A BÍBLIA E A HOMOFOBIA BOLSONARISTA
Uma das mais edificantes histórias de amizade é relatada no Livro de Reis I, onde se destaca a relação entre Davi, jovem pastor guerreiro, que se tornaria rei de Israel, e Jônatas, filho mais velho do iracundo e traiçoeiro rei Saul.
Nestes tempos em que a liberdade se confunde com licenciosidade e os atuais governantes do nosso país invocam textos sagrados para justificar uma ideologia retrógrada e homofóbica, é interessante recordar essa historia bíblica.
A relação entre Davi e Jônatas era homossexual? A Bíblia não é muito clara a esse respeito e a linguagem que ela usa para relatar a amizade entre os guapos rapagões é muito dúbia. Principalmente quando Davi diz que o amor de Jônatas “era mais gentil e amável que o amor das mulheres”.(Reis I, 1;26). Esse trecho tem sido invocado pelos defensores da comunidade gay para sugerir que até Deus aprova esse comportamento, pois não só o permitiu entre dois dos seus mais amados filhos, como também o colocou acima até das rígidas noções de moral do seu povo escolhido, desprezando ainda a hierarquia e as próprias tradições políticas da nação israelita.
A Bíblia sugere que entre Davi e Jônatas devia mesmo existir um forte sentimento, que excedia a própria atração erótica que acontece entre duas pessoas (de sexos opostos geralmente, ou do mesmo sexo às vezes). Esse sentimento superou as questões políticas, a ambição pessoal, as disputas dinásticas e todas as dificuldades que separam as pessoas e faz com que elas se tornem adversárias e, no mais das vezes, inimigas.
Normalmente Jônatas seria inimigo de Davi, pois ele era o herdeiro natural do trono de Israel, por ser o filho mais velho de Saul. Estranhamente, ele preferiu apoiar Davi e se tornar seu mais ferrenho defensor, contra a ira do próprio pai. Os textos bíblicos mostram um Jônatas mais interessado em conservar o amor de Davi do que defender a sua própria herança.
Davi e Jônatas é uma história de amizade de ultrapassa os padrões comuns. Não se conhece outra, onde alguém fosse tão desapegado a ponto de trocar um reino pelo amor de um amigo. Se eles tiveram mesmo uma relação homossexual, isso não faz nenhuma diferença. O que motiva o estabelecimento de uma ligação tão intensa entre duas pessoas é o que menos importa, no fim das contas. O amor é um dom de Deus, e quando ele acontece merece respeito, não importa o sexo dos proagonistas. O verdadeiro amor (e a amizade é um tipo muito especial de amor) transcende os apelos da carne.
Se o Presidente Bolsonaro e alguns dos seus ministros forem mesmo bons evangélicos, como dizem ser, não deveriam ficar se preocupando com isso. Deveriam sim, se ocupar em fazer um bom governo, que é algo que o Brasil não tem já faz bastante tempo. Do resto a natureza cuida, e ao que se sabe, nenhum ser humano jamais foi mais sábia do que ela.