Por que 30% dos homossexuais franceses votaram em madame Le Pen?

Parece que, se os homossexuais ou LGBTs franceses dependerem de Marine Le Pen, não será em seu governo que poderão se casar (e toda aquela pendenga burocrática relevante). No entanto, até 30% deles votaram nela nas últimas eleições. Um paradoxo? Será que são mínions fascistas?? Pobres de direita??

Nein.

Madame Le Pen obteve uma expressiva votação da população LGBT francesa, nas últimas eleições [especialmente entre os mais jovens], porque entre não poder casar e não poder existir, eles preferiram pelo primeiro. É elementar, 10% da população francesa é muçulmana. Pode parecer pouco, mas este percentual é bem maior entre as novas gerações (sem contar os idosos e os adultos). Maiores taxas de fecundidade do que a população outrora cristã, nativa, em combinação com um fluxo constante de imigrantes para o país, e as previsões demográficas mais honestas nos dizem que, se a França não irá se tornar um califado até meados do século XXI, ao menos verá muitos de seus enclaves culturais aumentar significativamente. A mesma esquerda que defende os direitos LGBT, diga-se, à existência e ao respeito, historicamente a única que faz isso, tem contribuído, junto com neoliberais, para o aumento da população imigrante e não apenas na França. E não estamos falando de um fluxo baixo ou controlado e sim de escancarar o máximo possível as fronteiras dos países, especialmente os ricos. Muito recentemente, eu me dei conta do papel importante dos neoliberais, que adoram se esconder na sombra, na promoção dessas políticas de imigração, para reduzir o valor salarial da classe trabalhadora além de dividi-la. Ao invés de estarem sendo organizados para lutar contra os desmandos das elites, os trabalhadores nativos e os imigrantes [importados] são colocados (por muitos filhos das elites) uns contra os outros, fracionando o olhar crítico a quem mais os explora. Eu não sou contra um certo multiculturalismo. Vivendo num país que não tem tido um grande fluxo imigratório recente, me sinto feliz ao ouvir sotaques estrangeiros e ver feições incomuns. Não sou este nacionalista, se está pensando assim. Mas, ''fado'' ponderado/sensato eu sempre busco ser..

Quanto a LGBTs e muçulmanos na França, é fato que não são todos do segundo grupo que nos detestam de modo irracional; detestar grupos de indivíduos por causa de uma de suas identidades, até por existirem LGBTs muçulmanos. Mas, a incapacidade de integração cultural (leia-se, diluir boa parte da cultura dos pais, adotando a cultura do país de nascença ou acolhimento) de muitos muçulmanos franceses, por causa de uma secularização fraca de sua religião e dificuldades econômicas, além de relatos constantes de tentativas de imposição cultural por parte "deles' (pra variar, quase sempre por homens heterossexuais, fonte principal de conflitos humanos), com hostilidade aberta a certos grupos: mulheres emancipadas, nativos franceses e homossexuais, nos mostram que a harmonia das relações sociais parece estar ameaçada e por ambos os extremos (extrema direita alarmada e cada vez mais histérica, e igual extremismo do lado islâmico... se eu falar que em ambos os casos a participação masculina é significativa, fundacional, eu estaria sendo heterofóbico??). Primeiro, nos perguntaríamos por que a Europa, especialmente a ocidental, deveria deixar suas fronteiras escancaradas para a imigração e especialmente a muçulmana?? Se o problema é o envelhecimento da população, não bastaria dar direitos às mulheres nativas para que possam conciliar a maternidade com suas vidas profissionais?? Ou apenas ponderar o número de imigrantes??

Se os países ricos parassem de enviar empresas de sociopatas que abusam de leis ambientais e trabalhistas nos países ''em desenvolvimento'', ou de interferirem negativamente em nossas políticas, será que o fluxo imigratório não diminuiria??

Além de aumentar conflitos e preconceitos em uma sociedade que já tem um histórico desses problemas, como a França, por exemplo, os efeitos desses fluxos imigratórios, dos países mais pobres para os mais ricos, ainda causa ao primeiro grupo a sangria de sua classe mais educada ou um ''brain drain'', tal como se, de repente, a maioria daqueles com especialização qualificada, decidisse sair do Brasil para morar nos EUA... É por isso que estou me interessando em diferenciar as esquerdas, e, por mim mesmo, resgatar uma esquerda verdadeira ou totalmente iluminista e não esta que não parece saber o que está fazendo. Longe de mim ser islamofóbico, mais do que já sou cristofóbico ou religiofóbico, porque, desprezando minha implicância filosófica à qualquer crença desse tipo, todas as culturas têm pontos que se coadunam entre si quanto ao seu valor universalmente ideal, tal como as belas arquiteturas, ocidental [francesa] e muçulmana. Existem trabalhos científicos e culturais ou artísticos de grande importância [e contribuição histórica em eventos fundamentais, por exemplo, a preservação do legado clássico europeu por acadêmicos muçulmanos] que o islamismo e/ou os povos, em especial, do médio oriente, têm proporcionado à humanidade. E eu não serei injusto de não tê-los em vista, até para ponderar minha análise. Mas, aquelas perguntas fundamentais voltam à tona... por que essa imigração, diga-se, constante e volumosa??

Este é mais um exemplo, quase um grito, de como que políticas abraçadas pela esquerda que supostamente melhorariam a qualidade de vida, estão tendo efeitos completamente opostos. Por causa de ideais e até por fatos existenciais, tal como a nossa igualdade universal, a partir de nossas identidades primárias, que já comentei em vários textos [o mais recente é a Moralidade é identidade], mas, mal compreendidos ou aplicados, a esquerda ocidental, herdeira direta do iluminismo, isso quando não desova em ditaduras estúpidas, flerta gravemente com medidas políticas pouco ponderadas e, pior ainda, diga-se, com o teor humilhante de se servir como idiota útil para os neoliberais, que se aproveitam de nossos sensos morais/emocionais arraigados e nos fazem lutar por suas políticas que têm como finalidade, dividir e enfraquecer a população, especialmente a classe trabalhadora, e que ainda por cima nos demoniza perante a mesma.

Não sou contra certo pluralismo cultural ou diversidade étnica, mas sempre contra a falta de ponderação e está claro que deixar um país sempre aberto para a imigração, e sem o consentimento de sua população, não é filosoficamente correto, além de também ser anti-democrático. E, lembrando que, quem mais sofre com essas medidas é justamente a classe que as esquerdas sempre defenderam.

Esta é a verdadeira auto-crítica que todas as esquerdas precisam fazer, para que não continuem a cometer os mesmos erros, vendo a extrema direita crescer e ficando desorientadas, procurando pelas respostas, que, muitas vezes, estarão em si mesmas, pois o outro lado só cresce, quando o cabo de guerra ''deste lado'' enfraquece.

Está claro que a extrema direita, e pra ser sincero, a direita, de maneira geral, sempre abraçou o obscurantismo [se escancarado ou disfarçado com sofisticação superficial], se este é apenas um outro termo para se referir à ela mesma. Mas, não dá mais para ficarmos apáticos quando é a esquerda que faz, e fere ao seu mais derradeiro compromisso, se é que posso chamar o iluminismo, por agora, de esquerda.