BRASIL, PAÍS DA RALÉ (A “ELITE” BRASILEIRA VAI AO VATICANO)
(Milton Pires)
A Depressão muitas vezes nos leva a criar fantasias, ilusões cuja fonte é a baixa autoestima e que, se não são tipicamente paranoides, nem por isso são menos graves.
Uma grande parte da minha vida eu me vi sendo excluído de grandes grupos, daqueles que eu pensava serem os bons empregos, boas rodas de convívio social. Pensava eu que estava sendo desprezado por aqueles que eu imaginava ser a “elite da minha profissão”, a elite de uma classe inteira…a elite da Medicina, a “elite” da sociedade. E eu estava, eu fui excluído, sim.
Não há dúvida. Isso fez por aumentar minha revolta, por diminuir mais ainda a autoestima...e eu não mudei de ideia sobre o que essa gente fez até hoje a não ser num ou dois “detalhes”, numa ou noutra pequena observação que faço questão de deixar aqui.
O que fizeram JAMAIS foi feito “contra” mim. Ninguém JAMAIS combinou nada “contra mim” - o que fizeram contra mim, fizeram contra si mesmos e vão continuar fazendo. É da natureza deles. É assim que são. Isso acaba com a hipótese de “paranoia” - todo paranoico no fundo, no fundo, é alguém que se considera especial. A verdadeira perseguição, o verdadeiro complô, precisa ser “contra ele”, caso contrário vira só Teoria da Conspiração – essa tem a pretensão da universalidade, de afetar todo planeta que agora alguns dizem ser “plano” e não redondo...
A segunda observação é que não existe, há muito tempo, “elite” alguma no Brasil. O Brasil é o país da ralé. Uma ralé de médicos, advogados, juízes, professores universitários, engenheiros, escritores...Todos eles, representantes da ralé, da miséria cultural, que destruiu o Brasil.
Eu fui preterido, fui difamado, ofendido, lesado e processado por gente capaz de ganhar 35 mil reais/mês, comprar uma casa de praia em Tramandaí (RS) e de fazer churrasco no final de semana ouvindo Anitta num volume suficiente para que os vizinhos chamem a Polícia. Essa gente ganha 35 mil por mês, sim...mas são só Xaienes, Taiguerleides, Vagineides, Fódersons, Assaltantersons, Chulédersons...com muito dinheiro.
Converse com eles durante dez minutos e você vai ver que eles não são diferentes das pessoas que moram na “Tinga”, na Baixada Fluminense, no Jardim Ângela, em Paraisópolis, na Favela do Três Oitão...na Vila Cruzeiro...Rocinha...
É gente que comprou Honda Civic e Mercedes e saiu “cantando pneu” na frente dos grandes parques no final de semana...pobre gente…Gente que tenta ler “O Capital no Século XXI”, de Thomas Piketty, e não tem a mínima ideia do que trata “O Capital” original, o capital escrito no século XIX.
Gente miserável nas suas piscinas de condomínio, piscinas que Cazuza disse estarem “cheias de ratos” sem perceber que ele mesmo já era um deles... Gente que embarca nas suas viagens para Miami comprando “o novo livro do Chico Buarque” no Aeroporto…
Parte da “elite” do Brasil, essa elite imaginária que só existia na minha cabeça em função da doença e que existe na cabeça dos sadios por causa da ignorância, vai agora lotar um ou dois aviões para, com dinheiro público, “ir na Irmã Dulce” no Vaticano…
Lá se vai o avião financiado com dinheiro público cheio de madames usando sapatinho Louboutin, bolsinha Louis Vuitton...vão acompanhando seus maridões políticos, ministros, procuradores...Vão comentando o último programa do Reinaldo Azevedo...o livro do Chico Buarque, aquela festa em que encontraram o Paulo Coelho, o Luís Fernando Veríssimo, o Juremir Machado da Silva...Márcia Tiburi...
São macumbeiros evangélicos, são comunistas ateus, judeuzinhos socialistas, católicos aborteiros ou conservadores que querem a liberação da maconha, da Telemedicina, da Eutanásia...são a ralé, são o lixo, a escumalha desse aterro sanitário espiritual que se tornou o Brasil...O Brasil que oscila entre entre Vagabundos Petistas que pedem “Lula Livre” e Milicianos Evangélicos Bolsonaristas que dizem que “Bolsonaro não sabe de nada daquilo que Onyx Lorenzoni está fazendo”...coitados...
Pobre de mim: eu considerava essa gente do avião, que não é diferente da gente da Medicina, do Direito, da Universidade, dos Grandes Hospitais e Empresas, dos melhores clubes e Superiores Tribunais, como sendo “elite” porque, de um jeito ou de outro, consciente ou inconscientemente, eu os via como a “elite”….Eu sofria, me lamuriava por não conseguir trabalhar com a “elite da minha profissão”…eu me sentia “excluído”...recalcado...até petista, no século passado, eu já fui...
E não consegui trabalhar com a elite, mesmo: eu jamais consegui trabalhar com a “elite” da profissão na minha cidade.
Fica só uma lembrança final – não existe mais “elite” alguma, em profissão alguma, em NENHUMA cidade no Brasil.
Há gente que ganha mais e gente que ganha menos. A “elite” acabou. Em toda parte do Brasil só o que existe é a ralé...de Direita ou de Esquerda, Civil ou Militar, Pobre ou “Podre de Rico”...o Brasil é o país da ralé...
11 de outubro de 2019.