Monarquia Republicana?
Nas aulas de História, ainda no Fundamental, ao nos ensinar sobre a configuração política dos tempos do Império, o Professor ressaltou uma frase que jamais saiu da minha mente: "Não existe nada mais conservador do que um liberal no poder, tampouco nada mais liberal do que um conservador no poder.".
Entusiasta da História, e observador da Política, pude observar que quase duzentos anos depois, no Brasil, a essência das coisas continuam as mesmas. A verdade é que, enquanto a população se digladia por valores e ideologias, os nossos estadistas, embora possam ter simpatias ou inclinações para esquerda ou direita, estão bem mais preocupados com o que lhes convém.
E antes que me acusem de ingênuo, não digo, com isso, que noutros países os políticos sejam "anjos de luz", totalmente despretensiosos. Não. Mas o que os diferencia dos nossos, num contexto geral, é que se vê uma relativa preocupação com as responsabilidades do cargo - o que é respaldado por um sistema de reprimenda bem aparelhado e eficaz - ao passo que, por aqui, encara-se tal mister como extensão da própria casa, como se as atribuições que democraticamente lhes foram confiadas a eles pertencessem e com elas podem fazer aquilo que bem entendem. Na prática, é como se vivêssemos numa Monarquia Republicana, na qual há eletividade e teórica alteração de governantes, mas uma vez empossados, não se fala em coisa pública, mas sim na de quem "tem a caneta" com mais poder, mesmo que seja uma simples BIC.
Nesse sentido, amarguei uma decepção com o Presidente Jair Bolsonaro. Embora não tenha votado nele, uma vez eleito, realmente torcia para que ele fosse o "novo", tão alardeado pelo próprio durante o período eleitoral. Não demorou, contudo, para que se mostrasse mais do mesmo. E embora pudesse suscitar diversos argumentos para embasar a minha posição, me atenho, por ora, à maneira como o Presidente lida com os bens públicos.
Justo ele, que tanto falava de responsabilidade administrativa, nunca explicou direito toda a história do Queiroz; com os arroubos do Eduardo, quis que a população engolisse o "Já adverti o garoto", como se o Deputado de 35 anos fosse uma criança que faz traquinagens na casa dos vizinhos. Aliás, o "garoto", que usou o avião da FAB como um jatinho particular para levar os familiares ao casamento, pediu ao papai para nomeá-lo embaixador do Brasil nos Estados Unidos, ainda que com um currículo mediano, e inglês precário - ao meu ver, um tapa na cara dos candidatos à diplomacia no Itamaraty, os quais passam anos batalhando para passar numa prova extremamente complexa. E esses são apenas alguns exemplos de como o Presidente, e todo o clã se comportam perante a coisa pública.
Aquilo a que Bobbio chamou de patrimonialismo, raiz das corrupções, permeia a nossa história, e permanece mais viva do que nunca. De fato, não é "privilégio" do atual Presidente comportar-se assim com o bem do povo, pois ao longo dos anos, nos três Poderes, bem como nos três âmbitos da Federação, isso é algo patente. Mas é exatamente isto o que temos a lastimar: até agora, tudo continua "farinha do mesmo saco".