Todos contra Trump em 2020
A corrida eleitoral de 2020 será a mais longa, disputada e imprevisível desde 1992. Naquele ano, George Bush tentou a reeleição contra Bill Clinton. Havia recessão no país e a famosa frase “é a economia, estúpido” do marqueteiro democrata marcou a eleição. Dois fatores influenciaram o resultado: o presidente aumentou impostos (descumprindo promessa de campanha) e a presença do bilionário Ross Perot, como terceiro candidato (nos debates), que tirou muitos votos do presidente.
Nas últimas cinco décadas, apenas três presidentes perderam a disputa ao tentar a reeleição. Em 1976, Gerald Ford foi derrotado por Jimmy Carter. Em 1980, Jimmy Carter perdeu para Ronald Reagan. Em 1992, George Bush foi vencido por Bill Clinton. Nas três ocasiões, o presidente enfrentou forte oposição interna e divisão dentro do partido. Em 1976, Gerald Ford enfrentou Ronald Reagan pela indicação republicana. Em 1980, Jimmy Carter disputou a indicação democrata com Ted Kennedy. Em 1992, George Bush enfrentou Pat Buchanan pela indicação republicana.
Sem oposição dentro do partido e com consenso em torno do presidente, o partido pode não realizar eleições primárias se ninguém o desafiar, como foi o caso de Barack Obama em 2012. As primárias ocorrem durante o primeiro semestre do ano da eleição presidencial. Os candidatos se apresentam e fazem campanha pelos estados americanos, com o objetivo de conseguir mais votos e mais delegados. A força eleitoral é testada, assim como a capacidade de atrair apoiadores e conseguir doações para a disputa das primárias. Quando um candidato consegue a metade mais um do total de delegados na convenção do partido, ele automaticamente obtém a indicação para disputar a presidência do país.
Em 2020, o presidente Donald Trump disputará a reeleição, mas ainda não está claro se haverá uma forte divisão interna a ponto de alguém desafiá-lo para as primárias republicanas. Do outro lado, há quase duas dezenas de candidatos para as primárias democratas. O destaque é a presença feminina com quatro senadoras: Amy Klobuchar (Minnesota), Elizabeth Warren (Massachusetts), Kamala Harris (Califórnia) e Kirsten Gillibrand (Nova York). Há ainda a deputada Tulsi Gabbard (Havaí) e a escritora Marianne Williamson (Texas). Do lado masculino, os destaques são o senador Bernie Sanders (Vermont) e o ex-senador Joe Biden (vice-presidente de Barack Obama).
Em 2016, Donald Trump derrotou Hillary Clinton na eleição indireta no Colégio Eleitoral, mesmo perdendo na votação popular. O mesmo já tinha ocorrido, em 2000, na eleição de George W. Bush contra Al Gore. Antes disso, o fato havia ocorrido três vezes no século 19. O Colégio Eleitoral é formado por 538 eleitores que representam os 50 estados americanos e, por carta, enviam os votos. Estes são contados em 6 de janeiro. Para ser eleito, o candidato necessita de 270 votos. Com exceção dos estados do Maine e Nebraska (onde há proporcionalidade), o vencedor leva todos os votos nos demais estados (independente da margem da vitória). Portanto, é possível ocorrer a distorção de um candidato ter mais votos populares, mas ser derrotado na eleição indireta no Colégio Eleitoral.
A derrota de Hillary Clinton impulsionou uma forte presença de mulheres nas eleições de metade do mandato em 2018. Na Câmara dos Representantes, a presença feminina chegou a 92 deputadas eleitas. Para as eleições primárias de 2020, há seis mulheres na disputa pela presidência. Os democratas estão todos contra Trump, mas enfrentam um dilema. O tom machista e misógino do presidente é tão gritante que ele ataca a senadora Elizabeth Warren, por redes sociais, perguntando se o psicólogo dela já a preparou para a derrota. Uma segunda derrota feminina seguida seria ainda mais dolorosa, diante da arrogância do presidente.
As primárias democratas serão eletrizantes com amplos debates. Há anseio de renovação e de mudança geracional. Do ponto de vista de Joe Biden (76 anos) e Bernie Sanders (77 anos), eles apenas teriam chance se assumissem compromisso de mandato único e, assim, apoiar o vice-presidente para as eleições de 2024. A chapa com uma mulher poderia impulsionar os democratas, pois daria horizonte claro para a próxima década. O eixo do debate seria direcionado para questões como Medicare para Todos, New Deal Verde (agenda contra mudança climática) e universidade gratuita para todos.