" O VÔMITO (AINDA) É LIVRE"
POR VALÉRIA GUERRA REITER
O atual quadro republicano nacional nos remete à época da República Velha, quando muitas revoltas permearam o período de 1889 e 1930; com intenso racismo, repleto de desigualdade social com pitadas de fanatismo religioso e regado por um autoritarismo militar.
“Chibata”, “Vacina” e “Canudos”: Revoltas importantes ocorridas neste período também conhecido como República da Espada.
Um cenário ideal para organizar a futura República, já vinha sendo desenhado desde os meados do século XIX. No ano de 1850, um fato interessante concorreu para tal: a Lei de terras.
A Lei de Terras que se atrelou à politica do “Branqueamento” ambas com a missão sagrada de reservar terras no sul e no sudeste para os novos colonos vindos por imigração para o Brasil; tudo parte de um plano mundial de efetivação reprodutiva para promover o futuro desparecimento dos genes de negros e índios.
Arthur de Gobineau em sua obra L’Essai sur L’Inégalité des Races Humaines (Ensaios sobre as Desigualdades, entre as Raças Humanas, 1853-1855) norteia e influencia o processo republicano brasileiro. As tristes “verdades” expressas nesta obra condenam o negro a uma condição de inferioridade e miséria; pois segundo Gobineau a miscigenação é perigosa.
O Brasil se torna uma República em 1889; um ano após ser decretada a libertação oficial dos Escravos brasileiros; agora a liberdade condenaria homens e mulheres a um estado infecundo frente ao mundo do trabalho, que ainda de pés descalços continuariam a saga de humilhações e segregações entorpecentes. Ao concorrer com homens livres e brancos advindos de um mundo “superior” chamado Europa: a população antes escrava entraria para o submundo da pirâmide socioeconômica.
Branquear era preciso. E várias extensões de terra (espaços vazios) foram mapeadas para a nova mão-de-obra neocolonial que ia chegando ao território brasileiro – os interesses nacionais e internacionais visavam à substituição da matriz miscigenada por seres arianos e mais capacitados para a labuta e para formar uma nova sociedade (no palco) de um novo país renascido de uma proclamação republicana e presidencialista.
Só que uma República advinda de um Golpe militar não poderia gerar bons frutos. Em Canudos (Bahia) ,por exemplo, tivemos um líder nato e religioso que movido por um sentimento de igualdade por desejar um mundo melhor: foi morto,e isso depois de um ano de resistência (resistiram aos outros ataques anteriores) e no último - sucumbiu com os seus iguais debaixo de um fogo traidor e intenso das milícias do governo republicano.
A Revolta da Vacina (1904) foi uma reação popular que ocorreu no Centro do Rio de Janeiro, que objetivava “imunizar” a população contra a varíola, mas muitos não desejavam ser vacinados, inclusive por uma questão de respeito aos membros femininos de seus clãs. Logo depois de ver estes membros sendo assassinados (por conta dos embates); a prefeitura do Rio expulsou estas pessoas de suas moradias para habitarem alguns morros da cidade do Rio de janeiro, originando as conhecidas favelas. Toda a campanha tinha um viés eugênico.
Agora (em 2020) estamos sob a presidência escolhida nas urnas, no entanto existem jornalistas brasileiros passando mal e até mesmo vomitando de forma literal em função de ofensas que escorreram de lábio federativo em sua máxima representatividade; isto revolta a todos, principalmente pela dose peculiar de misoginia colorida de obscurantismo – claro que sentimos repulsa por atos tão cesaristas, porém temos a obrigação de agirmos após o regurgitar; assim como agiu João Cândido Felisberto.
João Candido Felisberto nasceu em 1880, e ficou conhecido como o “Almirante Negro”. “Viva a liberdade” e “Abaixo a chibata” foram os gritos ouvidos em um dos quatro navios de guerra (sob seu comando) no dia 22 de novembro de 1910, o líder desta rebelião era o “Almirante Negro”, ele não aguentava mais ver os castigos corporais que impingiam sobre soldados negros e pardos (nunca contra os parcos brancos) através do uso da chibata. Ele liderou 2.379 marinheiros.
A Revolta durou apenas cinco dias (entre 22 e 27 de novembro do ano de 1910), e um tiro de canhão foi disparado da Baía de Guanabara e atingiu um cortiço, onde duas crianças morreram. O Marechal Hermes da Fonseca, recém-empossado presidente (por indicação) se viu obrigado a atender (a princípio) as exigências de João Candido e seus amotinados: fim da chibata, melhores condições de trabalho, e perdão aos envolvidos na sublevação.
Como tudo acabou? Com centenas de mortos, e inúmeros presos, que foram confinados na Ilha das Cobras. João Cândido não morreu, mas fora enclausurado em um Hospício, morrendo com oitenta e nove anos, em 1969.
Estamos vivenciando uma maré alta de estopins para que revoltas ressurjam em nosso solo, como ocorreu no Ceará recentemente (quase 300 mortos); existe um desequilíbrio de forças no ar, só não sabemos (se à guisa do ocorreu em 1930) haverá um golpe dentro do golpe. A República atual se desfaz, dando lugar à outra: REPÚBLICA DA MILÍCIA.
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