Complô contra Kennedy
Em tempos de fake news e teorias conspiratórias, escrever sobre assuntos sérios é difícil. Caso seja reeleito, Donald Trump só vai liberar os últimos documentos secretos sobre o assassinato de Kennedy, em 2021. O que poderia haver de importante, que ainda não foi revelado, quase seis décadas depois do crime?
Uma análise dos últimos seis meses de mandato (junho a novembro de 1963) aponta para uma alta probabilidade de complô contra Kennedy. Houve nove planos para matar o presidente com snipers: Lee Oswald (Dallas), Thomas Vallee (Chicago), Harry Power (San Antonio), Gilberto Lopez (Tampa), Santiago Garriga (Miami), John Glenn (Estado de Indiana), Harry Dean (Detroit), Vaugh Marlowe (Los Angeles) e Richard Nagell (Estado do Texas).
Oito dos nove planos estavam conectados a cidades (ou estado) que Kennedy visitou antes do assassinato. Em todas as cidades, a máfia controlava territórios com algum chefão local: John Roselli, Joe Campisi, Santo Trafficante (perdeu cassinos em Cuba), Carlos Marcello (deportado algemado) e Sam Giancana (fraudou os votos em Illinois na eleição de 1960). Estes três últimos tinham motivos claros para planejar o assassinato do presidente porque Robert Kennedy, procurador geral, estava perseguindo a máfia.
Em data próxima à visita do presidente, pelo menos três snipers mudaram-se para a cidade alvo: Lee Oswald (Dallas), Thomas Vallee (Chicago) e Gilberto Lopez (Tampa). Além disso, Vaugh Marlowe (Los Angeles) já morava na cidade. Com exceção de Santiago Garriga e Gilberto Lopez, os outros sete eram ex-militares. Com exceção de Harry Power, os outros oito tinham ligação ou interação com serviços de inteligência ou com cubanos exilados. Mais da metade deles visitou a Cidade do México (para tentar visto para Cuba), exibia problema psicológico e tinha comportamento anti-Kennedy.
A CIA, o FBI e o Serviço Secreto não forneceram nenhuma informação ou qualquer registro para a Comissão Warren, sobre os planos anteriores, para o relatório oficial sobre o assassinato. O caso mais surpreendente, sem dúvida, e mais conhecido é o de Chicago. O ex-militar Thomas Vallee arrumou emprego em edifício alto, perto do estádio da cidade, onde há uma curva bem acentuada por onde a caravana presidencial seguiria caminho. Ele foi preso tendo um rifle com mira telescópica. Em tempos de Guerra Fria, fazia sentido encobrir e não divulgar planos e tentativas frustradas. Embora, em alguns poucos casos, algumas pequenas notas tenham saído em jornais locais. O distanciamento histórico já se mostra suficiente para uma análise dos fatos ocorridos.
Depois da Revolução Cubana e subsequente aproximação com a URSS, a relação do país caribenho com os Estados Unidos passou a ser extremamente complicada após o fracassado desembarque, por militantes anticastristas, na Baía dos Porcos. Fato que levou à demissão de Allen Dulles, diretor da CIA. Esta estava interessada em matar Fidel Castro. William Harvey da CIA foi ordenado a ativar o projeto ZR/Rifle e contatou a máfia para executar o plano em Cuba. Este projeto era utilizado em outros países para assassinatos políticos.
Criado em Nova York, o comitê em defesa de Cuba se expandiu pelo país ao posicionar-se contra a invasão e o embargo econômico. Era chamado de FPCC (Fair Play for Cuba Committee). David Philips da CIA coordenava o monitoramento do FPCC e também era responsável pela propaganda contra o comunismo. Um memorando indicava o plano de usar material falso do FPCC para criar problemas para Cuba.
Com exceção de Thomas Vallee e Harry Power, os outros sete infiltraram-se no FPCC. Três como agentes duplos, incluindo Lee Oswald. A simulação de briga de rua com anticastristas ajudava a manter o disfarce e credibilidade de apoio ao discurso comunista. Ser preso e depois dar entrevista na televisão chamava ainda mais a atenção, como conseguiu Lee Oswald em Nova Orleans. Este enigmático personagem é o autor dos três tiros em Dallas, cuja dinâmica do evento foi reproduzida no documentário JFK: The Lost Bullet (2011) do National Geographic.
Para uma visão do ocorrido, em 22/11/1963, deve-se afastar o olhar e analisar os Estados Unidos naquele ano. Não ficar tão próximo de Dallas com olhar fixo para Elm Street, Dealey Plaza e o atual Museu do Sexto Andar. Não se fixar no evento isolado, mas no conjunto deles.
Houve um provável complô contra Kennedy. Tanto é verdade que, em 25 de novembro, Harry Power entrou no Terre Haute House, em Indiana, com enorme pacote. Quando saiu do hotel, deixou no quarto um rifle, encontrado pela polícia.
A divulgação da deserção de Lee Oswald para a URSS e a viagem ao México, para tentar visto para Cuba, estão dentro do esquema de propaganda para desviar a atenção da investigação. A conexão de interesses entre agentes da CIA, militantes anticastristas e a máfia é forte indício para se reabrir o caso.