MUDANÇAS NA DEMOCRACIA

O que devemos aprender com os recentes acontecimentos na América Latina? Tudo. Destacarei o que parece ser de maior relevância, mas nem sempre evidente (para alguns): a democracia, mesmo que seja incontestavelmente a melhor forma de organização política, desde sempre é imperfeita e sua concretização incompleta, o que tem sido, historicamente, sua maior debilidade, e, aliás, grande inimigo.

Antes de continuar, repassemos duas premissas. 1: na tradição ocidental, democracia é participação, liberdade e responsabilidade social. A isso, adiciona-se a ideia da institucionalidade de certos procedimentos por instituições e agentes públicos. 2: todas as sociedades políticas atuais se autoproclamam democráticas e suas Constituições institucionalizam a democracia, como forma de Estado. Então por que ainda ocorrem manifestações de desagrado que levam à instabilidade?

Obrigatoriamente menciona-se a presença de mazelas sociais que resultam endêmicas às democracias, isto é, pobreza, desigualdades, corrupção e políticas antipopulares; evidências das imperfeições da democracia. É insuficiente identificar o neoliberalismo como causa porque seria historicamente falso, haja vista que o capitalismo tem sido acompanhado desses acontecimentos e seus similares. Sem contar que a Bolívia não segue um modelo neoliberal.

Parece que a questão deveria se localizar nas limitações do capitalismo em enfrentar seus desafios, de uma parte, e no medo de dar o passo definitivo para seu aperfeiçoamento, de outra. Ou seja: socializar a democracia. A socialização da democracia seria um antídoto, pois as decisões e medidas viriam após o diálogo social, o que resultaria na superação da deficiente interação entre governantes e sociedade.

Claro que Governos são instituídos para tomar decisões, mas ninguém se oporia a que elas aparecessem depois da socialização de suas necessidades e a justificação das consequências. O contrário seria, como têm sido, a incomunicabilidade, cuja única derivação são manifestações de desacordo e inconformidade. Responsabilizar a esquerda, partidos ou “grupos terroristas”, não trará solução. O caminho é, pois, democratizar o exercício do poder e do mandato político.