NÓS, QUE VAMOS MORRER, VOS SAUDAMOS
Machadinho é médico intensivista. Responde pela unidade de UTI num hospital público. No momento ele está com um problemão. A unidade que ele comanda tem apenas oito leitos e todos estão ocupados, menos um. Ele recebeu a notícia de que três pacientes acabam de dar entrada no pronto socorro. Um é um senhorzinho de oitenta anos que está com um câncer terminal. Outro é uma gestante de alto risco que foi operada de emergência e precisa de cuidados intensivos. Outro é um jovem de família abastada que tomou todas numa festa e se arrebentou num acidente de carro na estrada.
Machadinho sabe que só pode atender um dos três. Não tem como improvisar leito na UTI. Isso é praticamente impossível, embora muitas vezes alguns políticos pensem que é fácil e fiquem pressionando a direção do hospital para que atenda um dos seus eleitores.
Machadinho terá que escolher. Ele sabe que os dois que forem preteridos correm sério risco de morrer, pois terão que ser removidos para outros hospitais e vaga de UTI no sistema SUS é como acertar na mega sena.
A quem Machadinho contemplará? Quem ele escolherá para viver? Quem ele escolherá para morrer? É uma “escolha de Sofia”, e os médicos e os responsáveis pelos hospitais, no Sistema Público de Saúde, comumente convivem com esse dilema.
Dramatizamos a questão com a alusão à UTI, mas isso pode ser estendido para toda a saúde pública do país em geral. Por exemplo: cirurgia eletiva quer dizer que existe uma ordem de prioridade para fazê-las. Isso significa que é preciso escolher quem está precisando mais e quem está precisando menos. O critério para essa escolha ninguém sabe, mas seja qual for, e por mais honesto e justo que seja, fico imaginando como você se sentiria, caro leitor, se alguém dissesse para você que o seu problema de saúde não é prioritário. Que você vai ter esperar, não se sabe quanto tempo, por uma cirurgia, por que existem outros pacientes mais necessitados que precisam ser atendidos primeiro.
É cruel, mas infelizmente é assim. A nossa Constituição foi feita por políticos e políticos gostam de prometer. Mesmo sabendo que não terão condição de cumprir o prometido. Prometeram na Carta Magna que o Estado brasileiro daria saúde para todos. Só não disseram como, quando, e com que recursos. Enquanto esperamos que isso aconteça, morreremos nas macas e nas filas dos hospitais, ou em casa, esperando pelo prêmio de uma cirurgia necessária. Nossos políticos precisam parar de prometer coisas que não podem cumprir. Pior do não ter direito nenhum é saber que se tem, mas que ele não pode ser exercido por falta de recursos. É ganhar e não levar. Como nos tempos de Roma, quando os grandes senhores ficavam na tribuna assistindo gladiadores lutarem até a morte, nós também podemos dizer hoje a esses políticos: nós, que vamos morrer, vos saudamos.
Machadinho é médico intensivista. Responde pela unidade de UTI num hospital público. No momento ele está com um problemão. A unidade que ele comanda tem apenas oito leitos e todos estão ocupados, menos um. Ele recebeu a notícia de que três pacientes acabam de dar entrada no pronto socorro. Um é um senhorzinho de oitenta anos que está com um câncer terminal. Outro é uma gestante de alto risco que foi operada de emergência e precisa de cuidados intensivos. Outro é um jovem de família abastada que tomou todas numa festa e se arrebentou num acidente de carro na estrada.
Machadinho sabe que só pode atender um dos três. Não tem como improvisar leito na UTI. Isso é praticamente impossível, embora muitas vezes alguns políticos pensem que é fácil e fiquem pressionando a direção do hospital para que atenda um dos seus eleitores.
Machadinho terá que escolher. Ele sabe que os dois que forem preteridos correm sério risco de morrer, pois terão que ser removidos para outros hospitais e vaga de UTI no sistema SUS é como acertar na mega sena.
A quem Machadinho contemplará? Quem ele escolherá para viver? Quem ele escolherá para morrer? É uma “escolha de Sofia”, e os médicos e os responsáveis pelos hospitais, no Sistema Público de Saúde, comumente convivem com esse dilema.
Dramatizamos a questão com a alusão à UTI, mas isso pode ser estendido para toda a saúde pública do país em geral. Por exemplo: cirurgia eletiva quer dizer que existe uma ordem de prioridade para fazê-las. Isso significa que é preciso escolher quem está precisando mais e quem está precisando menos. O critério para essa escolha ninguém sabe, mas seja qual for, e por mais honesto e justo que seja, fico imaginando como você se sentiria, caro leitor, se alguém dissesse para você que o seu problema de saúde não é prioritário. Que você vai ter esperar, não se sabe quanto tempo, por uma cirurgia, por que existem outros pacientes mais necessitados que precisam ser atendidos primeiro.
É cruel, mas infelizmente é assim. A nossa Constituição foi feita por políticos e políticos gostam de prometer. Mesmo sabendo que não terão condição de cumprir o prometido. Prometeram na Carta Magna que o Estado brasileiro daria saúde para todos. Só não disseram como, quando, e com que recursos. Enquanto esperamos que isso aconteça, morreremos nas macas e nas filas dos hospitais, ou em casa, esperando pelo prêmio de uma cirurgia necessária. Nossos políticos precisam parar de prometer coisas que não podem cumprir. Pior do não ter direito nenhum é saber que se tem, mas que ele não pode ser exercido por falta de recursos. É ganhar e não levar. Como nos tempos de Roma, quando os grandes senhores ficavam na tribuna assistindo gladiadores lutarem até a morte, nós também podemos dizer hoje a esses políticos: nós, que vamos morrer, vos saudamos.