A MÁQUINA DE MENTIRAS NÃO FUNCIONOU NA ARGENTINA
Os argentinos são mais politizados do que nós. Sim, nós, néscios e indolentes brasileiros!... Pelo menos, eles leem mais. Aprenderam a ler alguns séculos mais cedo. Organizados, ou inteligentemente organizados, sempre têm ou buscam uma causa coletiva e nacionalista para lutar. ... Não em vão, pertencem a um país que já esteve nos píncaros do primeiro mundo. Não por servilismo, orgulham-se da sua história.
Aqui, com alguma razão ou aberração, há quem pretenda ocultar, perante as gerações mais novas, páginas inteiras de nossa história. Esconder o quê?
As raízes profundas de nossa escravidão? As grossas mentiras da Guerra Fria que ainda hoje congelam a nossa visão de mundo?...
Como falei que na Argentina se lê mais, atrevo-me a contar um pedacinho do que sei:
- Monteiro Lobato, em 1924 (não faz cem anos ainda), fundou a primeira editora privada nacional de livros do Brasil. Àquela época, fazia dois séculos que a Argentina vinha cultivando em campos mais férteis e já subia montanhas mais elevadas na seara da literatura. Buenos Ayres contava, praticamente, com uma livraria em cada rua naquele 1924. Aí, esse nosso corajoso escritor e neoeditor, Lobato, imprimiu a sua obra destinada a jovens e adultos: "Urupês". Uma tamanha façanha...
Digo com tristeza que, nos dois anos que se seguiram, sua empresa resvalou no amargo despenhadeiro da falência. Quase ninguém tinha interesse pela leitura. Dói ver que, ainda hoje, pouca coisa mudou em termos de estímulo. Basta ver as censuras impostas nos 36 anos de duas ditaduras que deixaram feridas abertas em nosso país no último século.
Em decorrência dessa não empolgação pela leitura, claro, somos isca fácil sujeita a ignóbeis manipulações
- religiosas, polítio-religiosas, pseudo-ideológicas -, agora movidas pelas redes sociais, totalmente direcionadas pelas empresas super-ricas que as controlam (ver documentário "A privacidade hackeada", Netflix).
De há muito, vimos perdendo essa corrida no campo do conhecimento (ficando cada vez mais difícil um empate).
Por exemplo:
Prêmio Nobel: Argentina (05) X Brasil (00).
Cuba (que já foi país de primeiro mundo), Bolívia, Venezuela (que por muitos anos, até o final do século passado, tinha a maior renda per capta da América Latina) , Peru. Colômbia, Chile, Uruguai, Paraguai, Honduras..., todos já foram contemplados com essa honrosa e sempre digna premiação.
E nós, na lanterna e sem pontuar, apenas conformados com nossas vexaminosas limitações.
Somos - lamento mais ainda - o país que menos lê em toda a América Latina. E, pelo andar da carruagem, assim ainda cambalearemos por alguns séculos.
Um detalhe importante, que também nos distancia daquele país, é que todo trabalhador argentino é sindicalizado; por lei, os sindicatos (de direita, de centro ou de esquerda) homologam todos os contratos de trabalho. E nós, avessos a esse tipo de organização, preferimos viver individualmente submissos às diretrizes emanadas do poder econômico. Provavelmente, um sobejo de nossa origem escrava.
"O patrão sabe mais das coisas e diz que até conversa com Deus. Logo, sabe porque estou sendo açoitado. Eu, seu humilde servo, é que nunca terei o direito de saber porque vivo apanhando. Só Deus sabe!"...
Seguem mais alguns dados conformistas para uma breve comparação:
1 - Maurício Macri foi eleito em 2015 com apoio maciço do setor agro-pecuário. Não conseguiu implantar o seu projeto fundamentado unicamente no agronegócio.
Coincidentemente, no Brasil, o Legislativo, o Judiciário e o Executivo, se encontram tomados e controlados, em sua maioria, por latifundiários ou seus familiares.
2 - Discussões políticas, na Argentina, sempre acabam nas ruas. O povo interage.
No Brasil, o povo participa sem sair de casa, assimilando, passivamente, o que vem filtrado (às vezes, manipulado) pelos canais de TV ou redes sociais. Assiste-se à escavação da própria sepultura, sem a devida força para esboçar qualquer reação, Presa fácil de ser fanatizada.
3 - A Argentina, com a direita alegando "crise", privatizou todas, todas, todas as suas estatais, sob a alegação de que o país voltaria a crescer. Também sob promessa de crescimento, fez a sua reforma previdenciária em dezembro/1918. Embora mais amena do que a nossa, a reação popular à reforma diante do Congresso foi tamanha que deixou um saldo de 87 policiais feridos.
Aprovou-se-a à força, mas o que essas medidas reformistas reforçaram, na realidade,, foi a indignação das pessoas e a inflação, que já alcança o alarmante índice de 55%. A taxa de desemprego já supera os 10%. Além do mais, ainda está lá dentro o F.M.I., que tanto nos fustigou nos tempos pós-ditatoriais até o ano de 2002.
No Brasil, também sob a alegação de "crise", com certeza provocada (os ricos estão mais ricos e sem produzir, haja vista os trilhões de reais movimentados na BOVESPA diariamente), as privatizações de estatais vêm acontecendo a preços vis e sem nenhum reflexo positivo nos índices econômicos. O povo nem tomou conhecimento das fajutas negociações do Pré-Sal com a Shell, a Exonn e a Chevron (que nos impuseram pagamento de impostos só a partir do ano 2040); tampouco reagiu à venda, por valor insignificante e a preço de mercado, conforme variação do índice da Bolsa de Valores, da parte filé (subsidiárias) da Petrobras, cujo produto um dia foi "nosso". Simplesmente, de dação em dação (não de reação em reação), nosso país (econômica e financeiramente) vai seguindo ladeira abaixo os passos da combalida Argentina.
4 - Bolsonaro visita a Argentina. Propõe o absurdo de uma moeda comum. Os argentinos entenderam que a demagogia era uma farsa para melhorar a performance de Macri nas eleições. Resultado: um tiro no pé; caíu, como em voo razante, a imagem do candidato Macri.
5 - Reforma trabalhista. Sindicatos ainda com um pouco de musculatura, o povo (cerca de 200 mil argentinos) protesta diante das ofensivas que vão na contramão dos direitos dos trabalhadores, assim como contra a perseguição aos sindicatos - suas únicas armas afora o grito e o voto.
6 - Realizadas as prévias eleitorais em 11/08/2019, o resultado em favor de Alberto Fernández e Cristina Kirchner foi animador (15 pontos acima de Macri).
Não valeu a enorme descarga de "fake news", tão grandemente utilizada no Brasil e no mundo (principalmente nos Estados Unidos, com influência na eleição de Trump; e na Inglaterra, com influência no Brexit)...
Não é nenhuma novidade a direita - e agora a extrema-direita - trabalharem com a mentira (coisa que no nazismo deu certo), com a difamação, com a desmoralização do seu concorrente. Kirchner sabe o que sofreu: de mãe que abandonou um filho deficiente físico a mulher cínica e namoradeira. "Só Deus sabe!".
7 - Mas o argentino não caíu na esparrela em que caímos, não deu bolas às "fake news", não se deixou levar pelo deboche, pelo preconceito, pela maledicência ou pela mordacidade.
Eleição justa é isto aí: cada um participa com o seu voto e sua consciência.
. . .
É de se crer que a "esquerdalha" argentina vai fazer o presidente brasileiro procurar o sanitário mais algumas vezes por dia.
Os argentinos são mais politizados do que nós. Sim, nós, néscios e indolentes brasileiros!... Pelo menos, eles leem mais. Aprenderam a ler alguns séculos mais cedo. Organizados, ou inteligentemente organizados, sempre têm ou buscam uma causa coletiva e nacionalista para lutar. ... Não em vão, pertencem a um país que já esteve nos píncaros do primeiro mundo. Não por servilismo, orgulham-se da sua história.
Aqui, com alguma razão ou aberração, há quem pretenda ocultar, perante as gerações mais novas, páginas inteiras de nossa história. Esconder o quê?
As raízes profundas de nossa escravidão? As grossas mentiras da Guerra Fria que ainda hoje congelam a nossa visão de mundo?...
Como falei que na Argentina se lê mais, atrevo-me a contar um pedacinho do que sei:
- Monteiro Lobato, em 1924 (não faz cem anos ainda), fundou a primeira editora privada nacional de livros do Brasil. Àquela época, fazia dois séculos que a Argentina vinha cultivando em campos mais férteis e já subia montanhas mais elevadas na seara da literatura. Buenos Ayres contava, praticamente, com uma livraria em cada rua naquele 1924. Aí, esse nosso corajoso escritor e neoeditor, Lobato, imprimiu a sua obra destinada a jovens e adultos: "Urupês". Uma tamanha façanha...
Digo com tristeza que, nos dois anos que se seguiram, sua empresa resvalou no amargo despenhadeiro da falência. Quase ninguém tinha interesse pela leitura. Dói ver que, ainda hoje, pouca coisa mudou em termos de estímulo. Basta ver as censuras impostas nos 36 anos de duas ditaduras que deixaram feridas abertas em nosso país no último século.
Em decorrência dessa não empolgação pela leitura, claro, somos isca fácil sujeita a ignóbeis manipulações
- religiosas, polítio-religiosas, pseudo-ideológicas -, agora movidas pelas redes sociais, totalmente direcionadas pelas empresas super-ricas que as controlam (ver documentário "A privacidade hackeada", Netflix).
De há muito, vimos perdendo essa corrida no campo do conhecimento (ficando cada vez mais difícil um empate).
Por exemplo:
Prêmio Nobel: Argentina (05) X Brasil (00).
Cuba (que já foi país de primeiro mundo), Bolívia, Venezuela (que por muitos anos, até o final do século passado, tinha a maior renda per capta da América Latina) , Peru. Colômbia, Chile, Uruguai, Paraguai, Honduras..., todos já foram contemplados com essa honrosa e sempre digna premiação.
E nós, na lanterna e sem pontuar, apenas conformados com nossas vexaminosas limitações.
Somos - lamento mais ainda - o país que menos lê em toda a América Latina. E, pelo andar da carruagem, assim ainda cambalearemos por alguns séculos.
Um detalhe importante, que também nos distancia daquele país, é que todo trabalhador argentino é sindicalizado; por lei, os sindicatos (de direita, de centro ou de esquerda) homologam todos os contratos de trabalho. E nós, avessos a esse tipo de organização, preferimos viver individualmente submissos às diretrizes emanadas do poder econômico. Provavelmente, um sobejo de nossa origem escrava.
"O patrão sabe mais das coisas e diz que até conversa com Deus. Logo, sabe porque estou sendo açoitado. Eu, seu humilde servo, é que nunca terei o direito de saber porque vivo apanhando. Só Deus sabe!"...
Seguem mais alguns dados conformistas para uma breve comparação:
1 - Maurício Macri foi eleito em 2015 com apoio maciço do setor agro-pecuário. Não conseguiu implantar o seu projeto fundamentado unicamente no agronegócio.
Coincidentemente, no Brasil, o Legislativo, o Judiciário e o Executivo, se encontram tomados e controlados, em sua maioria, por latifundiários ou seus familiares.
2 - Discussões políticas, na Argentina, sempre acabam nas ruas. O povo interage.
No Brasil, o povo participa sem sair de casa, assimilando, passivamente, o que vem filtrado (às vezes, manipulado) pelos canais de TV ou redes sociais. Assiste-se à escavação da própria sepultura, sem a devida força para esboçar qualquer reação, Presa fácil de ser fanatizada.
3 - A Argentina, com a direita alegando "crise", privatizou todas, todas, todas as suas estatais, sob a alegação de que o país voltaria a crescer. Também sob promessa de crescimento, fez a sua reforma previdenciária em dezembro/1918. Embora mais amena do que a nossa, a reação popular à reforma diante do Congresso foi tamanha que deixou um saldo de 87 policiais feridos.
Aprovou-se-a à força, mas o que essas medidas reformistas reforçaram, na realidade,, foi a indignação das pessoas e a inflação, que já alcança o alarmante índice de 55%. A taxa de desemprego já supera os 10%. Além do mais, ainda está lá dentro o F.M.I., que tanto nos fustigou nos tempos pós-ditatoriais até o ano de 2002.
No Brasil, também sob a alegação de "crise", com certeza provocada (os ricos estão mais ricos e sem produzir, haja vista os trilhões de reais movimentados na BOVESPA diariamente), as privatizações de estatais vêm acontecendo a preços vis e sem nenhum reflexo positivo nos índices econômicos. O povo nem tomou conhecimento das fajutas negociações do Pré-Sal com a Shell, a Exonn e a Chevron (que nos impuseram pagamento de impostos só a partir do ano 2040); tampouco reagiu à venda, por valor insignificante e a preço de mercado, conforme variação do índice da Bolsa de Valores, da parte filé (subsidiárias) da Petrobras, cujo produto um dia foi "nosso". Simplesmente, de dação em dação (não de reação em reação), nosso país (econômica e financeiramente) vai seguindo ladeira abaixo os passos da combalida Argentina.
4 - Bolsonaro visita a Argentina. Propõe o absurdo de uma moeda comum. Os argentinos entenderam que a demagogia era uma farsa para melhorar a performance de Macri nas eleições. Resultado: um tiro no pé; caíu, como em voo razante, a imagem do candidato Macri.
5 - Reforma trabalhista. Sindicatos ainda com um pouco de musculatura, o povo (cerca de 200 mil argentinos) protesta diante das ofensivas que vão na contramão dos direitos dos trabalhadores, assim como contra a perseguição aos sindicatos - suas únicas armas afora o grito e o voto.
6 - Realizadas as prévias eleitorais em 11/08/2019, o resultado em favor de Alberto Fernández e Cristina Kirchner foi animador (15 pontos acima de Macri).
Não valeu a enorme descarga de "fake news", tão grandemente utilizada no Brasil e no mundo (principalmente nos Estados Unidos, com influência na eleição de Trump; e na Inglaterra, com influência no Brexit)...
Não é nenhuma novidade a direita - e agora a extrema-direita - trabalharem com a mentira (coisa que no nazismo deu certo), com a difamação, com a desmoralização do seu concorrente. Kirchner sabe o que sofreu: de mãe que abandonou um filho deficiente físico a mulher cínica e namoradeira. "Só Deus sabe!".
7 - Mas o argentino não caíu na esparrela em que caímos, não deu bolas às "fake news", não se deixou levar pelo deboche, pelo preconceito, pela maledicência ou pela mordacidade.
Eleição justa é isto aí: cada um participa com o seu voto e sua consciência.
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É de se crer que a "esquerdalha" argentina vai fazer o presidente brasileiro procurar o sanitário mais algumas vezes por dia.