Reeleição de Trump
Em 2016, a eleição de Donald Trump provocou surpresa e choque político. Mesmo tendo quase 2,9 milhões de votos populares a menos, o candidato republicano foi eleito de maneira indireta no Colégio Eleitoral por 304 a 227. Tal fato já havia ocorrido em 1824, 1876, 1888 e 2000.
A campanha eleitoral agressiva de ataque contra Hillary Clinton gastou um milhão de dólares, por dia, no Facebook. Nas últimas semanas, antes do dia da eleição, foram disparadas quase 6 milhões de mensagens. O Projeto Álamo monitorava a campanha nos 50 estados do país. A eleição foi decidida por cerca de 77 mil votos, tendo a vantagem de Trump ocorrido em Wisconsin (23 mil), Michigan (11 mil) e Pensilvânia (43 mil). Os três estados representam 46 do total de 538 votos do Colégio Eleitoral.
Há vários fatores para considerar Trump favorito à reeleição. A economia está crescendo e a taxa de desemprego é a mais baixa desde 1968. Redes sociais também foram essenciais para a vitória, outro fator que pode repetir-se em 2020. Entre junho e outubro de 2016, a campanha foi conduzida por Steve Bannon da Cambridge Analytica. Ele também controlava o jornal Breitbart News que propagava notícias favoráveis a Donald Trump e contrárias a Hillary Clinton. Em 2014, Cambridge Analítica conseguiu que 300 mil pessoas fizessem um teste de personalidade no Facebook. A partir disso, a empresa inglesa (com filial nos Estados Unidos) teve acesso ao perfil de 87 milhões de usuários. Também houve compra de dados (Previdência Social, de bancos, cartões de créditos e de gigantes da tecnologia como Google) para uso na eleição. Estabelecidos 5 mil pontos de medição para cada pessoa, criou-se o perfil de 32 tipos de eleitor que eram monitorados pelo Projeto Álamo em cooperação com Cambridge Analytica.
Compilar e analisar informação de indivíduos visa determinar o que motiva o comportamento humano. Interesse político, consumo e estilo de vida são fatores que se inter-relacionam com segmentação por geografia, idade e gênero. A personalidade, com escolhas e motivações, pode ser avaliada a partir do teste OCEAN, sigla em inglês: abertura (open), conscienciosidade, extroversão, amabilidade e neuroticismo. O questionário avalia experiências, sentimentos e comportamentos permitindo traçar os diversos perfis do eleitorado. A interpretação psicométrica da personalidade indica a provável inclinação política.
A psicometria consiste no conjunto de técnicas utilizadas para mensurar, de forma adequada e comprovada experimentalmente, um conjunto ou uma gama de comportamento que se deseja conhecer melhor. Aplicada à eleição, permite definir a mensagem de maneira segmentada para público específico e utilizando-se do dark post. Este é enviado para pessoas que visualizam mensagens negativas atacando o adversário, mas que não permanecem na timeline. Não há como verificar a existência, pois desaparecem após a exibição. Constam em registros do Facebook, mas os dados não foram disponibilizados para a investigação do Senado.
Documentos recentes da Cambridge Analytica, divulgados por Brittany Kaiser, apontam a participação da empresa em 68 países. Uma operação global em escala industrial em cooperação com governos, agências de inteligência, grandes corporações e campanhas políticas para manipular e influenciar as pessoas. Esta revelação tem enormes implicações de segurança nacional. Segundo a ex-funcionária da empresa, as mesmas pessoas envolvidas na eleição de 2016 estão preparando a reeleição de Trump, em 2020. Uma delas é o bilionário Robert Mercer. Na década de 1960, trabalhava na IBM onde desenvolveu a tradução automática, base para a inteligência artificial, e que tem aplicação prática no Google. Na década de 1990, ele passou a trabalhar no fundo especulativo Renaissance Technology. Utilizando-se de método matemático para cotação na bolsa, para prever variação, criou um algoritmo de trading (compra e venda de ações) ao aplicar dados e examinar performance de contrato e a variação das ações. Com ganhos de 30% a 35% ao ano, seu fundo tornou-se o mais rentável do mundo. Ficou bilionário em uma década. Em 2010, sua influência permitiu que limites de gastos de campanha fossem revistos pela Suprema Corte. Os comitês de ação política passaram a ter gastos ilimitados, enquanto campanhas oficiais de candidato continuam com teto de gasto.
Robert Mercer aproximou-se de Trump durante as primárias republicanas, após a derrota do texano Ted Cruz. Rebekah Mercer jantou com Trump para definir o apoio do pai dela. Robert Mercer tinha investido na compra do jornal Breitbart News e na criação da filial da Cambridge Analytica, ambos sob comando de Steve Bannon. A vitória de Trump ocorreu porque, em três estados, eleitores foram persuadidos a votar nele e outros dissuadidos de votar na adversária. Em 2020, a vitória indireta no Colégio Eleitoral pode ocorrer de novo.