Um dia eles vieram e levaram meu vizinho que era judeu. Não sou judeu e não me incomodei. No dia seguinte levaram meu outro vizinho que era comunista. Não sou comunista e não me incomodei. No terceiro dia levaram meu vizinho católico. Como não sou católico, não me incomodei. No quarto dia, vieram e me levaram; e não havia mais ninguém para reclamar.”   Martin Niemöller - 1933 .
 
O que uma ideologia fundamentada em crenças espúrias pode fazer, todos nós sabemos. Há vários exemplos na História. E pelo visto, ainda não conseguimos encontrar remédio eficaz para essa doença a que, volta e meia, nossa sociedade é acometida. O infeliz pronunciamento do ex-secretário de cultura do governo Bolsonaro, parafraseando parte do discurso do sinistro ministro de propaganda de Hitler é um claro exemplo disso. Cultura, para os nazistas, era caso de polícia. “Quando ouço falar em cultura, saco logo meu revólver”, disse Goering, o segundo homem em poder do regime nazista. Não acredito em reencarnação e tenho minhas dúvidas quanto ao fato de o espírito de uma pessoa morta poder encarnar numa pessoa viva. Mas se até Bolsonaro, evangélico neo-pentecostal, reacionário, ultra direitista e simpatizante da ditadura, se sentiu incomodado com a “incorporação” do espírito “goebelliano” no seu secretário de cultura e imediatamente o exonerou, é porque nem ele conseguiu digerir o surto nazista do seu comandado.
O presidente acertou ao exonerar Roberto Alvim. Mas isso não afasta nossa preocupação com a ideologia praticada pelo atual governo. Pronunciamentos de outros participantes do Ministério Bolsonaro, como a Ministra Damares Alves, também pastora neo-pentecostal, já mostraram que há uma clara disposição do seu governo em “encaixotar” a cultura brasileira num molde ideológico de autoritarismo chauvinista, xenófobo e intolerante, que lembra, de fato, o modelo nacional socialista que Hitler e seu circulo do mal impôs ao povo alemão. Não foi apenas um deslize semântico do secretário que o levou a plagiar o ministro da propaganda de Hitler. Existe sim, um fermento ideológico nesse governo que incentiva reações nesse sentido. Ele transparece mais claramente nos campos da educação e da cultura, pois nestes, como bem viu Marx, está a “super-estrutura” de uma sociedade, ou seja, a base do pensamento que forma o espírito de um povo. A manipulação consciente e dirigida dessa base foi a grande realização de Joseph Goebbels, como ministro da propaganda nazista. Através dessa manipulação ele promoveu uma autêntica lavagem cerebral no povo alemão, fazendo com que ele, coletivamente, aderisse ao nazismo e fechasse os olhos, a mente e o coração para as atrocidades cometidas por esse odioso regime.
Sou otimista e acredito que toda notícia ruim tem um lado bom. O lado bom dessa diarréia intelectual que tomou conta do nosso país é que isso talvez sirva para abrir os olhos do nosso povo e nós possamos ver para onde estamos sendo encaminhados. Só espero que não comecemos a fazer isso quando já não houver mais ninguém para se incomodar.