Estrutura e Relação Social em Durkheim e Marx
Estrutura e Relação Social em Durkheim e Marx
É importante iniciar frisando que as análises a seguir surgem num período de industrialização e em que a classe trabalhadora crescia enormemente em condições insalubres e de exploração e que esses fatos históricos são fundamentais para entender o que Durkheim, Marx e Weber produziram sobre o indivíduo e a sociedade, bem como a relação indivíduo-sociedade.
Em Durkheim vamos estudar a relação indivíduo-sociedade a partir da lógica que é coletivamente que o indivíduo é construído, colocando a sociedade numa relação de superioridade ontológica para a compreensão do ser individual. Entender o estruturalismo é pensar que o conjunto de ações e os múltiplos modos de sentir e pensar, perpassam todo um processo que é exterior e coercitivo ao indivíduo, e que constroem as ações e pensamentos desses indivíduos, portanto, coletivamente. Essa construção se dá pelas estruturas sociais construídas em sociedade. Os indivíduos, nessa perspectiva estruturalista durkheimiana, são frutos das relações que são construídas na inserção desse indivíduo na sociedade, que passa a reproduzir no corpo, no pensar, no sentir e no falar repetições que estruturam sua relação consigo mesmo, com os outros, com a família, com os objetos. O estruturalismo durkeimiano perpassa, sobretudo, que a análise sociológica dos fatos sociais parte da análise das instituições, haja vista que estas é que padronizam comportamentos repetitivos que são, mesmo inconscientemente, reproduzidos pelas massas.
Em Marx, o processo de análise da sociedade não vai se dá pela construção coletiva do indivíduo pela sociedade a partir de uma construção coletiva, exterior, geral e coercitiva, como em Durkheim, mas vai partir da ideia de que a sociedade é dinâmica, o que a faz passar por um constante e permanente antagonismo de duas classes sociais. A burguesia, detentora dos meios de produção, classe intelectual e financeiramente dominante, compra a força de trabalho do proletariado, os trabalhadores, que vendem voluntariamente sua força de trabalho em troca de salário para manter possível as condições básicas de sobrevivência. Os donos dos meios de produção lucram em cima da exploração da força de trabalho extraída do proletariado e não alcançam seus desejos e não suprem seus consumos de luxo senão explorando a classe trabalhadora, extraindo a mais valia, processo de extração e não retorno do lucro que a força de trabalho produziu. Essa relação de tensão que a burguesia cria ao explorar uma classe, que estatisticamente é maioria, mas socialmente é minoria porque lhes foi negado o acesso à política, a educação, a saúde e ao lazer por esta burguesia que acumala e detém o capital, acaba fazendo com que seja uma relação de constante e permanente oposição. Essa oposição, gerada dessa tensão entre duas classes socialmente antagônicas, Marx vai chamar da luta de classes e defende que a sociedade alcançará a justiça social quando a classe trabalhadora unida chegue ao poder e instaure o socialismo, a partir da extinção lenta e gradual da propriedade privada. Entender os processos históricos de luta a partir da luta de classes, é o que conceitua o materialismo-histórico, que é justamente a ideia de se analisar historicamente a sociedade a partir da economia, da luta de classes.
Enquanto a sociologia de Durkheim está voltada para a análise das instituições e da sociedade, haja vista que esta é quem produz os modos de ser, pensar e agir dos indivíduos, a sociologia compreensiva weberiana parte dos indivíduos e de como estes significam a realidade, para entender o processo de relação indivíduo-sociedade. Por isso que a sociologia weberiana, que pode ser chamada de sociologia compreensiva, é um estudo dos indivíduos, de como estes pensam, se movimentam, quais sentidos atribuem a sua ação e não como sua ação é produto de algo que é coletivo, externo e coercitivo a eles. A abordagem compreensiva que Weber inaugura para a análise da sociedade, perpassa, sobretudo, estudar e entender os indivíduos de dentro, com objetividade, mas perpassando a subjetividade do ser. Quando Weber conceitua "ação social" a partir da necessidade de que a sociedade seja analisada a partir do indivíduo e de sua ação social, podemos entender bem o que reflete a sociologia de abordagem compreensiva, que é justamente essa análise que busca dentro dos indivíduos, ou seja, como estes pensam a realidade e, portanto, atribui sentido às suas ações.
Dentro, pois, da análise das relações indivíduos-sociedade, Durkheim faz sua análise de fora dos indivíduos, a partir das instituições e de como a sociedade constrói coletivamente os indivíduos, a partir de posturas e comportamentos padrões; Marx perpassa dentro da sua análise a luta do trabalhador contra seus opressores, do proletariado com a burguesia, do trabalhador com o capital e analisa essa relação a partir da luta de classes; e Weber faz análise de dentro dos indivíduos, acreditando que a análise das relações indivíduo-sociedade se dá pela compreensão dos indivíduos e de suas ações, pois são estas que significam a realidade.