como se isso fosse mudar alguma coisa no preço dos impostos.

Aliás, existe funcionário público corrupto e desidioso sim, como existe deputado corrupto, comerciante corrupto, industrial corrupto, popular corrupto que quer dar jeitinho em tudo; bem como está sendo apurada possível corrupção no clã Bolsonaro (vide o caso da milícia, da rachadinha, da funcionária fantasma do gabinete, etc), e sim! Deve ser mesmo apurada a corrupção em todas as esferas. Ou será que só pode investigar o PT?

Isso daí (aqui eu parodio o presidente da República) é retrato da cultura da reclamação deflagrada, incentivada pelo próprio presidente, que joga a culpa nos governadores de Estado, como no episódio envolvendo o fim do ICMS.

É o ódio de todos contra todos.

Seria isso tudo o efeito Bolsonaro?

Ou Bolsonaro é produto disso daí?

Bolsonaro é fruto da cultura do ódio?

Ou a cultura do ódio inventou Bolsonaro?

Vai ser preciso uma guerra de Secessão agora igual ocorreu nos Estados Unidos?

Imprensa, você precisa fazer o povo entender que, se hoje o Bolsonarismo ataca covardemente a própria Imprensa, o Congresso, o STF, amanhã estará hostilizando o João, a Maria, o Zezinho, o Maurício, enfim, o próprio povo na rua. Porque o autoritarismo é desse jeito. Ele precisa criar um inimigo a ser combatido. Conforme aniquila esse inimigo aqui ele avança e precisa por outros inimigos no lugar para convencer seus asseclas (muitos dos quais também se transformam em inimigos a seu tempo; vide Bebiano, Joice Hasselman, dentre tantos outros) e desviar a atenção do fracasso econômico causado por sua incompetência.

Eu quero pensar que, se o brasileiro tivesse respirado dez segundos e meditado um pouco antes de votar, Bolsonaro não teria sido eleito. Bolsonaro é fruto da precipitação, desesperança, medo e ódio. A maioria votou mesmo foi contra o PT, outra parte votou indiretamente no ex Juiz Sergio Moro, ou no Guedes, ou porque achava que seu candidato preferido não teria chances de ganhar o pleito, ou seja: um mínimo de brasileiros simpatiza de verdade com Bolsonaro; ele não passaria de um acidente de percurso, um presidente por acidente.

Não é preciso entrar na questão econômica, que, por si só desabona este governo. Mas é sobre a questão da misoginia, da homofobia, discriminação e perseguição ao pobre e ao negro, a política de dividir para conquistar, estimulando o ódio na população pela população, ódio contra a Carta Magna, o ataque à imprensa.

Somente a concórdia irá dar o vislumbre de um horizonte mais belo (diferente do que vemos atualmente) para promover no país o retorno do crescimento.

Ah, e só para avisar, este que vos fala não é comunista, passa muito longe do comunismo por sinal, adora o capitalismo e consumismo equilibrados, sustentáveis. Mas como estou criticando esse (des)Governo é melhor enfatizar pra garantir. Porque já viu toda essa boçalidade, né. Ou seria Bolsonariedade?

Sátiro Safo
Enviado por Sátiro Safo em 15/03/2020
Código do texto: T6888761
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