O CONCEITO DE JUSTIÇA EM JOHN RAWLS
John Rawls lecionou filosofia política na conceituadíssima Universidade de Harvard e foi escritor de célebres obras sobre justiça e política. Rawls viveu a maior parte de seus dias no século XX (1921-2002), o que o colocou na qualidade de testemunha do drama que se desenrolou nesse período histórico. Não só foi contemporâneo às duas grandes guerras mundiais, como pôde observar, com o espírito científico e filosófico que lhe era inerente, o cenário que serviu de laboratório para as mais diversas concepções e ideologias políticas, desde as mais conservadoras às mais absolutistas e sanguinárias e, não bastante isso, pôde vivenciar o espírito de tensão que se apoderou do mundo durante o período da guerra fria, em que sistemas políticos opostos travavam uma queda de braço, dividindo o globo terrestre em dois blocos antagônicos.
O fato de Rawls ter construído seu pensamento durante o conturbado e violento século passado não faz dele um autor obsoleto, antes, o coloca como um dos mais proeminentes nomes entre os filósofos dedicados ao estudo da filosofia política, e sua obra deve seguir, quase que como em um processo natural inevitável e necessário, influenciando o pensamento do século XXI e atraindo a atenção e o estudo dos pesquisadores atuais. Há uma autoridade amalgamada em suas obras advindas da coragem e da resiliência com que tratou os dilemas, os problemas e as dores de sua época, e já pode ser, inclusive, constatado como fato que Rawls é, nos dias atuais, um dos mais comentados, abordados e discutidos autores de filosofia moral e política, ainda que no Brasil o avanço de seu pensamento venha se dando de forma mais lenta, devido ao fato de as traduções de suas obras para o português terem acontecido de forma muito espaçada.
É inegável a determinação dessa existência tão rica e singular, uma vez que este filósofo dedicou toda a sua vida na elaboração de uma teoria da justiça, vivendo não para si, mas para deixar ao mundo o legado de uma ideia de mundo onde a justiça seja o alicerce da sociedade. Em sua ideia de justiça, Rawls procurou conciliar aquilo que foi durante a sua vida os pilares das divergências na geopolítica global, a liberdade e a igualdade. Foram as duas grandes ideologias dominantes do século XX que colocaram esses dois valores em colidência, em grau de incongruência, pois enquanto o Ocidente primava pelo liberalismo econômico e pela liberdade dos seus cidadãos no sentido da livre iniciativa, sendo isso bem perceptível no sistema capitalista, o Oriente propunha ideias socialistas e comunistas onde o mais importante era a igualdade, e esta colocada acima de qualquer interesse econômico ou pessoal, ainda que, para isso, o Estado precisasse suprimir liberdades individuais.
Enquanto liberdade e igualdade rivalizavam e governos usavam suas populações como cobaias na tentativa de demonstrar ao resto do mundo que este ou aquele sistema era o melhor, tratando a sociedade como verdadeiros ratos de laboratório, Rawls procurou uma terceira via, onde o vencedor não seria uma ideologia ou um governo, ou decidido entre o Ocidente ou o Oriente, ou entre a direita ou a esquerda, mas sim onde o vencedor fosse toda uma sociedade. Especulo que pode residir aqui o maior valor da obra de Rawls: o cuidado que teve para respeitar e exaltar a liberdade como um dos maiores valores da existência humana e, ao mesmo tempo, o zelo que teve para com a igualdade como baluarte da convivência política. Em seu intento conciliador fica visível o apreço pelo bem da humanidade, pela calma dos ânimos e pela fraternidade entre as pessoas. É com esse espírito que o autor se debruça sobre uma das mais basilares perguntas da filosofia política, embora ela pareça simples e trivial: o que é uma sociedade justa? Fugindo de complexificações infrutíferas, as quais mais fazem afastar de uma resposta unívoca do que aproximar, percebe-se que o Rawls tinha conhecimento de todas as transformações ocorridas no mundo desde o século XVIII, o que foi determinante para afastá-lo do vácuo histórico e ao mesmo tempo do vazio teorético.
John Rawls solidifica sua teoria em dois valores, liberdade e igualdade, e usa o conceito de justiça como equidade para responder a principal pergunta da filosofia política. Uma vez delimitadas as fronteiras de sua teoria, Rawls não somente conclui uma obra prima filosófica, mas vai além, encravando seu nome na história, escrevendo suas ideias em uma tábua de pedra com estilete de diamante, eternizando seu pensamento político e nos levando a reflexões profundamente humanas. Há 17 anos Rawls nos deixou, mas os ensinamentos com os quais ele nos brindou continuarão reverberando. Rawls não era do século XX, ou do de qualquer outro século que seja; não é nem extemporâneo, é atemporal: conquistou seu lugar na eternidade.
O fato de Rawls ter construído seu pensamento durante o conturbado e violento século passado não faz dele um autor obsoleto, antes, o coloca como um dos mais proeminentes nomes entre os filósofos dedicados ao estudo da filosofia política, e sua obra deve seguir, quase que como em um processo natural inevitável e necessário, influenciando o pensamento do século XXI e atraindo a atenção e o estudo dos pesquisadores atuais. Há uma autoridade amalgamada em suas obras advindas da coragem e da resiliência com que tratou os dilemas, os problemas e as dores de sua época, e já pode ser, inclusive, constatado como fato que Rawls é, nos dias atuais, um dos mais comentados, abordados e discutidos autores de filosofia moral e política, ainda que no Brasil o avanço de seu pensamento venha se dando de forma mais lenta, devido ao fato de as traduções de suas obras para o português terem acontecido de forma muito espaçada.
É inegável a determinação dessa existência tão rica e singular, uma vez que este filósofo dedicou toda a sua vida na elaboração de uma teoria da justiça, vivendo não para si, mas para deixar ao mundo o legado de uma ideia de mundo onde a justiça seja o alicerce da sociedade. Em sua ideia de justiça, Rawls procurou conciliar aquilo que foi durante a sua vida os pilares das divergências na geopolítica global, a liberdade e a igualdade. Foram as duas grandes ideologias dominantes do século XX que colocaram esses dois valores em colidência, em grau de incongruência, pois enquanto o Ocidente primava pelo liberalismo econômico e pela liberdade dos seus cidadãos no sentido da livre iniciativa, sendo isso bem perceptível no sistema capitalista, o Oriente propunha ideias socialistas e comunistas onde o mais importante era a igualdade, e esta colocada acima de qualquer interesse econômico ou pessoal, ainda que, para isso, o Estado precisasse suprimir liberdades individuais.
Enquanto liberdade e igualdade rivalizavam e governos usavam suas populações como cobaias na tentativa de demonstrar ao resto do mundo que este ou aquele sistema era o melhor, tratando a sociedade como verdadeiros ratos de laboratório, Rawls procurou uma terceira via, onde o vencedor não seria uma ideologia ou um governo, ou decidido entre o Ocidente ou o Oriente, ou entre a direita ou a esquerda, mas sim onde o vencedor fosse toda uma sociedade. Especulo que pode residir aqui o maior valor da obra de Rawls: o cuidado que teve para respeitar e exaltar a liberdade como um dos maiores valores da existência humana e, ao mesmo tempo, o zelo que teve para com a igualdade como baluarte da convivência política. Em seu intento conciliador fica visível o apreço pelo bem da humanidade, pela calma dos ânimos e pela fraternidade entre as pessoas. É com esse espírito que o autor se debruça sobre uma das mais basilares perguntas da filosofia política, embora ela pareça simples e trivial: o que é uma sociedade justa? Fugindo de complexificações infrutíferas, as quais mais fazem afastar de uma resposta unívoca do que aproximar, percebe-se que o Rawls tinha conhecimento de todas as transformações ocorridas no mundo desde o século XVIII, o que foi determinante para afastá-lo do vácuo histórico e ao mesmo tempo do vazio teorético.
John Rawls solidifica sua teoria em dois valores, liberdade e igualdade, e usa o conceito de justiça como equidade para responder a principal pergunta da filosofia política. Uma vez delimitadas as fronteiras de sua teoria, Rawls não somente conclui uma obra prima filosófica, mas vai além, encravando seu nome na história, escrevendo suas ideias em uma tábua de pedra com estilete de diamante, eternizando seu pensamento político e nos levando a reflexões profundamente humanas. Há 17 anos Rawls nos deixou, mas os ensinamentos com os quais ele nos brindou continuarão reverberando. Rawls não era do século XX, ou do de qualquer outro século que seja; não é nem extemporâneo, é atemporal: conquistou seu lugar na eternidade.