Reflexões da Política Brasileira
Vivemos um momento político muito complicado no Brasil. Há um radicalismo e uma cegueira por toda parte, o banal e o trivial se tornaram regra do jogo e a intolerância prepondera nos debates e discussões onde antes seria impensável. Pessoas humildes bradando discursos políticos insólitos como se tivessem a mínima noção daquilo que estão falando. Há uma verdadeira guerra de discurso entre esquerda e direita, onde na verdade, esquerda não é exatamente esquerda e direita não é exatamente direita.
Nessa guerra midiática ganha quem grita mais alto, porque a verdade é deixada muitas vezes de lado. Por isso ganha aquele que consegue convencer e tocar o coração dos cidadãos humildes que estão vivendo a sua vida de forma pacata, pouco ou nada interessados nos temas políticos que os rodeiam.
Todos sabemos que para ter uma compreensão mínima e coerente da política é preciso um certo tempo, dedicação e estudo. Com certeza é preciso a leitura dos clássicos que teorizaram sobre os grandes temas, como a formação do Estado, ou a dissolução dele, é preciso entender como se dá exatamente a relação de poder no interior da sociedade. Enfim, são grandes temas e problemas que se desenrolam e se desenvolvem e que precisam ser entendidos em suas peculiaridades e singularidades no interior da formação da sociedade ocidental. No entanto, tudo isso parece que virou fumaça no interior da política brasileira, tudo virou uma questão de opinião.
Esse cenário de apologia a opinião está levando a sociedade há um caos organizacional. Perdemos a noção de lugar próprio e também estamos perdendo a noção dos limites éticos que devem ser seguidos. Um das grandes consequências desse processo é a negação total da opinião do outro. Em um ambiente de difusão de opiniões, qual seria então a verdadeira? A minha, evidentemente! Para afirmar a minha opinião eu tenho que negar a do outro radicalmente tornando-o meu inimigo. Quando outrem tenta impor uma opinião que estranha a minha ele se torna automaticamente um estranho para mim. Estranho significa dizer que ele nunca terá acesso de forma verdadeira as minhas ideias e sentimentos. Estranho significa dizer que ele sempre estará afastado de mim e daquilo que eu sou verdadeiramente, no fundo ele se torna alguém detestável e que de alguma forma merece ser eliminado.
A internet e a difusão das informações puderam concretizar um processo dialético e complicado. Nos anos 90 e início dos anos 2000 poucas pessoas tinham acesso a internet. Geralmente as pessoas que tinham acesso a esses meios de comunicação eram mais instruídas, eram mais jovens, pessoas curiosas com uma formação um pouco maior e mais conscientes. Na época a internet era uma meio de comunicação restrito a universitários, estudantes ou empresários. Enfim, geralmente ela era utilizada para aumentar as informações que já se tinha do mundo e das coisas e esses era o grande objetivo. Hoje a internet está totalmente difundida e é utilizada para entreter e afirmar aquilo que já se acredita. Por isso, quando vejo algo que está em concordância com o que eu penso saio logo divulgando para os quatro cantos sem ao menos me preocupar se aquilo é realmente verdade ou não.
As consequências políticas dessa atitude são gravíssimas, pois daí decorre que se veja apenas duas vertentes no horizonte da política, que são aqueles que concordam mais ou menos com as mesmas coisas que eu concordo e aqueles que não concordam. O espectro da discussão política fica limitado necessariamente a esses dois grupos. É o retorno da visão maniqueísta medieval.
Se o bem está de um lado, o mal está do outro. É claro que essa visão foi em grande parte fortalecida pelas práticas delituosas e corruptas dos políticos brasileiros durante anos. Mas, o poder do discurso é tão grande que as pessoas acabam esquecendo que as duas partes incorreram em atos de corrupção. Se fizermos uma pesquisa minuciosa encontraremos políticos de ambos os espectros envolvidos em casos de corrupção. Encontraremos medidas tomadas por ambos os espectros políticos que são lesivas a sociedade.
Por fim, esse polarização radical só serve para a manutenção do poder dos grandes. Na verdade, é uma polarização planejada e ensaiada para que o poder possa ser exercido de forma tranquila e calma. Assim, todos os desmandos cometidos serão defendidos com unhas e dentes por aqueles que partilham da mesma opinião do governo. Na verdade, a política institucional, nesse ínterim, deixa de ser política e torna-se uma seita, onde tudo pode, desde que afirme veementemente aquilo em que eu acredito. Enquanto não voltarmos para a política, o cenário continuará devastado e insólito.
Fabiano Joaquim da Costa é Mestre em filosofia.