O VERDADEIRO NOME DO DIABO
 
Muitos ditados populares embutem preconceitos. Outros denunciam traços de personalidade. Quem diz que lugar de mulher é na cozinha sugere um caráter machista; quem acredita que água mole em pedra dura tanto bate até que fura mostra que é muito persistente ou teimoso como uma mula. E quem disse que mulas são teimosas? É preciso tomar cuidado com as mensagens embutidas nos ditados. Eles podem ancorar comportamentos indesejáveis e politicamente incorretos. Acreditar que é de pequeno que se torce o pepino pode levar-nos a um processo no Conselho Tutelar; que a noite todos os gatos são pardos pode fazer com que nós nos descuidemos em nossas escolhas; que os opostos se atraem pode nos levar a escolher amigos e parceiros que trarão muitos conflitos. Achar que cachorro velho não aprende truque novo nos levará a excluir pessoas de muita experiência. E assim por diante.
Alguém disse um dia que errar é humano. Essa pessoa certamente queria justificar a si mesma por alguma coisa que tentou fazer e não obteve bom resultado. Errar não é humano. Na verdade, é desumano. Ao admitir pressupostos desse tipo programamos para nós mesmos um comportamento de conformidade e limitação.  Aliás, é o que fazemos diariamente. Encaixotamos o universo infinito em nossas mentes e lhe damos um nome: sabedoria. Mas o que é a nossa sabedoria além da quantidade, e principalmente, da qualidade de informação que temos?
Falta de informação ou interpretação errônea dela são a causa dos nossos erros. Nossa mente não erra. Ela é como um computador da mais alta tecnologia. Só dá respostas erradas quando os dados com os quais a alimentamos são falsos ou incompletos. Se ela tiver informações corretas ela nos dará respostas adequadas.
Pressupostos baseados em informações falsas baniram da vida ocidental até o mais salutar dos costumes, que é a higiene pessoal. Tomar banho, para os bons padres medievais, era um costume pagão, um prazer que os pecadores da licenciosa sociedade romana se davam. Por conta disso, a maioria dos europeus ficou 1500 anos sem tomar banhos regulares, sujeitando-se à pragas, doenças e outras enfermidades que a falta de higiene e a insalubridade provoca. Nós não temos uma porção má. A nossa maldade é apenas dor física ou moral. É somente a reação de uma pessoa que está sofrendo. O diabo é a dor que desorienta. E toda dor é informação. Quando sentimos alguma dor, física ou moral, o nosso organismo está nos informando que alguma coisa está errada com ele, ou que algo vai mal em nossa vida.
Informação falsa, ou mal interpretada, é o verdadeiro nome do diabo. No dia em que aprendermos a tratar a dor do mundo como informação ele poderá se transformar, de fato, naquele paraíso que até hoje só existiu em nossas mentes. Porque então saberemos dar respostas mais adequadas aos motivos que a provocam.  E não precisaremos mais justificar a nossa incúria dizendo que errar é humano.