A polarização e a falta de conhecimento

Sim, o mundo está polarizado. Confesso que não é possível dizer se este é o momento histórico de maior polarização que a humanidade já viveu, ou se em outros momentos já ocorreram fatos como esse. Mas em relação ao Brasil, certamente é.

Observamos as pessoas designarem termos para um grupo ou outro: conservadores reacionários x progressistas liberais. Mas será que as pessoas são capazes de entender o significado dessas palavras?

Vamos primeiro analisar o termo reacionário. Segundo o dicionário Houaiss, reacionário é relativo à reação ou, aplicando o termo que seus opositores querem destacar, contrários à democracia, opostos à transformação da sociedade. Será mesmo? Pensemos...

Essa é a forma como é denominada uma das alas.

Por consequência, o oposto a isso é o liberal, e, conforme consta no mesmo dicionário, liberal é avesso às regras, que preza a liberdade de expressão, contrário à hierarquia, organização. Nada, enfim, pode servir como regulamentação. Há que ser livre, muitas vezes até sem medir consequências de seus atos. Liberdade, ponto final. Ora, seria interessante buscar no mesmo dicionário o que é liberdade? Ou será que aqui cabe uma análise filosófica do que é ser livre?

Podemos imaginar que para ser livre plenamente, o indivíduo necessita de responsabilidade para ser senhor de seus atos. É isso mesmo que pregam aqueles liberais? Responsabilidade? Pois liberdade pressupõe isso, responsabilidade, comprometimento, consigo próprio em razão do que se faz. Dever. É isso o que vemos nesse grupo? Ou será que vemos a deturpação do significado de liberdade? Não seria, na verdade, libertinagem? A ausência de compromisso com o que se faz?

Mas continuemos nossa análise semântica.

O que nos diz aquele dicionário sobre o termo progressista? Ora, progressista é aquele que é a favor do progresso ou contribui para ele, do desenvolvimento, da evolução, do aprimoramento. Por outro lado, conservador, seu suposto oposto, é aquele que busca preservar valores, ideias, princípios. Pejorativamente, conservador é o retrógrado, o atrasado. Será mesmo?

No fundo, o que essa dualidade quer é defender suas respectivas visões sócio-políticas sobre a vida. E nada mais justo também buscarmos entender o que é vida. Ora, a vida é, conforme o mesmo dicionário, característica dos organismos que evolui, atividade organizada, seja unicelular, seja pluricelular, como o ser humano.

Ora, surge aqui um paradoxo, pois se a vida requer organização, disciplina, controle, para evoluir, então, fica claro que para a existência da vida é necessário que haja hierarquia, regras, objetivo, disciplina. O contrário disso é não vida. Não há vida sem respeito às regras impostas pela própria vida. Aqui não quero entrar na seara divina, no ato de criação, mas sim na sua perpetuação. Para que haja a perpetuação da vida, é necessário que haja organização.

A forma como os grupos progressistas liberais encaram o fator vida é, na verdade, a prática da não vida, já que não é possível assumir responsabilidade, organizar-se, objetivar algo. Esse grupo é avesso à disciplina, ao regramento, fatores, primordiais para que haja manutenção, perpetuação e evolução da própria vida.

Na verdade, o que se nota é que a vida só é possível quando há regras, e somente quem as conserva defende o fator vida. A evolução lenta e natural ocorre porque a vida preserva seus valores, preserva sua organização, preserva seus princípios e valores. Não há atropelos, não há casuísmos, não há ideias circunstanciais. É vida, baseada em princípios, valores, que respeita o tempo, e tem a paciência de entender aqueles valores.

Assim, se formos dizer quem é a favor da vida, naturalmente chegaremos ao fato de que o conservador, por respeitar as regras da própria vida é que a defende. Já o progressista, na sua ânsia de contrariar as regras caminha para a não vida. Como encaramos a vida?