Destinos de uma Revolução
O Brasil viveu por muitos anos o parto de uma revolução que acabou natimorta. Não era uma revolução de armas e nem de grandes transformações, pois era antes de tudo uma revolução viva na mente de milhões de brasileiros e alimentada por notórios pensadores e artistas influentes.
Era antes de tudo uma utopia revolucionária, de que um país mais justo poderia ser construído na base mesmo de uma apelo a sensibilidade e empatia das pessoas, principalmente dos donos do poder.
Acreditamos que um país de maior oportunidade para os mais pobres e com isto de maior justiça social não seria algo que incomodaria os donos do poder e seus lacaios e serviçais da classe média.
Esta estratégia de conciliação de interesses de classe funcionou até o momento em que a conta da crise poderia ser igualmente dividida entre as classes. Bastou uma chicana digna de política do interior, encabeçada por Eduardo Cunha, para que tudo fosse abaixo.
Um elemento de baixa estatura política como Eduardo Cunha não teria provocado tal desmoranamento, se antes as forças econômicas não pressentissem que a conta da crise poderia ser transferida para os mesmos.
Infelizmente o embrião desta política de conciliação, centrista antes de tudo (não sei como isto não é óbvio para muitos), ainda coopta a esquerda. É como se fosse um atrativo para pessoas que realmente querem mudanças para que fiquem estagnadas e esperando algo que nunca virá.
É preciso uma esquerda de verdade, que não tenha medo de interesses econômicos e políticos predominantes e nem acredite ter que se sentar com eles para negociar qualquer coisa. Uma esquerda que acredite mais em correlação de forças e menos em conciliação.
É preciso uma esquerda que fortaleça os interesses dos trabalhadores, os mobilizando e os ensinando a se organizarem. Que fale como um deles e não como uma vanguarda para liderá-los.
É preciso desmascarar os pseudo-esquerdistas, aqueles que batem no peito dizendo que dirigiram e organizaram projetos em comunidades carentes, mas recebendo 20.000 reais como pagamento por mês, fora outros acertos.
A esquerda precisa se projetar como uma força a fazer frente a outros interesses organizados e não como uma força a colocar na mesa o controle sobre sindicatos e movimentos sociais para barganhar participação no poder.
Infelizmente o Partido dos Trabalhadores esta associado a política de consciliação, é o que sabem fazer e é o que farão. Respeito o direito das pessoas de acreditarem nesta bobagem, mas me incomoda e preocupa que a esquerda no Brasil se encontre cooptada ideologicamente por este tipo de política que já mostrou inúmeras o fracasso que representa.
A política de barganha deste partido, ao qual se depositou as esperanças de uma revolução pacífica, quase cristã, de uma justiça social sem embates e conflitos de classe. tornou o povo descrente nesta mesma justiça. Pensam se tratar das mesmas demagogias que já lhe eram ditas a tempos atrás para fins eleitoreiros.
O pragmatismo político fez com que muitos charlatães, oportunistas, lacradores e demagogos fossem aceitos dentro de uma luta a qual são interiormente avessos ou para eles desconhecida.
A vantagem operacional de se contar com tanta gente teve como custo a própria inexperiência, indigência e escândalo que causam os que associam esquerda a este tipo de gente. É preciso um expurgo ideológico, sendo curto e grosso.
Esta dissonância cognitiva da esquerda, que a faz cega diante de seus erros e dos limites de sua atuação política no cenário atual, levará a uma ruptura interna ( caso a cúpula petista não dê conta de sufocar dissidências) ou a um crescimento ainda maior da direita ( caso consiga manter sua hegemonia nociva no campo da esquerda).
Vemos um edifício ruir com todos dentro, por que muitos militantes e a cúpula acreditam que não há problemas estruturais, mas que o vento forte e os tremores de terra é que precisam cessar.
O Partido dos Trabalhadores, com mais de 1 milhão de filiados, agora se prepara para as eleições municipais mirando o pleito para a presidência da República. Não querem radicalismos. Não querem assustar o eleitor médio, centrista, nem investidores - a mesma fórmula de 2002.
Reformas aos trancos e barrancos estão sendo aprovadas e não vemos este partido mobilizando as ruas. Os motivos são obvios, afinal tem muitos governadores petistas que querem estas reformas e até mobilizam senadores para que se estendam automaticamente aos Estados e municipios para não terem embates locais.
Flávio Dino é outro tietado pelo idiotas úteis, que acham que o mesmo não tem a mesma ideologia de conciliação e pragmatismo do Partido dos Trabalhadores. Quem tiver curiosidade, pesquise como a polícia sob seu comando atua e entenderá.
Falta um projeto para o Brasil. Ao contrário do que muitos afirmam não há esquerdizacao da educação. Posso garantir que o não se deu nem a este trabalho. Não tinham nenhuma intenção de promover e emancipar o povo cultural e educacionalmente.
Não havia um plano sério de elevar o nivel educacional e com isto a cidadania e a dignidade do povo. Muito menos de promoção de direitos e participação política.
O que havia era um plano de permanência no poder negociando com todos, até que as contradições políticas e econômicas tornassem o malabarismo ideológico incapaz de sustentar tal política.
O que precisa ser feito é óbvio: uma ou novas esquerdas capazes de interagirem e organizarem o povo, que troca a conciliação com a correlação de forças com foco no legislativo. Colocar o PT no devido lugar que é o centro. Abrir mão da quantidade pela qualidade ao se tratar de militância.