O PALANQUE DA DITADURA DESFIGURADA.

POR VALÉRIA GUERRA REITER

Hoje quando me deparei com a foto oficial do desfile militar de Sete de Setembro, divulgada na internet, senti arrepios. Eu vi o semblante da altivez profunda. E fiquei meditando, quem somos nós? Talvez sejamos mesmo assim, tenhamos um rosto de orgulho, por vezes, travestido de falsa modéstia.

O orgulho, pai de todos os vícios pariu o egoísmo. Esta referência é filosófica, e de outra forma não poderia ser justificada. Dominar o orgulho e o egoísmo obviamente não e uma tarefa fácil; afinal ambos são chagas; sendo o Egoísmo – o mais poderoso entre os filhos do Orgulho.

Tais vícios: Orgulho e egoísmo estavam impregnando cada expressão no palanque da Ditadura. O palanque que comemora a vitória do fascismo, ou da maneira de governar sobre o povo e nunca para o povo. As expressões conspícuas de um bispo, de um empresário televisivo, de sua esposa, e de um presidente; conduziram-me às tribunas da Roma Antiga, ou às sacadas encharcadas de czares de uma Rússia senhorial: Uma bancada de inumanos seres, que em seu princípio de existência já delineavam o orgulho e egoísmo, por instinto, a priori.

O Homo erectus, ao dar seus primeiros passos para o bipedismo migrará com a intenção de explorar o Planeta - e ao fazê-lo abandonará à própria sorte seus estorvos (os doentes e os moribundos de seu bando) ele só aprenderá a enterrar seus mortos na condição de Homo neanderthalensis - estaria ele sendo despertado pelas virtudes?

Virtudes? Quais seriam as disposições para praticar o bem? Como a coragem, o amor, a humildade e a paciência... afinal nesta batalha das virtudes contra os vícios, vivemos sob os auspícios amargos de ditaduras, sejam elas de chumbo, de cobre, ou pintadas de verde e amarelo.

De verde e amarelo se trajavam as figuras vivas da opressão, do descaso, da impostura, da injustiça, dependuradas em um palanque onde o conservadorismo faz ode ao capital. E o tributo ao Sete de Setembro, que sempre ocupou um lugar militar na vida do oprimido, torna-se hoje a farsa grotesca de uma Sucupira institucionalizada.

Enterramos nossos mortos e os homenageamos, desde a era neanderthalensis, e (desenvolvemos o sentimento), mas entre nós já existe uma nova espécie que deverá (em breve) ser catalogada pela taxonomia: o Homo mendacium.

O palanque armado para o grande desfile do dia que comemora o Golpe da Independência de 1822 demonstra que nunca deixamos de ser a Colônia sombreada por um eterno Cadafalso edificado pelo logro.

A esperança vencerá o medo? Talvez. Quando a bajulação e a corrupção deixarem de existir.

Valéria Guerra
Enviado por Valéria Guerra em 07/09/2019
Reeditado em 07/09/2019
Código do texto: T6739525
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